Muito se fala sobre o olhar
crítico que a série Black Mirror traz
para a relação entre a humanidade e a tecnologia, mas boa parte dessas
discussões deixa de lado uma faceta bem importante da série de antologia. Black Mirror é também centrada e
sustentada pelos seus complexos e cuidadosos estudos de personagem, usando a
tecnologia como uma projeção da consciência humana. Um meio através do qual as
inseguranças, vícios, anseios e demandas do ser humano ficam ainda mais
evidentes. Afinal, se enquanto humanos somos incompletos e cheios de contradições,
é justo que boa parte daquilo que produzimos, incluindo a tecnologia, seja um
espelhamento por vezes sombrios de atributos nossos que preferimos tentar
esquecer. Essa quarta temporada de Black
Mirror continua sua investigação sobre a conduta humana e, em geral,
continua bastante consistente ainda que alguns episódios deixem a desejar.
sábado, 30 de dezembro de 2017
Crítica - Black Mirror: Quarta Temporada
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Reflexões Boêmias: Piores filmes de 2017
Quando todo ano acaba chega a
hora de fazer um balanço de tudo que aconteceu e isso não é diferente com
filmes. É aquele momento de ponderar sobre tudo que assistimos ao longo do ano
e pensarmos naquilo que 2017 teve de pior e melhor a oferecer. Como prefiro dar
más notícias primeiro, então começo meu balanço do ano com os piores filmes que
assisti ao longo do ano. A lista a seguir leva em conta os filmes lançados
comercialmente no Brasil, em cinema ou direto para vídeo, em 2017.
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Reflexões Boêmias
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Crítica - A Origem do Dragão
Em 1964 o astro das artes
marciais Bruce Lee enfrentou o monge shaolin Wong Jack Man em uma luta privada
testemunhada apenas por um punhado de pessoas. Os relatos sobre quem venceu o
embate divergem bastante e os dois lutadores apresentavam sua própria versão
dos resultados. É uma história interessante que sem dúvida poderia render um ótimo
filme, mas A Origem do Dragão não é
esse filme.
Se baseando na célebre luta, o
filme começa com a chegada de Wong Jack Man (Yu Xia) na cidade de São
Francisco. Bruce Lee (Philip Ng) recebe a notícia da chegada do monge à sua
cidade como uma ameaça a tudo que construiu, crendo que os shaolin querem
puni-lo por ensinar kung fu aos brancos. Um aluno de Lee, Steve McKee (Billy
Magnussen) acaba se aproximando de Wong e coloca os dois mestres em um caminho
de conflito.
Yu Xia e Philip Ng fazem o melhor
que podem como Wong e Lee, sendo mais que eficientes nos aspectos físicos dos
personagens e na linguagem corporal do modo como eles lutam, no entanto são
limitados por um texto raso que faz uma representação bastante unidimensional
dos dois artistas marciais. Wong é um monge humilde preocupado em preservar a
essência do kung fu enquanto Lee é um sujeito preocupado com fama e sucesso.
Por mais que Lee fosse de fato um sujeito superconfiante e até mesmo arrogante,
o texto pesa tanto a mão nesse aspecto do personagem, deixando quase que de
lado seu carisma e magnetismo pessoal, que durante boa parte do filme chega a
ser difícil se importar com Lee por conta de seu egocentrismo.
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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
Crítica - Bright
Inicialmente Bright parece uma versão com criaturas fantásticas do competente drama
policial Marcados Para Morrer (2012),
também comandado por David Ayer, ao acompanhar o cotidiano de uma dupla de
policiais em patrulha até que eventualmente tudo dá errado. É possível pensar
também que o filme é uma espécie de Distrito
9 (2009) que troca humanos por alienígenas. Ainda que pareça uma mistura de
elementos familiares, os minutos iniciais carregam uma promessa de algum tipo
de metáfora social interessante, mas isso nunca se confirma.
A trama se passa em um universo
alternativo no qual humanos coexistem com criaturas fantásticas como elfos,
orcs e fadas. A história começa com o policial Ward (Will Smith), que está
descontente em ter que trabalhar com um parceiro orc, Nick (Joel Edgerton), o
primeiro da espécie a ser admitido na força. As coisas se complicam para eles
quando encontram uma jovem elfa, Tikka (Lucy Fry), portando uma varinha mágica,
um artefato de grande poder. Tikka é uma Bright, uma pessoa com dons mágicos
que pode extrair poder de artefatos como a varinha.
