quarta-feira, 18 de maio de 2016

Crítica - Vizinhos 2



Assisti o primeiro Vizinhos (2014) sem muitas expectativas e acabei me surpreendendo com uma comédia despretensiosa e divertida, mas confesso que também não esperava muita coisa de sua continuação e mais uma vez saí satisfeito da sala de cinema.

A trama se passa alguns anos depois do primeiro filme. O casal Mac (Seth Rogen) e Kelly (Rose Byrne, a Moira de X-Men: Apocalipse) está esperando mais uma filha e decide vender a casa e comprar uma nova e maior. Antes dos compradores fecharem o negócio, no entanto, há um prazo de trinta dias no qual eles podem desistir da compra e nesse meio tempo a casa ao lado mais uma vez passa a abrigar uma fraternidade universitária. Dessa vez é fraternidade feminina liderada por Shelby (Chloe Moretz) que decide criar uma república desvinculada do sistema universitário dos Estados Unidos, já que este não permite que as fraternidades femininas realizem festas ou distribuam bebidas alcoólicas, restringindo isso às fraternidades masculinas (e isso acontece de verdade, por mais absurdo que pareça). Para conseguir seu objetivo, a jovem consegue a ajuda de Teddy (Zac Efron) o líder da fraternidade do filme anterior que tem contas a acertar com o casal da casa ao lado. Assim, Mac e Kelly vão tentar manter às vizinhas sob controle para não afastar os compradores, o que obviamente inicia uma nova disputa com a casa ao lado.

Por um instante temi que fosse mais do mesmo, apenas trocando os rapazes do filme anterior por garotas, mas o filme consegue usar as novas personagens para fazer algo mais e satirizar as políticas sexistas das universidades dos Estados Unidos, bem como o duplo julgamento que é utilizado em homens e mulheres. Quando Shelby e suas amigas decidem ir à sua primeira festa em uma fraternidade masculina, encontram uma "vibe de estupro" no local, com direito a faixas com os dizeres "Não significa sim", bebidas batizadas com calmantes e homens que falam com elas sem sequer olhar nos olhos, se comportando como as jovens tivessem obrigação de ir para cama com eles. Se isso parece muito absurdo ou caricato, aconselho que assistam o documentário The Hunting Ground (2015), que inclusive está disponível no Netflix, que mostra como os comportamentos retratados aqui são lamentavelmente reais.

Além disso, o filme também brinca como algumas coisas são aceitáveis para homens, mas repreensíveis para mulheres, usando o humor para fazer pensar sobre questões de igualdade, mesmo que seja sobre pegadinhas escatológicas. Quando as garotas jogam absorventes na casa de Mac, Teddy imediatamente as repreende dizendo que aquilo é nojento. Shelby imediatamente questiona porque a ação delas é considerada de mau gosto, sendo que se ele e os amigos arremessassem consolos no casal isso seria considerado engraçado e Teddy, obviamente não tem uma resposta e se dá conta de que é apenas uma convenção social que determina que homens agindo de modo imaturo é engraçado enquanto que mulheres fazendo o mesmo seria considerado degradante, quando não há diferença no ato em si. 

O roteiro acerta em não vilanizar nem o casal protagonista e nem as universitárias, diferente do primeiro filme no qual o personagem de Zac Efron praticamente se torna um vilão no terceiro ato. Afinal, apesar de inconsequentes e intransigentes (como qualquer jovem dessa idade) as garotas não são exatamente maldosas em suas ações e criam a fraternidade para tentar corrigir uma injustiça, do mesmo modo que Mac e Kelly apenas estão tentando não tomar prejuízo com a venda da casa e não exatamente motivados pelo prazer ou crueldade em prejudicar as estudantes.

O filme mantém o humor físico e o pastelão do anterior, em especial envolvendo Mac e Teddy, mas também com as calouras da fraternidade, que são literalmente transformadas em Minions, embora muitas parecem repetir algumas coisas que já vimos antes. Temos, por exemplo, mais uma gag envolvendo air bags e também mais uma cena envolvendo imitação de celebridades, dessa vez por parte das universitárias da nova fraternidade. Mesmo que as piadas continuem a fazer rir, graças ao carisma e sinergia do elenco, fica a impressão de que muita coisa foi simplesmente reciclada. Do mesmo modo, muitas cenas cômicas parecem desconectadas da narrativa, funcionando quase como esquetes soltos, e dão um tom episódico à trama.

Essa continuação tem um problema similar ao de seu antecessor, já que conforme as disputas se acirram entre a fraternidade e o casal, fica difícil de crer que os demais vizinhos não chamem a polícia em momento nenhum. Afinal é um típico e pacato subúrbio estadunidense e as festas enormes das garotas, além de algumas outras pegadinhas, dificilmente passariam incólumes em um ambiente como esse. O primeiro filme ainda mostrava os estudantes angariando simpatia da vizinhança, o que atenuava um pouco a falta de consequência para algumas coisas, mas nesse daqui isso não acontece.

Rogen, Byrne e Efron continuam exibindo um ótimo timing cômico juntos, mas Chloe Moretz consegue se integrar com naturalidade no grupo e todos são beneficiados pelo fato de que há um crescimento e aprendizado real em seus personagens. Efron, aliás, continua ótimo ao compor um personagem completamente estúpido e sem noção com humanidade suficiente para evitar que ele soe como uma caricatura aborrecida.

Vizinhos 2 surpreende pelo seu comentário mordaz sobre sexismo e igualdade de gênero, trazendo um pouco mais de substância a um produto que de outro modo seria apenas um divertido besteirol e elevando-o em relação ao seu antecessor.


Nota: 7/10

Trailer:


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