Por mais que tenha gostado dos
filmes da franquia Harry Potter,
quando soube do anúncio deste spin-off,
Animais Fantásticos e Onde Habitam,
minha reação foi "precisa mesmo?". A preocupação aumentou quando a
Warner Bros anunciou a intenção de fazer dele uma trilogia e, depois ainda
expandiu seus planos para um total de cinco filmes. A verdade é que mesmo com
toda a desconfiança, o filme é um retorno encantador e divertido, ainda que com
problemas, ao universo mágico da franquia.
A trama se passa nos anos de 1920
e leva o bruxo Newt Scamander (Eddie Redmayne) para Nova Iorque quando seus
animais fogem e ele precisa correr pela cidade para encontrá-los e guardá-los
em sua maleta. É também a história do auror Percival Graves (Colin Farell) que
trabalha para a versão estadunidense do Ministério da Magia e investiga uma
família de pessoas não mágicas que odeia o universo da magia.
De cara chama atenção o contraste
entre as duas tramas principais do filme. De um lado temos Newt e seus amigos
em uma aventura leve e pueril em busca de seres fantásticos, de outro uma trama
sombria com morte, traumas, violência infantil e infâncias despedaçadas. Os
filmes de Harry Potter sempre souberam equilibrar leveza e seriedade, mas lá
eram os mesmos protagonistas que passavam por entre essas duas situações e tudo
parecia orgânico. Aqui, com duas tramas em tons opostos correndo em paralelo e
demorando para se encontrarem, fica a sensação de que pegaram ideias para dois
filmes distintos e colocaram juntas para tentar preencher a minutagem
necessária para um longa metragem. É esquisito e contrastante ver o Newt fazendo uma divertida dança de acasalamento para capturar uma criatura e logo em seguida vermos Credence (Ezra Miller) sofrer uma brutal violência psicológica.
Redmayne faz de Newt um sujeito
gentil, introvertido e bem intencionado, ainda que um pouco atrapalhado. Ele
tem uma paixão genuína pela pesquisa e por aquelas criaturas, mesmo a maioria
sendo potencialmente perigosa, o que lembra um pouco o Hagrid. Redmayne convoca
bem a persona "cientista
maluco" de Newt, sempre com soluções pouco ortodoxas, que fazem todos
desconfiarem dele, mas no fim acabam funcionando. Em sua jornada ele conta com
a ajuda da ex-auror Tina (Katerine Waterston, do lisérgico Vício Inerente) e não-maj Jacob (Dan Fogler).
O grupo, no entanto, não tem uma
boa química em conjunto, estando juntos mais por necessidade do roteiro do que qualquer outra coisa, e não vende bem essa amizade forte que deveríamos
perceber entre eles. O fato de não crermos neles trabalhando juntos acaba sendo
um dos motivos do filme não funcionar como deveria. Além disso parece
desperdiçar as possibilidades criativas de ter um não-maj entre os
protagonistas, limitando Jacob a apenas fazer longas expressões boquiabertas ao
ser defrontado com magia. Os temas de preconceito e intolerância entre humanos
e bruxos também poderiam render um material interessante, mas são tratadas de
maneira tão superficial que não rendem muita coisa.
Os animais fantásticos do título,
por outro lado, são o ponto alto do filme e há um grande esforço criativo em
nos apresentar a criaturas insólitas e bizarras, com efeitos especiais bastante
competentes. São elas que melhor conseguem trazer a sensação de encantamento
que normalmente se espera de algo passado no universo concebido por J.K
Rowling. Sempre que as criaturas ficam em evidência, incluindo o ultra adorável
Pelúcio, o filme ganha fôlego e aquele encantamento que se espera da franquia
realmente nos conquista. Igualmente interessante é ver como outros lugares
tratam a magia, neste caso como o mundo mágico novaiorquino é bem diferente da
maneira como os britânicos se relacionam com a magia. Há de se destacar também
o trabalho de Ezra Miller como o traumatizado e instável Credence.
O clímax, por outro lado, falha
em criar uma sensação de urgência ou ameaça, nunca convencendo que os
personagens estão realmente em perigo, nem nos deixando em suspense se eles conseguirão
superar a ameaça. Por sinal, imaginei que a essa altura Hollywood já tivesse
aprendido a lição de que colocar os heróis para enfrentarem "nuvens" é
uma péssima ideia, vide Quarteto
Fantástico e o Surfista Prateado (2007) ou Lanterna Verde (2011). O desfecho está ali mais como um grande teaser para um conflito maior a ser
desenvolvido nos filmes seguintes com a ascenção de Grindelwald (Johnny Depp
com um penteado de Pidgeotto).
Na verdade todo filme parece mais
preocupado em estabelecer ideias e conflitos para filmes futuros do que em
realmente contar uma história coesa com início, meio e fim. Os filmes
estrelados por Harry Potter conseguiam o equilíbrio de contar uma história
autocontida ao mesmo tempo que apontavam para arcos maiores e preparavam
eventos futuros, mas esse equilíbrio não está presente aqui e fica a sensação
de algo mais preocupado com os arcos futuros do que os presentes.
Nada disso, no entanto, impede
que Animais Fantásticos e Onde Habitam
seja uma aventura bem divertida que serve para expandir o universo concebido
por J.K Rowling. As tramas paralelas não conseguem se juntar para formar um
todo coeso e tudo parece um grande prólogo para uma história maior que ainda
vai ser contada, mas é um recomeço satisfatório que traz em si a promessa de
aventuras mais interessantes.
Nota: 6/10
Trailer:
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