A este ponto as metáforas sociais
construídas no início são abandonadas para que o filme se torne uma espécie de O Senhor dos Anéis ambientado nos dias
atuais, com um grupo de heróis correndo contra o tempo para impedir que um
artefato de grande poder caia em mãos erradas e seja usado para ressuscitar o
"senhor das trevas".
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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
Crítica - O Rei do Show
Musicais costumam abordar a
importância dos sonhos em nossa vida, usam o canto e dança para mostrar como a
arte pode inspirar, motivar e nos mover adiante. Este O Rei do Show, levemente inspirado na vida de P.T Barnum, supostamente
o primeiro milionário do ramo do entretenimento, segue à risca aquilo que se
espera dos musicais.
O filme acompanha P.T Barnum
(Hugh Jackman) desde suas origens humildes até o estrondoso sucesso de seu
circo e outros empreendimentos no show business.
É uma trama relativamente previsível e, como é típico nessas histórias sobre
fama e riqueza, eventualmente o sucesso sobe à cabeça de Barnum e ele fica à
beira de perder tudo que conquistou.
A narrativa traz um embate entre
a cultura popular e a cultura "erudita" ou "tradicional",
elemento presente desde o musicais seminais como O Cantor de Jazz (1927) a produtos mais recentes como Moulin Rouge (2001). Outro tema
constante ao longo da trama é a questão da aparência e do preconceito, já que o
circo de Barnum tem seu elenco formado por "aberrações" como uma
mulher barbada ou uma albina. A trama evidencia que a verdadeira aberração não
reside no aspecto físico, mas na falta de humanidade, na intolerância e ódio
aos diferentes, na vontade de humilhar e excluir aqueles que não atendam a
padrões de "normalidade". Nesse sentido, o filme quase funciona como
uma versão musical de Freaks (1932),
do Tod Browning, ou de American Horror Story Freak Show.
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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Drops - Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso e A Noite é Delas
Hoje na nossa seção de textos
mais curtos, abordaremos rapidamente as comédias Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso e A Noite é Delas, ambas com muito potencial, mas que infelizmente
decepcionam.
Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso
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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Crítica - Corpo e Alma
Dois trabalhadores de um
matadouro descobrem que estão partilhando os mesmos sonhos e tentam descobrir o
que é que os aproxima. O drama húngaro Corpo
e Alma começa com retraída Maria (Alexandra Bórbely), uma mulher que
provavelmente se encontra no espectro do autismo, e Endre (Géza Morcsányi), o
administrador do matadouro, se dando conta de que ambos tem o mesmo sonho
recorrente com dois cervos em uma floresta congelada.
A narrativa demora um pouco a engrenar,
já que desde o início a montagem das imagens dos cervos sendo seguidas por
imagens alternadas do cotidiano dos dois personagens deixa evidente a relação
que há entre os três elementos. Ainda assim, o filme se arrasta até o momento
em que finalmente resolve estabelecer a conexão entre a dupla de protagonistas
e os animais.
O início também fica truncado por
conta dos excessos de subtramas e temas que o filme tenta retratar. Há uma
quantidade considerável de imagens mostrando o cotidiano do matadouro,
incluindo momentos bastante gráficos que mostram o abate dos bovinos e a
retirada das suas partes. Era de se imaginar que isso fosse ter alguma
repercussão no filme, que a trama fosse abordar a indústria bovina ou o
tratamento aos animais, mas nada disso está presente no restante do filme e
todo esse detalhamento não serve a propósito algum.
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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
Crítica - Star Wars: Os Últimos Jedi
Havia tanta expectativa ao redor
deste Star Wars: Os Últimos Jedi que
sinceramente tive medo que ele não teria como corresponder ao tanto que se
esperava dele. Ainda acho que O Império
Contra-Ataca (1980) é o melhor da franquia, mas este novo filme não chega a
fazer feio perto dos melhores exemplares da saga ou mesmo do excelente
anterior.
A trama começa mais ou menos no
mesmo ponto em que O Despertar da Força (2015)
nos deixou. Rey (Daisy Ridley) finalmente encontrou Luke Skywalker (Mark
Hammill) para iniciar seu treinamento Jedi. Enquanto isso a Resistência
liderada pela general Leia (Carrie Fisher) precisa usar os poucos recursos que
tem para fugir da fúria da Primeira Ordem, que avança cada vez mais pela
galáxia depois de eliminar os planetas sede da Nova República.
