quarta-feira, 15 de junho de 2016

Crítica - Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo



Quando foi anunciado um filme biográfico sobre o famoso lutador de MMA José Aldo, temi que o resultado fosse similar a outro filme biográfico sobre um lutador, o tenebroso A Grande Vitória (2012). Felizmente ele passa longe de ser tão desastroso, mas alguns problemas de roteiro e escolhas de elenco o impedem de atingir seu potencial.

O filme acompanha a história do lutador José Aldo (José Loreto), de sua juventude humilde em Manaus à sua ida para o Rio de Janeiro e seu início como lutador profissional no universo do MMA. É uma biografia esportiva bem tradicional que trata de todos os temas que já vimos abordados em filmes sobre lutadores (reais ou não) como a importância de saber lidar com o fracasso, superar limites, vencer traumas internos e o uso da velha técnica "Rocky Balboa" de se deixar bater para cansar o adversário. Eu nem preciso ir longe para lembrar de produtos que já trataram tudo isso muito bem, tal qual o recente Creed: Nascido Para Lutar ou mesmo Nocaute (2015) e Guerreiro (2011). Nesse sentido, Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo se esforça muito pouco para ir além dos lugares-comuns e clichês que esse tipo de filme estabeleceu.


A única aposta em fazer algo diferente é quando o filme tenta uma abordagem mais psicológica ao colocar Aldo para dialogar com uma espécie de "amigo imaginário" (Romulo Neto) que representa seu "lado sombrio", funcionando basicamente como o Tyler Durden de Clube da Luta. Esse ideia poderia render um estudo de personagem bastante interessante ao nos mergulhar em seu universo psicológico, mas o filme jamais se compromete com ela, usando-a bastante no início do filme, esquecendo-a completamente no meio e depois retornando a ela no terceiro ato. Assim, um material promissor acaba sendo usado de modo raso e inconsistente. Isso ainda é piorado pelo desempenho sofrível de Rômulo Neto, que pesa tanto a mão em sua "cara de bad boy" que soa exageradamente forçado, transformando momentos que deveriam ter peso dramático em momentos de humor acidental.

José Loreto traz bastante intensidade a Aldo, um homem que tem consciência da raiva e agressividade que tem dentro de si, mas que não sabe exatamente como lidar com isso. Já Jackson Antunes, que vive o pai de Aldo consegue conferir humanidade a um personagem que poderia facilmente descambar em uma caricatura rasteira. Não que eu tenha qualquer simpatia por seu personagem, um alcoólatra abusivo que bate na esposa, mas Antunes nos permite ver que há um ser humano cheio de contradições ali, criando uma relação bastante complexa. Por outro lado, Cláudia Ohana é desperdiçada como a mãe de Aldo, já que a trama raramente dá espaço a ela, o que é bastante incômodo já que ela é a figura mais fragilizada da família do lutador (e vítima constante dos abusos do pai), mas isso é tratado apenas superficialmente.

Cleo Pires tem pouco a fazer como o interesse romântico de Aldo, principalmente quando o relacionamento se concretiza e ela é reduzia ao clichê da "namorada megera e reclamona", fazendo sua presença soar como um estorvo para o lutador mesmo quando ela tem razão no que diz. Rafinha Bastos faz uma breve participação como o típico "amigo engraçadinho", mas suas piadas nem sempre funcionam. Quem surpreende mesmo é Paulo Zulu, como o professor de Jiu-Jitsu de Aldo em Manaus. É uma participação pequena, mas o ator e ex-modelo passa bastante credibilidade e autoridade como o mestre de artes marciais e quem lembra de suas interpretações robóticas em telenovelas vai perceber aqui um salto quântico em sua interpretação.

A música original usada no filme é na maioria das vezes muito exagerada e intrusiva, interferindo na ação ao invés de acrescentar algo, mesmo que por contraposição a ela. O filme se sai um pouco melhor no seu uso de músicas não-originais, em especial quando se apropria de um dos temas de Era Uma Vez no Oeste (1968), do mestre Ennio Morricone (que inclusive compôs a música do recente Os Oito Odiados do Tarantino), para convocar a tensão e grandiosidade da primeira luta profissional de Aldo. Nem sempre, no entanto, as músicas não-originais funcionam, como o uso de uma canção de Gal Costa para o flerte entre Aldo e Vivi (Cleo Pires) durante uma sessão de sparring, já que a canção parece deslocada em relação ao embate dos dois.

O diretor Afonso Poyart (de Dois Coelhos) confere bastante energia e dinamismo às cenas de luta, que são bem coreografadas e bem montadas, em especial uma briga em uma lanchonete, que apesar de longa e caótica nunca perdemos a compreensão do que está acontecendo. O diretor usa de constantes movimentos de câmera e mudanças de foco para tentar transmitir o sentimento de sobrecarga sensorial de estar em meio a uma luta. Aqui e ali as invencionices do diretor soam excessivas ou desnecessárias, como o uso de uma câmera na corda de pular do protagonista durante um treinamento, que parece não servir a nenhum propósito além de parecer diferente e estiloso, mas em geral sua condução é bastante consistente.

No fim, mesmo com as boas cenas de luta Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo acaba prejudicado por um texto que faz pouco para ir além dos lugares-comuns desse tipo de filme e algumas escolhas inconsistentes, se mostrando um retrato raso de José Aldo.


Nota: 5/10

Trailer:

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