terça-feira, 5 de julho de 2016

Crítica - A Era do Gelo: O Big Bang



Quinze anos depois de seu primeiro filme e quatro continuações depois, fica a sensação de que a franquia A Era do Gelo não tem mais para onde ir criativamente. Este quinto filme tenta disfarçar sua falta de ideias com o excesso de personagens, mas nem consegue nos distrair do estado de esgotamento em que está este universo.

A história começa quando o esquilo Scrat, em sua interminável busca por uma noz, encontra acidentalmente um disco voador (que está ali por estar ali e pronto), vai para o espaço e coloca um meteoro em rota de colisão com a terra. Agora Manny, Sid, Diego e seus companheiros precisam dar um jeito de lidar com a ameaça.

Os filmes A Era do Gelo sempre pareciam colocar o humor e as gags cômicas em primeiro lugar em relação à história, mas havia uma doçura e um ingenuidade envolvendo a jornada desses personagens que fazia tudo funcionar. Aqui isso não acontece, já que mesmo a jornada emocional de Manny em aceitar que a filha vai casar e deixar o lar, além de ser uma reprodução do clichê desgastado da "síndrome do ninho vazio", se perde entre uma infinidade de personagens que entram a todo momento em cena, mas tem pouco a acrescentar.

Além do trio principal e suas respectivas esposas, filhos e familiares, temos também o retorno da doninha Buck do terceiro filme e a introdução de um trio de vilões, levando o número de personagens para a cada da dúzia, mas o filme não consegue fazer nada realmente interessante com eles. È como se os realizadores tivessem consciência de que o fiapo de trama (a viagem para deter o meteoro) não era suficiente para encher noventa minutos de filme e decidiram enfiar o máximo de personagens possível na esperança de que o público percebesse que não há nada acontecendo. Sim, pois apesar de ser uma típica trama envolvendo uma corrida contra o tempo para deter uma ameaça, não há senso de urgência ou de perigo. O fim do mundo está próximo, mas a trama caminha a passos de tartaruga e, pior, não consegue nem fazer muita coisa realmente engraçada com isso.

Tirando o início com Scrat esbarrando nos planetas e a cena em que ele acidentalmente aumenta a gravidade do disco voador, há pouco de efetivamente criativo ou engraçado acontecendo. Algumas referências pop são jogadas à esmo na tela, a exemplo de uma menção ao final do clássico Planeta dos Macacos (1968) ou uma cena em que Buck canta uma paródia da ópera "O Barbeiro de Sevilha", mas é como se o filme esperasse nossos risos apenas por reconhecer essas referências e não porque ele as usa de uma maneira interessante. A única que funciona é a cena com os personagens caminhando em câmera lenta em meio à neblina ao som de uma música épica que faz referência à caminhada dos astronautas em Armageddon (1998).

De resto o roteiro segue uma série de desenvolvimentos gratuitos com um lógica de deus ex machina, no qual as coisas acontecem simplesmente porque alguma coisa (qualquer coisa) precisa acontecer para não manter a situação estagnada. Os desenvolvimentos vem do nada, como momento Scrat acidentalmente joga uma tempestade elétrica em cima dos personagens ou quando Buck adota uma abóbora como filha (que não só é totalmente gratuito e sem sentido, como não faz a menor diferença para a trama) ou a comunidade hippie encontrada dentro dos restos do primeiro meteoro. Não há na trama um senso de coesão ou encadeamento causal das situações, apenas uma série de ideias jogadas na tela sem qualquer cuidado.

Há um grande apuro visual e as texturas e pelos dos personagens se movimentam de modo bastante realista. O 3D também é utilizado com certa competência, dando a sensação de que podemos estender a mão e acariciar o esquilo Scrat. Sem uma trama ou humor que sustente isso, no entanto, o filme se torna um entediante exercício de paciência no qual você começa a torcer para o meteoro chegar de uma vez e acabar tudo.

Com A Era do Gelo: O Big Bang o estúdio Blue Sky chuta o proverbial cachorro morto e mostra que não há praticamente mais nada a ser dito ou feito com a franquia. A trama vazia e o humor sem energia ou criatividade revelam o esgotamento das ideias e, sejam crianças ou adultos, há muito pouco a ser aproveitado aqui.


Nota: 3/10

Trailer:

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