sexta-feira, 8 de julho de 2016

Crítica - The Technomancer

Análise The Technomancer


Review The Technomancer
Tive uma relação esquisita com esse The Technomancer, RPG de ação criado pela desenvolvedora Spiders (de Bound by Flame). Por um lado eu conseguia identificar nele uma série de problemas em vários aspectos do produto, por outro eu simplesmente perdia a noção do tempo em busca de "mais uma quest" ou "só até subir mais um nível" (e dificilmente parava por aí). Assim, mesmo com muitos problemas, confesso que o game realmente me manteve engajado e interessado ao longo das cerca de 30 horas da campanha.

A trama se passa em um futuro no qual o planeta Marte foi colonizado pela terra por conta de seus recursos naturais. Com as dificuldades do ambiente marciano, a Terra abandonou as colônias e seus habitantes passaram séculos vivendo à mercê das corporações extratoras de água, já que eles controlam o mais essencial e escasso dos recursos do planeta vermelho e governam suas cidades. No centro de tudo está o technomancer Zachariah, uma espécie de mago tecnológico com poderes elétricos, que descobre os segredos ocultos de sua ordem e recebe a tarefa de usar seu conhecimento para tentar contatar a Terra e por um fim à guerra civil entre as corporações de água.

O game tem uma história bem interessante, com diferentes grupos disputando o controle dos recursos de Marte e até mesmo algumas reviravoltas que me pegaram de surpresa. A ambientação é uma mistura de Mass Effect (mas com uma pegada mais cyberpunk) com Mad Max, misturando as cidades futuristas com enormes desertos habitados por mutantes deformados por causa da radiação da atmosfera marciana. O design de criaturas também é competente criando uma série de monstros bizarros que realmente parecem coisas de outro mundo.

Diante de tudo isso é uma pena que o game apresente tantos problemas na apresentação de seu universo e sua história. Os efeitos de luz e sombra são cheios de serrilhados, algumas texturas de superfícies e materiais são pobres e as animações faciais dos personagens são bem esquisitas, mais parecendo um jogo da geração anterior. Além disso o trabalho apático de dublagem por vezes prejudica o engajamento com os personagens.

O game te dá várias escolhas ao longo da narrativa, permitindo ao personagem aumentar ou diminuir suas relações com as diferentes facções que habitam Marte, mas as alianças formadas influenciam pouco no andamento da história. Praticamente só a escolha final, depois da tentativa de contato com a Terra, é que impacta no desfecho e no universo do jogo. É possível também ganhar ou perder reputação com os aliados que Zachariah encontra ao longo de sua jornada, mas isso se restringe a algumas missões e momentos chave, diferente, por exemplo, do que acontecia em Dragon Age: Inquisition no qual toda e qualquer decisão refletia no modo como os aliados viam seu protagonista. Assim como acontece em outros RPGs recentes, também é possível desenvolver relacionamentos amorosos com alguns de seus companheiros.

O combate é veloz e brutal, lembrando um pouco The Witcher 3, no qual o jogador precisa estar constantemente em movimento, alternando seus golpes com esquivas, bloqueios e suas habilidades mágicas de technomancer para sobreviver aos confrontos. Os inimigos causam dano alto, tipo Dark Souls alto, então ir de peito aberto para cima dos oponentes dificilmente é uma opção. Zachariah dispõe de três estilos diferentes de combate: o bastão, que permite ataques que atingem uma área ampla ao redor do personagem, a adaga e pistola, que fornece alta mobilidade e ataques à distância, e a maça com escudo, que dá um alto potencial defensivo.

O jogador pode alternar rapidamente entre qualquer um dos três estilos durante uma luta, mas é aconselhável que o jogador foque em um deles conforme o personagem sobe de nível. A única coisa que atrapalha o combate é o modo como a câmera se movimenta e ocasionalmente fica presa em alguns cantos do cenário, algo que acontece principalmente em ambientes apertados, gerando alguns problemas e ocasionais mortes por não conseguir ver completamente o que está acontecendo.

Ao subir de nível o personagem recebe pontos para distribuir em suas árvores de habilidade. Há uma para cada um dos três estilos de combate e outra para os poderes de technomancer de Zachariah, cada uma delas oferecendo novos ataques e habilidades passivas, fornecendo uma quantidade enorme de opções para desenvolver o personagem. É possível também melhorar os atributos que dão diferentes bônus. Como eles determinam os equipamentos que o protagonista pode usar, é preciso estar atento para aumentar os valores relacionados com o estilo de combate escolhido. Ou seja, se você escolheu priorizar o combate com adaga e pistola, é preciso investir no atributo de agilidade para poder ter acesso às melhores armas desse estilo.

O protagonista também tem acesso a perícias como persuasão, arrombar fechaduras, furtividade ou criação de equipamentos. Algumas são mais úteis que outras, em especial a de arrombamento e criação de itens, qualquer que seja seu build é aconselhável colocar alguns pontos nela. Diante de tantas opções para desenvolver o personagem, chama a atenção a falta de algum recurso ou item que permita redistribuir os pontos, já que isso ampliaria as possibilidades de experimentação, bem como a correção de algumas escolhas erradas no uso dos pontos.

O jogo ainda tem um sistema bastante robusto de customização de itens. Cada arma ou peça de armadura possui diferentes partes que podem ser customizadas oferecendo desde aumento de dano ou defesa, a resistência a determinados ataques elementais (como eletricidade ou veneno) ou aumento da chance de dano crítico, além de alterar o visual dos itens. As múltiplas opções ajudam a tornar cada peça de equipamento verdadeiramente única.

Assim, The Technomancer é um RPG de ação cheio de boas ideias, mas falta polimento em sua execução. O bom sistema de combate, as muitas opções de customização e o universo interessante podiam render algo realmente memorável, mas o desenvolvimento superficial de algumas mecânicas, bem como os problemas gráficos e de áudio acabam prejudicando a experiência.

The Technomancer está disponível para PS4, Xbox One e PC.

Obs: O texto foi feito a partir da versão de PS4 do jogo.

Nota: 6/10

Trailer:

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