Nostalgia é uma coisa complicada,
principalmente quando mexe com nossas memórias de infância e com aquilo de que
gostávamos naquele período. Dito isto tenho que confessar que a série animada
da Disney Ducktales foi algo que eu
gostava muito quando criança e como na época eu tinha um NES (o famoso
Nintendinho 8 bits), foi inevitável colocar minhas mãos no game da série. Como
praticamente todos os games de NES, lembro do jogo ser uma aventura de
plataforma (tipo Super Mario Bros)
absurdamente difícil (sério, os games de hoje nem se comparam ao pesadelo que
eram as obras de 8 bits e não falo somente da possibilidade de salvar) e nunca
cheguei a terminar nenhuma das 5 primeiras fases que podiam ser jogadas de modo
não-linear.
Dito isto, a pergunta fundamental
que este Ducktales Remastered levanta
é: o game passa no teste do tempo e continua tão legal quanto era em 1989? Bem,
sinto-me inclinado em responder sim, mas apesar de manter o carisma, a diversão
e a dificuldade, é difícil não experimentar a sensação de estarmos jogando algo
datado.
O game mantem a mesma estrutura
da versão original colocando o jogador na pele (ou seriam penas?) do Tio
Patinhas enquanto ele viaja pelo mundo em busca de tesouros. Como eu falei anteriormente,
consiste de um jogo bidimensional de aventura e plataforma, assim o personagem
caminha pelo cenário saltando sobre obstáculos e inimigos. A diferença é que o
velho Tio Patinhas precisa usar sua bengala como uma espécie de pula-pula que
lhe permite saltar mais alto, evitar espinhos, destruir pedras e derrotar
adversários.
Após um estágio inicial que serve
como tutorial para as mecânicas do jogo (algo ausente do game original, mas
indispensável nos dias de hoje) é possível escolher entre cinco fases
diferentes e não há ordem para completá-las, deixando isso a cargo do jogador,
ao final desses cinco primeiros estágios uma sexta e última é aberta. As fases
são extensas e possuem diferentes caminhos, dando ao jogador liberdade sobre
como explorá-las, além disso há também uma série de passagens secretas e
tesouros escondidos que aqueles mais ávidos por altas pontuações certamente
explorarão. Para progredir é necessário encontrar alguns “tesouros-chave” ou
pistas que permitirão o Tio Patinhas abrir caminho para a sala do tesouro,
onde, obviamente, precisará enfrentar o chefão para recuperar a relíquia e
encerrar a fase.
Aqui, diferente da versão
original, é possível conferir um mapa da fase que indica onde encontrar as
pistas necessárias para progredir. Alguns podem argumentar que isso diminui a
dificuldade e desestimula a exploração, mas eu discordo. O radar evita perdas
de tempo e mortes desnecessárias que ocorreriam simplesmente pelo jogador não
saber o que fazer e a exploração não é prejudicada pois o tempo todo estamos
vasculhando o cenário por outros tesouros, recarregadores de energia e vidas
extras.
Já que falei em vidas, o game
segue o padrão do original, dando um número limitado (e reduzido) de vidas e
perder todas significa o bom e velho game
over, sendo necessário recomeçar a fase toda do início, independente do
ponto onde o jogador se encontra. É bastante dureza, como devia ser, mas pode
frustrar alguns. Pelo menos agora o jogo salva ao fim de cada estágio
finalizado, não sendo preciso jogá-lo inteiro de uma vez ou decorar montes de passwords (algo que os gamers da geração atual nem devem
conhecer).
Os cenários foram remodelados em
3D (mas a progressão continua lateral) seguindo e muitas vezes replicando o design das fases originais. As batalhas
contra os chefões, entretanto, foram redesenhadas, tornando-os um pouco mais
desafiadores, embora sigam a velha mecânica de compreender seus padrões de
movimento e desviar dos ataques para depois atacar.
Os personagens são muito bem
animados, com uma ampla gama de expressões, algo potencializado pela competente
dublagem que usa os dubladores originais do desenho e é uma pena que a Disney
brasileira não tenha colocado vozes em português para o lançamento nacional. As
vozes estão presentes quase o tempo todo e ajudam a dar um contexto narrativo
que não existia no original, dando mais carisma e humor ao jogo. Por outro
lado, as cenas são um pouco intrusivas, frequentemente interrompendo o fluxo da
ação, já que cada vez que achamos um tesouro importante o jogo é interrompido
para mostrar alguns diálogos dispensáveis entre os personagens.
Outro problema é o desenho de
fases que é ocasionalmente desleal, nos colocando em colisões contra inimigos e
objetos quase que impossíveis de evitar, levando a algumas mortes frustrantes.
Igualmente incômoda é a resposta problemática dos controles que ocasionalmente
não funcionam, mesmo quando você usa aquele mesmo comando que usou o jogo
inteiro (e praticamente só usamos dois botões).
O game ainda adiciona uma galeria
com artes conceituais e fotos que são desbloqueadas usando o dinheiro coletado
nas fases, mas tirando isso não há nenhuma adição significativa à jogabilidade,
não há nenhum tipo de curva de aprendizado, novas habilidades ou novos itens a
serem utilizados. Terminamos o game fazendo exatamente as mesmas coisas que
fazíamos no início e isso nos dá a sensação de algo repetitivo. Eu sei que o
game original era assim, apenas pular e quicar com a bengala, mas o sentimento
que fica é que estamos jogando algo parado no tempo, que não arriscou ou inovou
nesta nova versão.
Apesar dos problemas, Ducktales Remastered é uma aventura
divertida, carismática e desafiadora que certamente será apreciada pelos
jogadores que cresceram com a série animada e o game original, mas também é um
ótimo modo de introduzir as explorações do Tio Patinhas e seus aliados a uma
nova geração.
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