O tema da sexta temporada de American Horror Story foi um segredo
mantido a sete chaves até a sua estreia. Imagens dos sets vazadas na internet já indicavam a possibilidade da colônia
perdida de Roanoke ser um elemento proeminente da nova temporada, mas esse nem
foi a maior surpresa da estreia da nova temporada. O que realmente pegou todo
mundo desprevenido foi o formato de "falso documentário" adotado no episódio
de estreia. Avisamos que alguns SPOILERS da temporada são inevitáveis a partir
desse ponto.
A temporada começa com um
"falso documentário" no qual o casal Matt (André Holland) e Shelby
(Lily Rabe) narra uma série de eventos tenebrosos que ocorreram em sua
propriedade, no interior da Carolina do Norte, na qual fantasmas dos colonos de
Roanoke vagavam e matavam que quer que se aproximasse. Entre os depoimentos
vemos algumas dramatizações dos eventos contados, funcionando como flashbacks que mostram como Matt (Cuba
Gooding Jr) e Shelby (Sarah Paulson) sobreviveram ao tormento.
De início a escolha causou
estranheza e também a incerteza se esse formato conseguiria se sustentar ao
longo de dez episódios, mas o produtor Ryan Murphy tinha outras cartas manga.
Sempre que achamos que a trama e o formato escolhido estão chegando a um beco
sem saída, a trama se transforma para outro formato, conseguindo se reinventar
e nos manter intrigados com o que pode acontecer a seguir. A primeira metade da
temporada parece um tradicional conto de "casa mal-assombrada" com
aparições grotescas (em especial o sujeito que "veste" uma cabeça de
porco) aterrorizando uma família.
Depois que a história de Matt e
Shelby termina e o mistério da colônia de Roanoke é explicado, a narrativa
passa a adotar o formato de "found
footage" ao apresentar uma espécie de reality show passado dentro do
mundo da série no qual o casal "real" Matt e Shelby, junto com seus
familiares, é levado de volta para a fatídica casa na Carolina do Norte junto
com os atores que os interpretaram para passarem três dias na casa para provar
que os fantasmas de Roanoke realmente assombram aquele lugar. Logicamente os
produtores subestimam as assombrações e as pessoas começam a morrer.
Essa segunda parte brinca com as
convenções de filmes de terror como Bruxa de Blair (2016) e as utiliza de modo eficiente para criar terror e suspense.
Diferente da maioria das produções que utilizam este formato, aqui há sempre
uma razão para que os personagens continuem a filmar, mesmo quando as coisas
começam a dar errado. Essa segunda metade também faz uma crítica ao fascínio
dos reality shows e o culto às
celebridades, no qual qualquer pessoa que aparece na televisão imediatamente
ganha um grande séquito de seguidores disposto a consumir qualquer coisa que
essas pessoas protagonizem. A fama e sua busca, no entanto, são mostradas como
uma força tão destruidora quanto os fantasmas de Roanoke já que é justamente a
busca pelos holofotes que acaba sendo a perdição de praticamente todos os
protagonistas. O desfecho trágico dos personagens é uma grande metáfora para o
modo como essa indústria de celebridades explora essas figuras até literalmente
destruí-las.
A segunda metade perde um pouco
de fôlego lá pelo nono episódio, quando se reduz a um joguete de "quem irá
sobreviver", sendo que àquela altura fica evidente que os egocêntricos
atores não tem convicção ou motivação o suficiente para resistirem e os
"personagens reais" são pouco numerosos o suficiente para ser fácil
deduzir quem irá sobrar. Ainda assim, consegue retomar o ritmo no ótimo season finale quando suas brincadeiras
metalinguísticas se tornam ainda mais complexas.
Sarah Paulson já tinha
interpretado duas personagens em uma única temporada como as gêmeas siamesas de
Freak Show e aqui interpreta três.
Ela vive Shelby durante a primeira metade da temporada, depois Audrey, a atriz
que interpretou Shelby e por fim retorna à Lana Winters de Asylum no episódio que encerra a temporada. Falar do talento dela
ou de Evan Peters (que também é hábil ao interpretar dois personagens aqui) é
chover no molhado para quem já acompanhou outras temporadas da série, mas aqui
os dois continuam a exibir grande alcance e desenvoltura ao construírem
personagens bem diferentes uns dos outros. Quem também merece destaque é Adina
Porter que vive Lee, a irmã de Matt, uma mulher marcada pelo trauma e erros do
passado, mas que se mantêm forte e resoluta na sua busca por reaver sua filha,
conseguindo enfrentar com segurança mesmo a igualmente durona Lana Winters.
Além da personagem de Asylum, a atual
temporada ainda traz menções à família Mott de Freak Show e também referências a Coven e Murder House
integrando ainda mais o universo da série.
Passado o estranhamento inicial
com o formato escolhido, American Horror
Story: Roanoke se mostra como mais uma eficiente temporada da série de
terror, que além dos sustos e imagens grotescas habituais ainda traz
observações contundentes sobre o mundo do entretenimento e às celebridades
construídas em reality shows.
Nota: 7/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário