terça-feira, 13 de agosto de 2013

Crítica - Ducktales Remastered



Nostalgia é uma coisa complicada, principalmente quando mexe com nossas memórias de infância e com aquilo de que gostávamos naquele período. Dito isto tenho que confessar que a série animada da Disney Ducktales foi algo que eu gostava muito quando criança e como na época eu tinha um NES (o famoso Nintendinho 8 bits), foi inevitável colocar minhas mãos no game da série. Como praticamente todos os games de NES, lembro do jogo ser uma aventura de plataforma (tipo Super Mario Bros) absurdamente difícil (sério, os games de hoje nem se comparam ao pesadelo que eram as obras de 8 bits e não falo somente da possibilidade de salvar) e nunca cheguei a terminar nenhuma das 5 primeiras fases que podiam ser jogadas de modo não-linear.

Dito isto, a pergunta fundamental que este Ducktales Remastered levanta é: o game passa no teste do tempo e continua tão legal quanto era em 1989? Bem, sinto-me inclinado em responder sim, mas apesar de manter o carisma, a diversão e a dificuldade, é difícil não experimentar a sensação de estarmos jogando algo datado.

O game mantem a mesma estrutura da versão original colocando o jogador na pele (ou seriam penas?) do Tio Patinhas enquanto ele viaja pelo mundo em busca de tesouros. Como eu falei anteriormente, consiste de um jogo bidimensional de aventura e plataforma, assim o personagem caminha pelo cenário saltando sobre obstáculos e inimigos. A diferença é que o velho Tio Patinhas precisa usar sua bengala como uma espécie de pula-pula que lhe permite saltar mais alto, evitar espinhos, destruir pedras e derrotar adversários.

Após um estágio inicial que serve como tutorial para as mecânicas do jogo (algo ausente do game original, mas indispensável nos dias de hoje) é possível escolher entre cinco fases diferentes e não há ordem para completá-las, deixando isso a cargo do jogador, ao final desses cinco primeiros estágios uma sexta e última é aberta. As fases são extensas e possuem diferentes caminhos, dando ao jogador liberdade sobre como explorá-las, além disso há também uma série de passagens secretas e tesouros escondidos que aqueles mais ávidos por altas pontuações certamente explorarão. Para progredir é necessário encontrar alguns “tesouros-chave” ou pistas que permitirão o Tio Patinhas abrir caminho para a sala do tesouro, onde, obviamente, precisará enfrentar o chefão para recuperar a relíquia e encerrar a fase.

Aqui, diferente da versão original, é possível conferir um mapa da fase que indica onde encontrar as pistas necessárias para progredir. Alguns podem argumentar que isso diminui a dificuldade e desestimula a exploração, mas eu discordo. O radar evita perdas de tempo e mortes desnecessárias que ocorreriam simplesmente pelo jogador não saber o que fazer e a exploração não é prejudicada pois o tempo todo estamos vasculhando o cenário por outros tesouros, recarregadores de energia e vidas extras.

Já que falei em vidas, o game segue o padrão do original, dando um número limitado (e reduzido) de vidas e perder todas significa o bom e velho game over, sendo necessário recomeçar a fase toda do início, independente do ponto onde o jogador se encontra. É bastante dureza, como devia ser, mas pode frustrar alguns. Pelo menos agora o jogo salva ao fim de cada estágio finalizado, não sendo preciso jogá-lo inteiro de uma vez ou decorar montes de passwords (algo que os gamers da geração atual nem devem conhecer).

Os cenários foram remodelados em 3D (mas a progressão continua lateral) seguindo e muitas vezes replicando o design das fases originais. As batalhas contra os chefões, entretanto, foram redesenhadas, tornando-os um pouco mais desafiadores, embora sigam a velha mecânica de compreender seus padrões de movimento e desviar dos ataques para depois atacar.

Os personagens são muito bem animados, com uma ampla gama de expressões, algo potencializado pela competente dublagem que usa os dubladores originais do desenho e é uma pena que a Disney brasileira não tenha colocado vozes em português para o lançamento nacional. As vozes estão presentes quase o tempo todo e ajudam a dar um contexto narrativo que não existia no original, dando mais carisma e humor ao jogo. Por outro lado, as cenas são um pouco intrusivas, frequentemente interrompendo o fluxo da ação, já que cada vez que achamos um tesouro importante o jogo é interrompido para mostrar alguns diálogos dispensáveis entre os personagens.

Outro problema é o desenho de fases que é ocasionalmente desleal, nos colocando em colisões contra inimigos e objetos quase que impossíveis de evitar, levando a algumas mortes frustrantes. Igualmente incômoda é a resposta problemática dos controles que ocasionalmente não funcionam, mesmo quando você usa aquele mesmo comando que usou o jogo inteiro (e praticamente só usamos dois botões).

O game ainda adiciona uma galeria com artes conceituais e fotos que são desbloqueadas usando o dinheiro coletado nas fases, mas tirando isso não há nenhuma adição significativa à jogabilidade, não há nenhum tipo de curva de aprendizado, novas habilidades ou novos itens a serem utilizados. Terminamos o game fazendo exatamente as mesmas coisas que fazíamos no início e isso nos dá a sensação de algo repetitivo. Eu sei que o game original era assim, apenas pular e quicar com a bengala, mas o sentimento que fica é que estamos jogando algo parado no tempo, que não arriscou ou inovou nesta nova versão.

Apesar dos problemas, Ducktales Remastered é uma aventura divertida, carismática e desafiadora que certamente será apreciada pelos jogadores que cresceram com a série animada e o game original, mas também é um ótimo modo de introduzir as explorações do Tio Patinhas e seus aliados a uma nova geração.


Nota: 7/10

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