sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Crítica - American Horror Story: Roanoke

Análise American Horror Story: Roanoke


Review American Horror Story: Roanoke
O tema da sexta temporada de American Horror Story foi um segredo mantido a sete chaves até a sua estreia. Imagens dos sets vazadas na internet já indicavam a possibilidade da colônia perdida de Roanoke ser um elemento proeminente da nova temporada, mas esse nem foi a maior surpresa da estreia da nova temporada. O que realmente pegou todo mundo desprevenido foi o formato de "falso documentário" adotado no episódio de estreia. Avisamos que alguns SPOILERS da temporada são inevitáveis a partir desse ponto.

A temporada começa com um "falso documentário" no qual o casal Matt (André Holland) e Shelby (Lily Rabe) narra uma série de eventos tenebrosos que ocorreram em sua propriedade, no interior da Carolina do Norte, na qual fantasmas dos colonos de Roanoke vagavam e matavam que quer que se aproximasse. Entre os depoimentos vemos algumas dramatizações dos eventos contados, funcionando como flashbacks que mostram como Matt (Cuba Gooding Jr) e Shelby (Sarah Paulson) sobreviveram ao tormento.

De início a escolha causou estranheza e também a incerteza se esse formato conseguiria se sustentar ao longo de dez episódios, mas o produtor Ryan Murphy tinha outras cartas manga. Sempre que achamos que a trama e o formato escolhido estão chegando a um beco sem saída, a trama se transforma para outro formato, conseguindo se reinventar e nos manter intrigados com o que pode acontecer a seguir. A primeira metade da temporada parece um tradicional conto de "casa mal-assombrada" com aparições grotescas (em especial o sujeito que "veste" uma cabeça de porco) aterrorizando uma família.

Depois que a história de Matt e Shelby termina e o mistério da colônia de Roanoke é explicado, a narrativa passa a adotar o formato de "found footage" ao apresentar uma espécie de reality show passado dentro do mundo da série no qual o casal "real" Matt e Shelby, junto com seus familiares, é levado de volta para a fatídica casa na Carolina do Norte junto com os atores que os interpretaram para passarem três dias na casa para provar que os fantasmas de Roanoke realmente assombram aquele lugar. Logicamente os produtores subestimam as assombrações e as pessoas começam a morrer.

Essa segunda parte brinca com as convenções de filmes de terror como Bruxa de Blair (2016) e as utiliza de modo eficiente para criar terror e suspense. Diferente da maioria das produções que utilizam este formato, aqui há sempre uma razão para que os personagens continuem a filmar, mesmo quando as coisas começam a dar errado. Essa segunda metade também faz uma crítica ao fascínio dos reality shows e o culto às celebridades, no qual qualquer pessoa que aparece na televisão imediatamente ganha um grande séquito de seguidores disposto a consumir qualquer coisa que essas pessoas protagonizem. A fama e sua busca, no entanto, são mostradas como uma força tão destruidora quanto os fantasmas de Roanoke já que é justamente a busca pelos holofotes que acaba sendo a perdição de praticamente todos os protagonistas. O desfecho trágico dos personagens é uma grande metáfora para o modo como essa indústria de celebridades explora essas figuras até literalmente destruí-las.

A segunda metade perde um pouco de fôlego lá pelo nono episódio, quando se reduz a um joguete de "quem irá sobreviver", sendo que àquela altura fica evidente que os egocêntricos atores não tem convicção ou motivação o suficiente para resistirem e os "personagens reais" são pouco numerosos o suficiente para ser fácil deduzir quem irá sobrar. Ainda assim, consegue retomar o ritmo no ótimo season finale quando suas brincadeiras metalinguísticas se tornam ainda mais complexas.

Sarah Paulson já tinha interpretado duas personagens em uma única temporada como as gêmeas siamesas de Freak Show e aqui interpreta três. Ela vive Shelby durante a primeira metade da temporada, depois Audrey, a atriz que interpretou Shelby e por fim retorna à Lana Winters de Asylum no episódio que encerra a temporada. Falar do talento dela ou de Evan Peters (que também é hábil ao interpretar dois personagens aqui) é chover no molhado para quem já acompanhou outras temporadas da série, mas aqui os dois continuam a exibir grande alcance e desenvoltura ao construírem personagens bem diferentes uns dos outros. Quem também merece destaque é Adina Porter que vive Lee, a irmã de Matt, uma mulher marcada pelo trauma e erros do passado, mas que se mantêm forte e resoluta na sua busca por reaver sua filha, conseguindo enfrentar com segurança mesmo a igualmente durona Lana Winters. Além da personagem de Asylum, a atual temporada ainda traz menções à família Mott de Freak Show e também referências a Coven e Murder House integrando ainda mais o universo da série.

Passado o estranhamento inicial com o formato escolhido, American Horror Story: Roanoke se mostra como mais uma eficiente temporada da série de terror, que além dos sustos e imagens grotescas habituais ainda traz observações contundentes sobre o mundo do entretenimento e às celebridades construídas em reality shows.


Nota: 7/10

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