A ideia de um filme de terror no
qual o "monstro" é uma criatura que só habita e age em lugares
tomados por escuridão não é exatamente uma novidade. O fraco No Cair da Noite (2003) já possuía uma
premissa bastante parecida com este Quando
as Luzes se Apagam, no qual o diretor David F. Sandberg adapta seu
curta-metragem homônimo em formato de longa metragem. O resultado, apesar de
algumas boas ideias, é inferior ao curta.
Na trama, a jovem Rebecca (Teresa
Palmer) retoma o contato com sua família depois que de ser chamada pela escola
de seu irmão menor, Martin (Gabriel Bateman), que constantemente tem dormido em
sala de aula. Ao conversar com o garoto, descobre que ele tem sido atormentado
pela mesma criatura sombria que a traumatizou quando criança e que sua mãe,
Sophie (Maria Bello), aparentemente conversa com a criatura.
Se de início a ameaça de uma
sombra disforme funciona ao assustar, conforme o filme avança e as "regras
do jogo" vão sendo estabelecidas, a tensão e o medo se dilui, pois se
torna perfeitamente possível prever a grande maioria dos sustos. Cada vez que a
câmera de detêm um pouco mais longo do que deveria em algum canto escuro, algo
sairá dali. Se é possível prever de onde sairá cada susto, então é difícil
efetivamente se assustar com eles e essa escolha por sustos óbvios termina por
sabotar as ideias criativas que o filme tem para explorar a premissa. Do uso de
luz negra, que torna a criatura visível, mas não a afeta como luz normal,
passando pelas tentativas de atirar nela com uma arma de fogo, o que a faz
desaparecer por causa do clarão dos disparos.
A Rebecca de Teresa Palmer é a
típica mocinha atormentada de filmes de terror e seu irmão, apesar de competente
em evocar o medo do garoto, não é nada além de uma muleta afetiva, já que ele
serve apenas para ser colocado em perigo e angariar nossa simpatia (afinal
ninguém com um mínimo de empatia vai torcer para que a criança seja destroçada
por um monstro sombrio). Melhor sorte tem Maria Bello, que traz um misto de
instabilidade, desespero e desamparo a Sophie e é esperto da parte do roteiro
não reduzi-la a uma mera cúmplice ou capanga da criatura.
Há também alguns deslizes no
roteiro, em especial algumas revelações que chegam fácil demais. A principal
delas é o modo como Rebecca descobre sobre o passado da mãe através de arquivos
em seu quarto. Como Sophie conseguiu arquivos, fotos e prontuários, incluindo
as gravações dos médicos, de um hospital psiquiátrico? São materiais altamente
confidenciais e os profissionais e instituições do gênero não saem por aí
distribuindo esse tipo de material, nem mesmo para os próprios pacientes. Eu
entendo que alguma explicação mínima precisava ser dada, o problema é que o
modo como é feito soa forçado e pouco orgânico, parecendo algo jogado de
qualquer jeito.
Quando as Luzes se Apagam tem boas ideias e tenta explorar sua
premissa de modo criativo, mas esses esforços são sabotados pelo excesso de
adesão às convenções de filmes de terror e sustos óbvios. O resultado é um
terror que não suscita o medo que deveria e é inferior ao promissor curta que o
originou.
Nota: 4/10
Trailer:
Bônus: Confiram abaixo o curta que originou o filme
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