O game Batman: Arkham Asylum foi um marco nos jogos baseados em
super-heróis, nunca um produto do gênero tinha sido tão competente em
transmitir ao jogador a sensação de controlar um personagem tão cheio de
habilidades e recursos como o Batman. O jogo acertava ao abordar com competência
as principais abordagens ao personagem: seu lado lutador se fazia presente
através de um fluido e veloz sistema de combate baseado em ataque e
contra-ataque, seu lado furtivo era sentido no modo como era possível explorar
o ambiente pendurando-se em gárgulas e andando sob grades no chão para pegar os
inimigos de surpresa, deixando-os com medo e, além disso, seu lado investigador
se fazia presente pelas pequenas investigações e análises de evidências
necessárias para seguir em frente em determinados momentos.
A sequência, Batman: Arkham City, pegava todos esses elementos e os expandia,
colocando o Batman em um amplo cenário aberto cheio de missões secundárias,
novos movimentos e novos equipamentos, além de uma história tão competente
quanto a anterior que trazia um final bombástico. Assim sendo, foi um pouco
decepcionante quando foi anunciado que o próximo game do homem-morcego não
contaria com o roteirista Paul Dini (responsável pelo excelente Batman: A Série Animada nos anos 90),
nem iria lidar com as consequências do final de Arkham City, mas recontaria os primeiros anos do vigilante e seus
primeiros encontros com super-criminosos. Mais preocupante foi o anúncio de que
o novo game não seria desenvolvido pela Rocksteady, responsável pelos
anteriores, mas pela novata WB Games Montreal, elevando os temores de que este
terceiro game na série poderia não ter uma jogabilidade tão afiada quanto os
anteriores.
Esses temores, no entanto,
revelaram-se infundados, já que a nova desenvolvedora manteve todas as mecânicas
dos games anteriores e todas elas continuam funcionando muito bem, do combate
aos cenários furtivos, passando pela exploração e o grande número de missões
secundárias. O problema, no entanto, é que a WB Games Montreal se preocupou
tanto em manter tudo familiar e sem alterações que o jogo possui aquele
sentimento incômodo de que já vimos tudo isso antes. Em termos de combate, por
exemplo, não há nada efetivamente novo, continuamos construindo combos e
contra-atacando com extrema fluidez e velocidade, mas não há uma nova mecânica
ou técnica sequer para trazer frescor à experiência.
Alguns novos inimigos ajudam a
trazer um pouco mais de variedade, como o artista marcial que é capaz de
contra-atacar seus contra-ataques, obrigando o jogador a ser mais rápido e mais
atento, embora nunca pose uma mudança muito brusca para quem dominou o sistema
de lutas dos games anteriores. Os embates com chefões, no entanto, continuam
sendo um ponto alto, sendo interessantes e desafiadores, além de obrigar o
jogador a realmente dominar as habilidades do homem-morcego para ser bem
sucedido, o ponto alto disto talvez sejam as lutas com o Exterminador (que
exige domínio e timing dos ataques e
contra-ataques) e com o Vagalume (no qual é necessário combinar o uso de
diferentes acessórios).
Os novos aparelhos também pouco
acrescentam de novidade, já que seu funcionamento é idêntico aos de
equipamentos de jogos anteriores. A granada adesiva serve à mesma função que o
explosivo congelante do game anterior, a arma anuladora é completamente igual
ao dispositivo disruptor de Arkham City
e a tão alardeada garra remota tem muito do lançador de arpéu, com a diferença
que pode ser usada em combate para prender inimigos e objetos. Talvez o único
dispositivo realmente novo sejam as luvas de choque, que permitem o Batman
atacar diretamente inimigos blindados (sem precisar atordoá-los com a capa) e
portando escudos, além de permitir que ele possa contra-atacar golpes com
bastões eletrificados, algo que era impossível nos outros jogos. Assim sendo, o
equipamento serve apenas para simplificar e facilitar o combate, sem nunca
chegar a modificá-lo ou transformá-lo, alguns inclusive podem argumentar que
desequilibra o combate ao eliminar e ignorar parte dos obstáculos pretendidos.
Os únicos dois elementos
realmente novos são as mecânicas intituladas “Crime em Progresso” e as missões
de análise de cena de crime. O Crime em Progresso, como o nome diz, são missões
aleatórias que surgem de tempos em tempos pedindo ao Batman que impeça um crime
que está acontecendo nas proximidades, consistindo basicamente em enfrentar um
grande número de bandidos com armas e equipamentos um pouco melhores do que
aqueles encontrados vagando pelo mapa. Impedir esses crimes é recompensado com
um bônus de experiência (assim como todas as outras missões e objetivos) que é
usada para subir o nível do personagem e aprender novas habilidades.
