Lara Croft é um
dos principais ícones dos videogames, mas desde o desastroso Tomb Raider Underworld (2008) não
protagoniza um jogo. O hiato parece ter sido bem utilizado já que este Tomb Raider é um excelente recomeço para
a personagem, investindo numa narrativa muito bem construída que conta o que
seria o início da vida de Lara como aventureira e numa jogabilidade mais aberta
que nos dá uma ilha vasta para explorar.
A
história conta a primeira exploração de Lara em busca do reino perdido de
Yamatai, uma ilha que ficava próxima ao Japão e era governado pela imperatriz
Himiko, cujas lendas diziam ser capaz de controlar os ventos e trovões. O navio
naufraga durante uma tempestade e Lara se separa do resto da tripulação, sendo
capturada por um grupo de cultistas. A partir daí começa a jornada da
protagonista para rever sua tripulação e desvendar os segredos de Yamatai,
dignos da ilha de Lost, que envolvem
não apenas cultistas, mas fortes que datam da Segunda Guerra Mundial e até
samurais zumbis.
É
muito bom acompanhar uma narrativa que se preocupa em desenvolver a personagem
de forma tão cuidadosa como nunca tinha ocorrido na franquia. A jovem Lara
começa como uma insegura e ingênua acadêmica e conforme os perigos da ilha a
levam ao limite, ela vai aos poucos se transformando na aventureira confiante
que viemos a conhecer. Ela constantemente é pega em desvantagem, algumas vezes
capturada e também se fere seriamente em alguns momentos, mas nunca é transformada
em vítima, cada desafio serve para reafirmá-la como a hábil sobrevivente que
aos poucos vai se tornando.
Isso
diz respeito inclusive à polêmica cena do estupro, o ato nunca é concretizado
justamente por Lara rechaçar a violência que lhe é imposta, tomando a arma de
seu captor e aí o controle passa ao jogador, que deve eliminar o pretenso
estuprador (e foi com satisfação que disparei bem na virilha do sujeito). É a
primeira morte que a personagem comete e é carregada de peso dramático e
emocional, assim como todos os momentos decisivos da história. Os demais
membros da tripulação também têm suas próprias histórias e possuem um relativo
carisma, mas é mesmo Lara que rouba a atenção. O mérito não cabe somente ao
roteiro, mas também à atriz Camilla Luddington que entrega uma performance
bastante convincente como Lara e o jogador certamente irá simpatizar com a
personagem.
A
primeira hora de jogo é bastante linear, mas depois que a história engrena o
jogo nos deixa livres para explorar a ilha, tendo tumbas para decifrar,
artefatos para coletar e animais para caçar e, é claro, os objetivos da
história a cumprir. A mecânica é semelhante à série Metroid e ao recente Batman:
Arkham City, onde novas áreas vão se tornando disponíveis conforme o
protagonista vai adquirindo novas habilidades e equipamentos. Se movimentar
pela ilha é extremamente orgânico e as mecânicas de corrida e escalada
funcionam muito bem e sem nunca remover a sensação de perigo saltar entre
encostas e se pendurar com o machado de escalada constantemente traz um frio na
barriga.
Além
de exploração há também os momentos de ação nos quais Lara precisa enfrentar os
muitos inimigos que espreitam a ilha. Embora o combate nunca tenha sido um
grande foco da franquia, mas aqui é uma parte essencial da jogabilidade e é
outro grande acerto do game. Os tiroteios são empolgantes e os inimigos
realmente se valem da vantagem numérica para te flanquear e tentar te pegar de
surpresa. A personagem tem um arsenal de quatro armas à sua disposição do arco
e flecha ao rifle automático. Ao longo do jogo é possível coletar peças para
melhorar diferentes atributos das armas e Lara ganha pontos de experiência que
lhe permitem adquirir novas habilidades que ampliam suas técnicas de combate e
exploração.
Graficamente
é muito bem realizado, os ambientes são vastos, impressionantes e ajudam a
construir a sensação de perigo e mistério da ilha. As texturas e animações dos
personagens também são muito boas e é muito interessante perceber os
ferimentos, curativos, manchas de sangue e rasgos que vão aparecendo e se
modificando conforme Lara progride.
O
único ponto fraco é o multiplayer online que não oferece nada além dos
tradicionais modos de batalhas entre times, capture a bandeira ou cada um por
si. É possível aqui adquirir melhorias e novos personagens, mas é tudo muito
básico e muito supérfluo, é possível passar batido pelo multiplayer sem
comprometer a experiência de jogo.
Tomb Raider traz uma nova e instigante
abordagem à franquia de Lara Croft com uma história bem escrita e mecânicas
afiadas, sendo um excelente retorno para a personagem.
Nota: 8/10
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