Tive uma relação esquisita com
esse The Technomancer, RPG de ação
criado pela desenvolvedora Spiders (de Bound
by Flame). Por um lado eu conseguia identificar nele uma série de problemas
em vários aspectos do produto, por outro eu simplesmente perdia a noção do tempo em
busca de "mais uma quest"
ou "só até subir mais um nível" (e dificilmente parava por aí).
Assim, mesmo com muitos problemas, confesso que o game realmente me manteve
engajado e interessado ao longo das cerca de 30 horas da campanha.
A trama se passa em um futuro no
qual o planeta Marte foi colonizado pela terra por conta de seus recursos
naturais. Com as dificuldades do ambiente marciano, a Terra abandonou as colônias
e seus habitantes passaram séculos vivendo à mercê das corporações extratoras
de água, já que eles controlam o mais essencial e escasso dos recursos do
planeta vermelho e governam suas cidades. No centro de tudo está o technomancer
Zachariah, uma espécie de mago tecnológico com poderes elétricos, que descobre
os segredos ocultos de sua ordem e recebe a tarefa de usar seu conhecimento
para tentar contatar a Terra e por um fim à guerra civil entre as corporações
de água.
O game tem uma história bem
interessante, com diferentes grupos disputando o controle dos recursos de Marte
e até mesmo algumas reviravoltas que me pegaram de surpresa. A ambientação é
uma mistura de Mass Effect (mas com
uma pegada mais cyberpunk) com Mad Max, misturando as cidades
futuristas com enormes desertos habitados por mutantes deformados por causa da
radiação da atmosfera marciana. O design
de criaturas também é competente criando uma série de monstros bizarros que
realmente parecem coisas de outro mundo.
Diante de tudo isso é uma pena
que o game apresente tantos problemas na apresentação de seu universo e sua
história. Os efeitos de luz e sombra são cheios de serrilhados, algumas
texturas de superfícies e materiais são pobres e as animações faciais dos personagens
são bem esquisitas, mais parecendo um jogo da geração anterior. Além disso o
trabalho apático de dublagem por vezes prejudica o engajamento com os
personagens.
O game te dá várias escolhas ao
longo da narrativa, permitindo ao personagem aumentar ou diminuir suas relações
com as diferentes facções que habitam Marte, mas as alianças formadas
influenciam pouco no andamento da história. Praticamente só a escolha final,
depois da tentativa de contato com a Terra, é que impacta no desfecho e no
universo do jogo. É possível também ganhar ou perder reputação com os aliados
que Zachariah encontra ao longo de sua jornada, mas isso se restringe a algumas
missões e momentos chave, diferente, por exemplo, do que acontecia em Dragon Age: Inquisition no qual toda e
qualquer decisão refletia no modo como os aliados viam seu protagonista. Assim
como acontece em outros RPGs recentes, também é possível desenvolver
relacionamentos amorosos com alguns de seus companheiros.
O combate é veloz e brutal,
lembrando um pouco The Witcher 3, no
qual o jogador precisa estar constantemente em movimento, alternando seus
golpes com esquivas, bloqueios e suas habilidades mágicas de technomancer para
sobreviver aos confrontos. Os inimigos causam dano alto, tipo Dark Souls alto, então ir de peito
aberto para cima dos oponentes dificilmente é uma opção. Zachariah dispõe de
três estilos diferentes de combate: o bastão, que permite ataques que atingem
uma área ampla ao redor do personagem, a adaga e pistola, que fornece alta
mobilidade e ataques à distância, e a maça com escudo, que dá um alto potencial
defensivo.
O jogador pode alternar rapidamente entre qualquer um dos três estilos durante uma luta, mas é aconselhável que o jogador foque em um deles conforme o personagem sobe de nível. A única coisa que atrapalha o combate é o modo como a câmera se movimenta e ocasionalmente fica presa em alguns cantos do cenário, algo que acontece principalmente em ambientes apertados, gerando alguns problemas e ocasionais mortes por não conseguir ver completamente o que está acontecendo.
O jogador pode alternar rapidamente entre qualquer um dos três estilos durante uma luta, mas é aconselhável que o jogador foque em um deles conforme o personagem sobe de nível. A única coisa que atrapalha o combate é o modo como a câmera se movimenta e ocasionalmente fica presa em alguns cantos do cenário, algo que acontece principalmente em ambientes apertados, gerando alguns problemas e ocasionais mortes por não conseguir ver completamente o que está acontecendo.
Ao subir de nível o personagem
recebe pontos para distribuir em suas árvores de habilidade. Há uma para cada
um dos três estilos de combate e outra para os poderes de technomancer de Zachariah,
cada uma delas oferecendo novos ataques e habilidades passivas, fornecendo uma
quantidade enorme de opções para desenvolver o personagem. É possível também
melhorar os atributos que dão diferentes bônus. Como eles determinam os
equipamentos que o protagonista pode usar, é preciso estar atento para aumentar
os valores relacionados com o estilo de combate escolhido. Ou seja, se você
escolheu priorizar o combate com adaga e pistola, é preciso investir no
atributo de agilidade para poder ter acesso às melhores armas desse estilo.
O protagonista também tem acesso
a perícias como persuasão, arrombar fechaduras, furtividade ou criação de
equipamentos. Algumas são mais úteis que outras, em especial a de arrombamento
e criação de itens, qualquer que seja seu build
é aconselhável colocar alguns pontos nela. Diante de tantas opções para
desenvolver o personagem, chama a atenção a falta de algum recurso ou item que
permita redistribuir os pontos, já que isso ampliaria as possibilidades de
experimentação, bem como a correção de algumas escolhas erradas no uso dos
pontos.
O jogo ainda tem um sistema
bastante robusto de customização de itens. Cada arma ou peça de armadura possui
diferentes partes que podem ser customizadas oferecendo desde aumento de dano
ou defesa, a resistência a determinados ataques elementais (como eletricidade
ou veneno) ou aumento da chance de dano crítico, além de alterar o visual dos
itens. As múltiplas opções ajudam a tornar cada peça de equipamento
verdadeiramente única.
Assim, The Technomancer é um RPG de ação cheio de boas ideias, mas falta
polimento em sua execução. O bom sistema de combate, as muitas opções de customização
e o universo interessante podiam render algo realmente memorável, mas o
desenvolvimento superficial de algumas mecânicas, bem como os problemas
gráficos e de áudio acabam prejudicando a experiência.
The Technomancer está disponível para PS4, Xbox One e PC.
Obs: O texto foi feito a partir da versão de PS4 do jogo.
Nota: 6/10
Trailer:
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