quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Crítica - A Luta do Século

Análise Crítica - A Luta do Século


Review - A Luta do Século
Para quem é da Bahia ou de Pernambuco e acompanha o universo esportivo é difícil não conhecer a rivalidade entre os boxeadores Reginaldo Holyfield (baiano) e Luciano Todo Duro (pernambucano), que estende há mais de duas décadas. Mesmo longe do auge de suas formas físicas eles continuam a alimentar essa rivalidade e se enfrentarem nos ringues. O documentário A Luta do Século, tenta recuperar essa história de rivalidade esportiva, ao mesmo tempo que pensa no modo como nos relacionamos com nossos ídolos.

O documentário começa narrando a ascensão dos dois lutadores e a origem da rivalidade, passando pelos problemas pessoais que levaram suas carreiras a ficarem estagnadas ao ponto que explorar a rivalidade era a única cartada que tinham para continuarem lutando e ganhando a vida com o boxe. Inicialmente parece mais uma grande reportagem saída de um programa esportivo do que um documentário. Mesmo quando o filme sai do passado e se move para o presente, mostrando como vivem agora os atletas, ainda parece um daqueles quadros de "por onde andam?" de programas de esporte. A narrativa só ganha corpo quando Raimundão Ravengar, traficante baiano e ex-empresário dos dois, sai da cadeia em liberdade condicional e sugere que os dois marquem uma nova luta.

A partir daí o filme deixa seu caráter de reportagem, meramente seguindo o registro midiático dos personagens, para entender melhor quem são aquelas pessoas, o que os move a continuar lutando e como eles encaram a vida agora que seus anos de glória já estão no passado. Claro, tanto Holyfield quanto Todo Duro são personagens divertidíssimos com suas constantes provocações e coletivas de imprensa que terminaram em pancadaria generalizada e é justamente o carisma dessas duas figuras e suas marcantes trajetórias que nos mantém interessados no filme, mesmo com sua estrutura quadrada.

Há também a ideia de um certo comportamento predatório da mídia e do público em relação aos grandes ídolos, empurrando-os para escanteio e relegando-os à obscuridade assim que surge uma nova mercadoria. O filme vai mostrando como a queda de rendimento dos dois lutadores (além de problemas pessoais e de saúde) somada à subida meteórica do também baiano Acelino "Popó" Freitas, que passou ganhar vários títulos no boxe, contribuiu para que eles fossem rapidamente esquecidos pelos fãs do esporte e imprensa, assim a exploração da antiga rivalidade foi tudo que sobrou aos boxeadores.

O filme inclusive reconhece isso ao nos mostrar imagens da mais recente luta entre eles. Pontuada por uma música carregada de melancolia, a luta não é tratada como um momento de triunfo ou superação, mas com uma certa medida de tristeza, como se reconhecesse que aqueles homens de meia-idade não tem mais outro meio de sobreviver além de continuarem a trocar sopapos para diversão alheia. Aquilo é tudo que resta a eles.

Assim sendo, A Luta do Século consegue divertir graças às personalidades de seus protagonistas, ao mesmo tempo que nos faz pensar em como a sociedade trata seus ícones e isso acaba superando a estrutura pouco interessante do documentário.


Nota: 7/10

Este texto faz parte de nossa cobertura do XII Panorama Internacional Coisa de Cinema

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