A análise de cena de crime são
missões nas quais o Batman usa seu visor de detetive para analisar pistas e
reconstituir crimes de modo a encontrar os culpados. Cada nova pista permite
visualizar como o crime se deu, como uma espécie de vídeo ao vivo no qual o
jogador pode avançar e retroceder os acontecimentos para encontrar novos
indícios até entender por completo tudo que aconteceu. A ideia é ótima e podia
render desafios mentais bastante intricados, mas infelizmente é tudo bastante
simples e linear, bastando acompanhar as setas vermelhas no visor para chegar à
próxima pista sem muito esforço de pensar ou de explorar o ambiente. Já que falei
em exploração, o mapa tem o dobro do tamanho em relação a Arkham City, mas muito dele (a parte norte de Gotham) é reciclado
do game anterior. Ainda assim, há muito a se fazer, como coletar os pacotes de
dados do Charada (que ainda não usa este nome aqui), analisar as pichações no
Anarquia, além várias outras missões secundárias que envolvem vilões como o
Pinguim e o Chapeileiro Maluco.
A narrativa continua fazendo jus
à qualidade da série ao recontar o segundo ano do Batman como vigilante e
remete a elementos de histórias famosas como Batman: Ano Um, O Longo Dia
das Bruxas, A Piada Mortal, O Homem que Ri, entre outras. A trama se
passa na noite de Natal (um modo para justificar as ruas vazias) quando o
mafioso Máscara Negra, farto de ter seus planos frustrados pelo Batman, traz à
cidade oito super assassinos para eliminá-lo, marcando assim o primeiro
encontro do jovem vigilante com figuras como o Pistoleiro, Bane e a Cobra
Venenosa (Copperhead). Ao mesmo tempo, uma nova ameaça paira no ar com a
chegada do misterioso criminoso conhecido apenas como o Coringa, nos revelando
as primeiras interações entre o Batman e o palhaço do crime.
Além da trama principal, o game
também conta com uma série de mapas de desafio que trazem segmentos de combate
e furtividade da mesma forma que os games anteriores. A nova adição, no
entanto, é o multiplayer online. As
partidas online juntam oito jogadores que se dividem em três times, dois com
três jogadores e um com dois. Os dois times de três jogam como criminosos de
guanges rivais (as gangues do Bane e do Coringa) e precisam eliminar os
jogadores do time rival um determinado número de vezes para vencer a partida,
tomar pontos de controle espalhados pelo cenário ajuda a facilitar o processo.
Já a dupla restante controla Batman e Robin e precisa nocautear os bandidos dos
dois times de modo a encher sua barra de intimidação, quando a barra atinge os
100% os bandidos se apavoram e fogem, garantindo a vitória da dupla dinâmica.
Controlando um criminoso, o
jogador é colocado em um jogo de tiro em terceira pessoa bastante convencional,
vemos o personagem de costas, caminhamos, atiramos, nos escondemos sob
coberturas, e eliminamos os outros jogadores nada de novo aqui, mas é tudo
funcional e bem executado, nunca soando desconjuntado ou frustrante. A novidade
na experiência é que além de nos preocuparmos com os tiros do outro time, temos
de prestar atenção em Batman e Robin se esgueirando nas sombras, nos atacando
de pontos de observação no alto ou surgindo de grades no chão. Assim o jogador
é estimulado a ficar sempre atento e em uma constante tensão, já que a ameaça
pode surgir de qualquer lugar e te pegar de surpresa. Jogar com os dois
super-heróis funciona igual aos modos de um jogar, mas aqui há uma maior
sensação de empoderamento, já que estamos lidando com jogadores de verdade, que
realmente prestam atenção e se adequam às suas ações, sendo necessária bastante
versatilidade e habilidade para se esgueirar despercebido diante dos outros
jogadores.
Ao final de cada partida todos
ganham experiência e a cada novo nível são habilitadas novas armas, habilidades
e roupas para customizar os personagens. Os jogadores também recebem dinheiro
para comprar pacotes de equipamentos que trazem também novas vestimentas e
itens.
O problema do multiplayer, no
entanto, é a repetição. Com apenas um modo de jogo não há muita variação nas
partidas e o mesmo pode ser dito do cenário, já que são apenas quatro e nenhum
deles tem um design muito dinâmico ao
ponto de dotar cada um de possibilidades estratégicas singulares. Outro
problema é a dificuldade em encontrar partidas e o tempo enorme que leva para
conseguir juntar oito jogadores no lobby
virtual para começar uma partida, transformando a experiência em um exercício
de paciência. A paciência é testada ainda com os constantes problemas de
servidores (pelo menos no PS3, no qual joguei este jogo), que estão
constantemente indisponíveis além das muitas quedas de serviço que ocorrem no
meio das partidas. Assim sendo, muitas vezes tive a sensação de estar jogando
uma espécie de versão beta do
multiplayer, já que tudo é muito simples e sem polimento, espero que a WB
Montreal corrija isso futuramente via patches,
melhorando os servidores e adicionando novos modos e objetivos ao multiplayer. O modo era bastante
promissor, mas ainda não alcança todo seu potencial.
No final das contas, este Batman: Arkham Origins acaba sendo mais
do mesmo, tenta inovar através de seu multiplayer
com uma proposta diferenciada, mas acaba faltando-lhe polimento. No entanto,
repete elementos que são tão competentes e bem construídos que ainda assim
acaba valendo a experiência.
Nota: 7/10
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