Feito doze anos depois de Bridget Jones: No Limite da Razão
(2004), este O Bebê de Bridget Jones
podia ser mais uma dessas continuações tardias que não demonstra ter nada a
oferecer além da nostalgia pelos antecessores como Jurassic World (2015) ou Debi
e Lóide 2 (2014). Felizmente essa nova história de Bridget Jones não se
enquadra nesta categoria, conseguindo trazer uma história que demonstra dialogar
com os dias atuais, mas sem esquecer o que torna sua protagonista tão
interessante.
Na trama, depois de passar seu
aniversário sozinha (na hilária abertura com a canção All By Myself) Bridget decide dar uma guinada em sua vida. Ela vai
com uma amiga a um festival de música e conhece Jack (Patrick Dempsey) com quem
passa a noite e dias depois reencontra o ex-namorado Darcy (Colin Firth) e
também passa a noite com ele. O tempo passa e ela percebe estar ganhando peso e
colegas de trabalho sugerem que ela pode estar grávida. Agora, além de ter que
lidar com seus novos chefes e sua recém-descoberta gravidez, precisa também
encontrar um modo de descobrir quem é o pai, já que tanto Jack quanto Darcy são
candidatos possíveis.
O primeiro acerto é evitar uma
abordagem moralista em relação à situação de Bridget. Seria muito fácil encher
o filme de julgamentos morais quanto a fato dela ter ido para cama com dois
homens diferentes em tão pouco tempo, mas felizmente a narrativa sequer tenta
transformar isso numa questão. Afinal é 2016 e uma mulher pode se relacionar
livremente com quem ela quiser sem ser julgada por isso. Também acerta ao
evitar vilanizar qualquer um dos dois pretendentes, uma vez que isso tornaria
tudo maniqueísta demais. Tudo bem que ambos tomam atitudes questionáveis em
alguns momentos, mas são ações compreensíveis dadas as circunstâncias,
revelando-os como homens falhos, ainda que igualmente dignos do afeto da
protagonista, ao invés de príncipes encantados perfeitos.
Renée Zellweger continua excelente
como Bridget, com suas narrações espirituosas e um timing cômico impecável, ela acerta cada piada e situação
constrangedora em que a personagem se coloca. Assim como nos filmes anteriores,
ela segue conseguindo encontrar o extraordinário e o inusitado em uma
personagem que é fundamentalmente banal, criando uma protagonista que é
encantadora, mas com a qual qualquer um consegue se identificar. Bridget ainda
comenta sobre uma série de temas como a "Buzzfeedização" do
jornalismo, o modo como já tratamos como idosas pessoas que já passaram de uma
certa idade, a tentativa de usar apps e seus algoritmos para conhecer pessoas
ou mesmo observações mordazes sobre a geração que vem depois da dela, como seus
chefes hipsters com suas barbas
desenhadas e "coques samurai" (o kit "galã feio", como diria uma
página da internet) que os tornam indistinguíveis uns dos outros.
Colin Firth diverte como o
socialmente esquisito Darcy, enquanto que Patrick Dempsey funciona bem como um
empresário bem-intencionado. Ambos tem cenas bem divertidas ao tentarem ajudar
Bridget juntos e a cara dos dois quando descobrem que qualquer um deles pode
ser o pai é simplesmente impagável. Além de bem juntos, os dois também
estabelecem uma boa química com Zellweger e assim é possível imaginar que ambos
tem chance com Bridget. Emma Thompson tem uma participação pequena, mas muito
divertida como a sarcástica ginecologista da protagonista e seu senso de humor
seco é responsável por vários momentos engraçados.
O Bebê de Bridget Jones acaba sendo muito mais divertido do que
qualquer um imaginava. Pode não trazer nada que nenhum dos dois filmes
anteriores já tenham feito, mas seu texto espirituoso e o bom timing cômico do elenco constroem uma
experiência divertida e charmosa.
Nota: 8/10
Trailer
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