Um grupo de pessoas se vê
confinada em um ambiente fechado com um predador feroz que não irá parar até
que todos estejam mortos. O predador em questão é cego, mas tem sentidos
aguçados que fazem o mais leve barulho ser uma sentença de morte. Essa é a premissa
de Alien: O Oitavo Passageiro (1979),
mas cabe perfeitamente neste O Homem nas
Trevas, substituindo o xenomorfo por um ex-militar cego.
A trama acompanha um grupo de
jovens, Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto), que
vive de pequenos roubos. A sorte deles está para mudar quando eles encontram a
oportunidade do típico "assalto definitivo" ao ouvirem falar na
história de um homem cego (Stephen Lang) que mora sozinho em uma casa
localizada em um bairro decrépito e abandonado da falida Detroit. Chegando na
casa, o trio descobre que o homem cego não é tão indefeso quanto parece e
passam de algozes a vítimas quando se veem presos dentro do imóvel.
Além da premissa familiar, os
personagens também são bastante apoiados em clichês. Do bandido pé de chinelo
que se acha mais esperto e valente do realmente é, passando pelo mocinha de
vida difícil que tenta juntar dinheiro para fugir de seu cotidiano ruim,
passando pelo rapaz bem intencionado que só quer ajudar a mocinha. Apesar de
básicos, acabamos aderindo aos personagens pela habilidade da trama em brincar
com as nossas simpatias. Mesmo que Rocky tenha suas razões para ser criminosa e
Alex tenha um relativo código de honra, eles são claramente criminosos tentando
tirar vantagem de um deficiente. Assim, inicialmente podemos aderir ao homem
cego, já que ele está apenas dando o troco nos ladrões, aos poucos vamos
descobrindo coisas cada vez mais tenebrosas sobre o cego e fica difícil não ter
simpatia pelo que os personagens sofrem nas mãos desse predador implacável.
O cego, por sinal, se mostra
quase que como uma criatura. Beneficiando por uma entrega animalesca da
performance de Stephen Lang, ele fala muito pouco e passa boa parte do tempo
urrando e grunhindo como um bicho, socando violentamente a parede quando
percebe que cometeu algum erro. A ausência de um nome também contribui para
tirar-lhe parte da humanidade, nos levando a vê-lo mais como uma coisa do que
como uma pessoa, dando a maior impressão de que ele é um monstro irrefreável.
A condução de Fede Alvarez,
responsável pela nova versão de A Morte do Demônio (2013), é bastante eficiente em criar momentos de tensão,
colocando os personagens para se encolherem em cantos ou se esconderem em
armários tentando não fazer barulho para chamar a atenção do cego. São momentos
que duram alguns segundos, mas são tão tensos que parecem uma agonia sem fim. O
diretor também é bem sucedido em criar um senso claro e coeso de espacialidade,
tornando fácil que o espectador se localize dentro da casa. Isso acontece
principalmente no longo plano feito para dar a impressão de não haver cortes no
qual a câmera acompanha os três personagens conforme eles exploram a casa.
A fotografia também contribui
para a ambientação, construindo uma atmosfera macabra tomada por sombras, mas
que jamais se torna incompreensível apesar de toda escuridão. Uma das cenas
mais tensas é justamente quando o cego desliga os disjuntores do porão e os
personagens tateiam pelo escuro sem saber o que está diante deles, sendo que
nós percebemos o perigo se aproximar. O filme também não economiza na
violência, trazendo alguns momentos recheados de sangue e brutalidade que são
realmente impactantes.
Assim sendo, a despeito de sua
natureza familar, O Homem nas Trevas
é esperto o bastante para oferecer reviravoltas que nos deixam à beira do
assento, sendo extremamente hábil em criar momentos de medo, tensão e
violência.
Nota: 7/10
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