quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Crítica - Jonas e o Circo Sem Lona

Análise Jonas e o Circo Sem Lona


Review Jonas e o Circo Sem Lona
Durante a infância quem nunca se imaginou sendo um astronauta, caubói ou um trapezista de circo? Quem, quando criança, nunca imaginou poder viver uma vida aventurosa e sem grandes preocupações fazendo apenas o que gosta? O documentário Jonas e o Circo Sem Lona nos leva a um personagem que pensa exatamente assim, o garoto Jonas, que tem o sonho de ser um artista de circo e até monta um circo improvisado no quintal de sua mãe com a ajuda de amigos de escola.

Jonas é um garoto que mora na região metropolitana de Salvador, sua mãe e sua avó foram artistas de circo e um tio seu é dono de um e viaja o país fazendo espetáculos. O jovem também deseja se juntar ao circo, mas sua mãe, preocupada com seu futuro, quer ele na escola, mas permite que o garoto monte um circo no quintal e faça espetáculos ao lado de amigos em suas horas vagas.


O menino Jonas é um personagem bastante carismático e é difícil não embarcar em sua paixão genuína e, sob certos aspectos romantizada, do circo. Sempre com uma resposta espirituosa preparada e com um talento natural para as diversas apresentações circenses, é um protagonista que dá gosto em acompanhar. O filme e a diretora Paula Gomes, no entanto, evitam um retrato idealizado demais do garoto, mostrando também como ele é um aluno desinteressado e parece não levar nada que não o circo a sério. Tão a sério que ele chega a reclamar com os colegas que faltam ensaios. As apresentações circenses divertem pela espontaneidade e habilidade dos garotos, que realmente conseguem conquistar a plateia de seu bairro.

A questão é que conforme o tempo passa e as responsabilidades da vida cotidiana sem impõem sobre o garoto, vai ficando mais difícil para ele manter o seu circo. Seus colegas passam a auxiliar os pais e tios em trabalho, diminuindo sua presença, enquanto outros se tornam ausentes por já estarem namorando ou ficando. Ao mesmo tempo, vemos as dificuldades dele na escola e as tentativas de sua mãe e sua avó em explicarem para ele a importância do estudo.

Aos poucos o filme vai se transformando em uma idílica narrativa sobre o poder dos sonhos infantis em uma história sobre o inevitável fim da infância e a necessidade de assumirmos outras responsabilidades. Poderia ser algo pessimista ou sombrio, mas a direção de Paula Gomes, confere um tom agridoce a essa transição e, como as melhores narrativas sobre amadurecimento, reconhece que crescer não significa abandonar por completo nossa criança interior nem abrir mão de todos os nossos sonhos de infância. Isso é melhor simbolizado na tocante cena final que mostra uma conversa entre a diretora e o menino, na qual ele triste pergunta a ela se aquele será mesmo o fim do filme, com ele triste e sem circo, ao passo que ela apenas responde "esse é o fim do meu filme, não o do seu".

Jonas e o Circo Sem Lona é um delicado e sensível estudo sobre infância e amadurecimento, que nos lembra das maravilhas de ser criança e que crescer não significa esquecer a criança que há em si.


Nota: 8/10

Esse texto faz parte de nossa cobertura do XII Panorama Internacional Coisa de Cinema

Trailer

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