Depois de uma primeira temporada muito boa, a série How To Get Away With Murder (Como Defender um Assassino na tradução brasileira) retorna para o seu segundo ano mantendo a mesmo formato de uma trama que se desenvolve paralelamente em dois tempos. Ainda que mantenha as qualidades da temporada anterior, também repete alguns de seus problemas. Aviso que o texto a seguir tem SPOILERS
A trama começa exatamente onde a
primeira temporada terminou com o misterioso assassinato de Rebecca (Kate
Findlay), a única que podia contar sobre o acobertamento da morte do marido de
Annalise (Viola Davis). Ao mesmo tempo, a trama salta para o futuro mostrando
baleada e agonizando em uma poça de seu próprio sangue, nos deixando em
suspense sobre como a situação chegou àquele ponto e o que irá realmente
acontecer com a personagem.
A temporada não perde tempo em
revelar a pessoa culpada pela morte de Rebecca, já que demorar muito em um
mistério remanescente da temporada anterior poderia travar o progresso da
temporada. Com essa resposta obtida, a narrativa foca em colocar Annalise e
seus alunos para lidar com as consequências de tudo que aconteceu na temporada
anterior, o que coloca a lealdade do grupo à prova, ao mesmo tempo em que eles
precisam lidar com um novo e complicado caso de dois irmãos que podem ter
matado os pais e talvez tenham um caso incestuoso.
Assim como na primeira temporada,
a série consegue equilibrar com habilidade os "casos da semana" com as
tramas principais, sempre trazendo novos desenvolvimentos para os arcos
maiores. Os casos continuam a tratar de temas relevantes como cyberbullying ou a natureza excessivamente
punitiva e pouco reabilitadora do sistema penal (o episódio em que a mãe de uma
vítima tenta redimir o assassino do filho é um dos melhores da temporada).
Viola Davis continua excelente
como Annalise, uma mulher implacável e obstinada, capaz de destruir qualquer um
que se coloque em seu caminho, mas que começa a sentir o peso de todas as
coisas reprováveis que fez, implodindo aos poucos com a culpa. Segredos de seu
passado também insistem em não ficar enterrados, principalmente com o retorno
de sua antiga namorada Eve Rothlo (Famke Janssen) que a faz lembrar de um grave
erro que cometera. Assim como na primeira temporada, Davis tem alguns de seus
melhores momentos no episódio em que Annalise interage com a mãe (Cicely Tyson,
que também esteve na quarta temporada de House of Cards) oferecendo uma melhor compreensão de como Annalise se tornou
daquele jeito.
Os estudantes tem suas próprias
subtramas, mas quem recebe mais atenção é Wes (Alfred Enoch), de início por
causa de sua busca por Rebecca, mas posteriormente pelos indícios de que seu
passado cruza com o de Annalise. Connor (Jack Falahee), por sua vez, amadurece
sua relação com Oliver (Conrad Ricamora), enquanto que Asher (Matt McGorry)
precisa enfrentar um segredo de seu passado. Asher continua sendo usado
majoritariamente como alívio cômico e como antes a maioria de suas piadas
irrita mais do que faz rir. Seu arco envolvendo o encobrimento de um estupro
coletivo serve para tirar o personagem do território da caricatura e dá um
pouco mais de latitude para ele se desenvolver, mas ainda assim ele continua
sendo o mais descartável do elenco principal.
A temporada ainda consegue
mostrar o companheirismo que há entre os estudantes apesar de todas as
maquinações e backstabbing, em
especial numa cena lá pela segunda metade da temporada com todos dentro de um
carro conversando, fazendo piadas e trocando provocações. É um momento que não
tem lá muita serventia para mover a trama para frente, mas serve para
demonstrar que por mais que não queiram admitir, se importam realmente um pelo
outro e apreciam a companhia de cada um. Ainda assim, continua incomodando o
quanto a série pesa a mão em criar casais e relacionamentos amorosos para seus
personagens, inclusive recorrendo ao batido expediente de colocar dois personagens
em uma conversa intensa para ficar em silêncio por alguns segundos apenas para
começarem a se agarrar intensamente no momento seguinte. Alguns desses momentos
de "pegação" sequer fazem muito sentido como o de Wes e Laurel (Karla
Souza) ou Asher e Michaela (Aja Naomi King).
Apesar de ser majoritariamente
hábil na condução do mistério, oferecendo respostas ao mesmo tempo que nos
instiga com seus desdobramentos, a condução da trama por vezes soa manipulativa
e desonesta, com reviravoltas que ocorrem não pelo desenvolvimento das pistas
plantadas cuidadosamente ao longo do progresso, mas por flashbacks que adicionam informações não dadas a eventos
previamente vistos e explicados.
Um exemplo é quando Annalise é
atacada dentro do apartamento de Wes pelo suposto assassino e consegue fugir.
Tudo que vemos é ela atingindo o agressor e fugindo do local, mas três
episódios depois ficamos sabendo que houve uma elipse entre o ataque e a fuga e
que ela, na verdade, conversou com o suspeito e obteve dele uma prova essencial
para deter o assassino. Quando esse revelação é feita, a sensação é que tudo
foi inventado naquele momento pelos roteiristas, que manipularam a continuidade
para dar uma reviravolta que não tinha como acontecer. Ao invés de ficar
surpreso, a sensação é de que a série "trapaceou" e que a qualquer
momento eventos passados podem ser desfeitos só para criar mais uma surpresa.
Isso cria uma incômoda sensação de que "vale tudo" e qualquer mudança
pode ser conjurada do vazio e seguir por esse caminho é uma maneira fácil de
perder o controle da coesão da narrativa.
De todo modo, a segunda temporada
de How to Get Away With Murder
continua a oferecer uma ágil e instigante narrativa cheia de mistério e
suspense, elevada pelo talento da atriz Viola Davis.
Nota: 8/10
Trailer:
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