Para quem é da Bahia ou de Pernambuco e acompanha o universo esportivo é difícil não conhecer a rivalidade entre os boxeadores Reginaldo Holyfield (baiano) e Luciano Todo Duro (pernambucano), que estende há mais de duas décadas. Mesmo longe do auge de suas formas físicas eles continuam a alimentar essa rivalidade e se enfrentarem nos ringues. O documentário A Luta do Século, tenta recuperar essa história de rivalidade esportiva, ao mesmo tempo que pensa no modo como nos relacionamos com nossos ídolos.
O documentário começa narrando a
ascensão dos dois lutadores e a origem da rivalidade, passando pelos problemas
pessoais que levaram suas carreiras a ficarem estagnadas ao ponto que explorar
a rivalidade era a única cartada que tinham para continuarem lutando e ganhando
a vida com o boxe. Inicialmente parece mais uma grande reportagem saída de um
programa esportivo do que um documentário. Mesmo quando o filme sai do passado
e se move para o presente, mostrando como vivem agora os atletas, ainda parece
um daqueles quadros de "por onde andam?" de programas de esporte. A
narrativa só ganha corpo quando Raimundão Ravengar, traficante baiano e
ex-empresário dos dois, sai da cadeia em liberdade condicional e sugere que os
dois marquem uma nova luta.
A partir daí o filme deixa seu
caráter de reportagem, meramente seguindo o registro midiático dos personagens,
para entender melhor quem são aquelas pessoas, o que os move a continuar
lutando e como eles encaram a vida agora que seus anos de glória já estão no
passado. Claro, tanto Holyfield quanto Todo Duro são personagens
divertidíssimos com suas constantes provocações e coletivas de imprensa que
terminaram em pancadaria generalizada e é justamente o carisma dessas duas
figuras e suas marcantes trajetórias que nos mantém interessados no filme,
mesmo com sua estrutura quadrada.
Há também a ideia de um certo
comportamento predatório da mídia e do público em relação aos grandes ídolos,
empurrando-os para escanteio e relegando-os à obscuridade assim que surge uma
nova mercadoria. O filme vai mostrando como a queda de rendimento dos dois
lutadores (além de problemas pessoais e de saúde) somada à subida meteórica do
também baiano Acelino "Popó" Freitas, que passou ganhar vários
títulos no boxe, contribuiu para que eles fossem rapidamente esquecidos pelos
fãs do esporte e imprensa, assim a exploração da antiga rivalidade foi tudo que
sobrou aos boxeadores.
O filme inclusive reconhece isso
ao nos mostrar imagens da mais recente luta entre eles. Pontuada por uma música
carregada de melancolia, a luta não é tratada como um momento de triunfo ou
superação, mas com uma certa medida de tristeza, como se reconhecesse que
aqueles homens de meia-idade não tem mais outro meio de sobreviver além de
continuarem a trocar sopapos para diversão alheia. Aquilo é tudo que resta a
eles.
Assim sendo, A Luta do Século consegue divertir graças às personalidades de seus
protagonistas, ao mesmo tempo que nos faz pensar em como a sociedade trata seus
ícones e isso acaba superando a estrutura pouco interessante do documentário.
Nota: 7/10
Este texto faz parte de nossa cobertura do XII Panorama Internacional Coisa de Cinema
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário