Quando se viaja para outro país é
inevitável não sentir as diferenças de cultura, comportamento e vivências,
assim como também o é a saudade do lugar que se deixou para trás. Diante desse
sentimento de estar em um ambiente ao qual "não pertencemos", como é
que o transformamos em lar? Como é esse processo no qual um lugar que tão
externo a si se torna parte de si? São essas perguntas que este A Cidade Onde Envelheço tenta explorar.
Teresa (Elizabete Francisca
Santos) é uma jovem portuguesa que decide vir para o Brasil e vai morar com a
amiga, também portuguesa, Francisca (Francisca Manuel) em Belo Horizonte.
Francisca tem receio em abrigá-la por apreciar morar sozinha, mas os modos
expansivos e cheios de energia da amiga a contagiam e elas formam um laço conforme
tentam desenvolver suas relações de pertencimento (ou não) com aquela cidade.
Chama a atenção o naturalismo do
filme e a impressão de que não estamos vendo personagens ou situações
encenadas, mas pessoas reais, errantes pela vida, e seu cotidiano. Não nos
sentimos espectadores, mas colegas de quarto de Teresa e Francisca vivenciando
suas experiências ao lado delas. Uma sensação que remete aos trabalhos do
também mineiro André Novais e o seu Ela
Volta na Quinta (2014).
Não há exatamente uma trama com
conflito bem delineado ou obstáculo a ser superado (e não há problema nenhum
nisso), apenas vamos acompanhando as experiências das duas com a cidade e as
pessoas que nela habitam e como um vínculo e sensação de pertencimento, bem
como ocasionais estranhezas, vão nascendo das pequenas e cotidianas coisas,
como a observação que Francisca faz sobre os banheiros brasileiros misturarem
diferentes tipos de azulejos.
A atriz portuguesa Elizabete
Francisca Santos é magnética e adorável como Teresa, sempre cheia de vida e com
uma observação sagaz na ponta língua, ela responsável pelos momentos mais
divertidos do longa. Sua personalidade espevitada funciona de maneira bastante
orgânica ao lado da personalidade mais contemplativa e melancólica de Francisca
e o filme transita com bastante sensibilidade entre esses dois estados de
espírito.
A Cidade Onde Envelheço acaba se mostrando um delicado e agridoce
estudo sobre como nos relacionamos com as cidades e os vínculos e rupturas que
construímos em nossas vivências nela.
Nota: 8/10
Esse texto faz parte de nossa cobertura do XII Panorama Internacional Coisa de Cinema
Esse texto faz parte de nossa cobertura do XII Panorama Internacional Coisa de Cinema
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