Quando escrevi sobre Batman vs Superman: A Origem da Justiça,
falei que torcia para que este Esquadrão
Suicida finalmente entregasse um filme que consolidasse o universo DC nos
cinemas e gerasse o consenso que os dois divisivos filmes de Zack Snyder nesse
universo não conseguiram. Infelizmente ainda não é aqui que a Warner vai
conseguir unir todos em torno de seu universo cinematográfico, já que além de
repetir muitos dos erros de Batman vs
Superman, o filme ainda apresenta vários outros problemas.
A trama começa depois dos
acontecimentos envolvendo Superman e Batman, com Amanda Waller (Viola Davis)
sugerindo a criação de uma força-tarefa de supercriminosos para lidar com
ameaças meta-humanas agora que o Superman não está mais por perto. Com a ajuda
do soldado Rick Flag (Joel Kinnaman), Waller monta um time formado por vilões
como o Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue
(Jai Courtney) e outros. Quando uma poderosa entidade ameaça destruir uma
cidade inteira, cabe ao grupo de vilões salvar o dia.
Assim como aconteceu com Batman vs Superman e também em alguns
filmes da Marvel como Homem de Ferro 2 (2010)
ou Vingadores: Era de Ultron (2015),
um dos principais problemas é que o filme parece mais interessado em
desenvolver as possibilidades para futuros filmes do que do próprio filme em
si. Assim um tempo enorme é gasto para deixar ganchos para os futuros filmes da
DC como as aventuras solo do Batman, do Flash e a Liga da Justiça enquanto a
narrativa presente vai ficando em segundo plano. O resultado é um filme
altamente picotado, com uma montagem grosseira que vai pulando rapidamente de
uma cena para outra enquanto tenta costurar uma profusão de diálogos
expositivos que tentam rapidamente dar conta da enorme quantidade de
personagens a serem apresentados pela narrativa.
A trama é simples, o típico
formato "vilão x toma uma cidade e tenta construir um dispositivo genérico
de destruição global", mas o texto tenta a todo momento enfiar ainda mais
e mais elementos para prolongar desnecessariamente algo que deveria ser bem
direto, enchendo o filme de flashbacks
que nos dizem informações que já sabemos (ou podemos facilmente deduzir) e
subtramas que não levam a lugar nenhum. Toda a subtrama envolvendo o Coringa
(Jared Leto), por exemplo, não tem nenhum peso na trama e seria melhor se a
participação dele se resumisse à última cena dele no filme e talvez a do início
que mostra Arlequina sendo presa.
O início parece promissor, com a
condução irreverente de David Ayer investindo no humor, colocando os vilões
para trocarem frases de efeito divertidas e usando canções pop com certa ironia, como o uso de Sympathy for the Devil dos Rolling Stones em uma das primeiras
cenas de Amanda Waller. A questão é que a partir do momento em que a equipe
parte para a missão tudo perde um pouco do fôlego e se torna um filme genérico de
super-herói, com todos os lugares comuns que estamos mais do que acostumados
neste tipo de filme e reviravoltas que podem ser previstas a quilômetros de
distância.
O que nos mantêm interessados
mesmo quando tudo se torna previsível é o carisma de alguns personagens e as interações divertidas entre eles, em
especial a Arlequina de Margot Robbie, que é tão hiperativa, instável e
divertida quanto se espera. Robbie ainda traz uma certa pontada de melancolia à
personagem, quase como se no fundo houvesse nela um certo arrependimento por
não poder levar uma vida normal. Viola Davis (a Annalise da série How to Get Away With Murder) traz com
perfeição a personalidade implacável, resoluta e maquiavélica de Amanda Waller,
uma mulher sem qualquer poder ou habilidade especial, mas é capaz de intimidar
vilões poderosos. Quando ela está em cena todos ao seu redor se apequenam. Ela
é tão boa que ao fim o filme até força a barra para mantê-la viva, mesmo não
fazendo muito sentido que ela tenha sobrevivido ao que a vilã lhe fez (e que
não é exatamente bem explicado). O fato dos personagens fazerem piada com o
fato dela continuar viva não torna a situação mais perdoável.
Cara Delevigne se esforça como a
vilã Magia, conseguindo criar uma entonação e linguagem corporal diferente para
as duas facetas da personagem, nos fazendo crer que são realmente duas pessoas
diferentes. Apesar de seu esforço para tornar Magia uma presença imponente, ela
é sabotada por um texto que transforma a personagem em uma vilã saída de algum
seriado dos anos noventa, com uma motivação e plano vago de
destruição/dominação global, algo similar ao que aconteceu com Oscar Isaac e
seu vilão em X-Men: Apocalipse.
Will Smith diverte como o
Pistoleiro, mas é praticamente uma repetição da mesma persona que o ator faz na maioria de seus filmes e ainda é
prejudicado por um roteiro que pesa a mão no sentimentalismo ao construir a
relação entre ele e a filha. Joel Kinnaman (do recente remake de Robocop), por
sua vez, nunca consegue convocar a aura de autoridade e liderança que se
imagina de que alguém encarregado de manter sob controle um grupo de criminosos
loucos e violentos, sem mencionar que a relação afetiva entre ele e Magia não é
desenvolvida de modo satisfatório. O roteiro fala da paixão arrebatadora dele
por ela, mas Kinamman não consegue trazer a impressão de um afeto realmente
poderoso movendo seu personagem. Uma surpresa é o El Diablo vivido por Jay
Hernandez que, apesar da motivação e passado serem bem clichês (e o filme ainda
comete o erro de tratar tudo como uma revelação surpreendente), consegue
transmitir uma dor bem verdadeira com seu personagem.
Os demais personagens não
conseguem engajar, seja pelo pouco tempo tela (como acontece com o Crocodilo e
a Katana) ou pela inaptidão de seus atores, como o caso do Capitão Bumerangue
(Jai Courtney). Famoso pela apatia de suas atuações (a exemplo do péssimo Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer e
o fraco Exterminador do Futuro: Gênesis)
Courtney até consegue inicialmente trazer um certo humor ao personagem, mas
conforme o filme avança e ele começa a insistir na repetição das mesmas caretas
e cacoetes, ele vai se tornando mais aborrecido do que divertido.
O Coringa de Jared Leto parece
deslocado do restante do filme, já que sua trama mal converge com a narrativa
principal, e não chega a impactar como outras encarnações do personagem. Tudo
bem que aqui é a história da Arlequina e não dele, mas ainda assim é esquisito
ver um Coringa que não rouba a cena quando aparece, diferente do que acontecia
com Heath Ledger, Jack Nicholson e até mesmo com Cesar Romero. É difícil
avaliar o personagem pelo pouco que aparece, mas é, até então, a versão menos
memorável do Palhaço do Crime.
As cenas de ação são atrapalhadas
pela montagem epilética, incapaz de dar o menor senso de coesão ou mesmo
continuidade, cortando rápida e grosseiramente entre os muitos personagens sem
sequer dar tempo de mostrar direito o que cada um pode fazer. São também
desprovidas de qualquer sentimento de perigo ou urgência já que durante boa
parte da fita eles enfrentam umas criaturas sem rosto (e design pouco inspirado) criadas pela vilã (e que remetem vagamente
às criaturas do jogo The Last of Us)
que são facilmente despachadas e nunca parecem posar qualquer ameaça para o
grupo. O 3D não acrescenta praticamente nada à experiência e é melhor ser
evitado.
Esquadrão Suicida acaba desperdiçando personagens carismáticos e
bons momentos de humor em uma trama insípida e desnecessariamente inchada. Era
um material com um potencial enorme para dar certo e consolidar o universo
compartilhado da DC nos cinemas e é lamentável que não tenha funcionado tão bem
quanto deveria. Agora é torcer para que os próximos filmes (Mulher Maravilha e Liga da Justiça) consigam fazer esse projeto de universo
cinematográfico engrenar.
Nota: 5/10
Obs: Há uma cena adicional no meio dos créditos.
Trailer:
O trailer foi a chave para captar o espectador. Eu adoro o estilo de Harley Quinn!! Em 2016 houve estréias cinematográficas excelentes, mas o meu preferido foi a Esquadrão Suicida por que além de ter uma produção excelente, a história é linda. achei um filme ideal para se divertir e descansar do louco ritmo da semana. Muito bons personagens.
ResponderExcluirQue bom que você gostou Elainne. Infelizmente não funcionou tão bem assim pra mim.
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