Falar mais seria dar spoilers e, acreditem, é melhor assistir
sabendo o mínimo possível, mas impressiona o quanto o filme se compromete com o
desenvolvimento dos personagens, em delinear seus conflitos, suas angústias,
suas falhas. Isso não apenas para novatos como Rey e Kylon Ren (Adam Driver) quanto
para veteranos como Luke, cuja imagem heroica que temos dele é posta em questão
em alguns momentos.
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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Crítica - Sem Retorno
A ideia inicial deste Sem Retorno parece bem promissora. Um
rico empresário, Damian (Ben Kingsley), está com câncer terminal e com poucos
meses de vida. Ele pensa em colocar seus assuntos em ordem e se preparar para o
inevitável quando é abordado pelo cientista Albright (Matthew Goode) que lhe
propõe uma alternativa: transferir sua consciência para um novo e jovem corpo
criado em laboratório para servir a esse tipo de transferência. Aceitar isso,
no entanto, significa que ele terá que deixar seu corpo original morrer e
abandonar sua antiga vida. O empresário aceita passar pelo procedimento e
acorda em um corpo mais jovem (Ryan Reynolds), mas logo descobre seu corpo não
é exatamente o que foi prometido.
É uma premissa que poderia render ao discutir noções de imortalidade, o propósito da vida e
ética científica, mas todas essas ideias complexas são jogadas foras lá pelos
quarenta minutos de filme quando ele decide focar apenas na ação. Não seria um
problema tão grave se pelo menos fosse capaz de entregar tiroteios e
perseguições empolgantes, mas tudo é muito burocrático, faltando intensidade e
urgência.
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terça-feira, 12 de dezembro de 2017
Crítica - South Park: 21ª Temporada
As duas temporadas anteriores de South Park tinham investido em tramas
contínuas e arcos que se desenvolviam ao longo da temporada inteira. Era uma
experimentação inesperada para a série e mostrava que os criadores Matt Stone e
Trey Parker ainda estavam dispostos a brincar com a própria fórmula e tentar
coisas novas. Nesta vigésima primeira temporada, eles resolvem voltar a um
formato mais episódico com histórias isoladas e menos dependente de
continuidade, mas o resultado acabou sendo um pouco irregular.
Os problemas começam já no
primeiro episódio, White People
Renovating Houses, que tenta zoar a marcha neonazista ocorrida no interior
dos Estados Unidos esse ano. A série trata a situação de uma maneira
relativamente rasa, longe da contundência e acidez pela qual South Park é famosa, abordando tudo como
apenas uma ação estúpida de um monte de caipiras burros. Não deixa de ter certa
razão (eles são caipiras burros), mas ao mesmo tempo suaviza de algum modo a
gravidade do caso, já que ter pessoas com armas e símbolos nazistas gritando o
extermínio de judeus e negros nas ruas é algo que está em um outro patamar para
além da estupidez sendo esse um dos raros casos em que a série parece não
compreender plenamente o que está satirizando.
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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
Lixo Extraordinário - Meu Parceiro é um Dinossauro
The Room, abordado anteriormente nessa coluna, era daqueles filmes
que é tão ruim que se torna divertido de ver. Meu Parceiro é um Dinossauro (Theodore Rex no título original), o filme ruim a ser explorado hoje
aqui, no entanto, pertence a uma categoria diferente: é daqueles que te faz
querer queimar o olhos com ferro quente para não ter que aturar mais um segundo
dele e desejar ser capaz de "desver" toda essa porcaria.
Os Bastidores da Produção
Em 1995, quando esse filme foi
lançado, a atriz Whoopi Goldberg estava em alta. Ela tinha vencido um Oscar por
seu papel em Ghost: Do Outro Lado da Vida
(1990) e tinha alcançado sucesso financeiro e de público com Mudança de Hábito (1992) e Mudança de Hábito 2 (1993). Diante desse
sucesso, a atriz foi procurada pela produtora New Line (que hoje pertence à
Warner) para participar deste Meu
Parceiro é um Dinossauro e Whoopi chegou a dar verbalmente sua aceitação. A
New Line tocou a produção adiante com o aceite da atriz, mas posteriormente
Whoopi mudou de ideia (imagino que tenha visto o roteiro ou o horrendo
dinossauro animatrônico).
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Lixo Extraordinário
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Conheçam os indicados ao Globo de Ouro 2018
A Hollywood Foreign Press Association
(HFPA), a associação da imprensa estrangeira de Hollywood, anunciou hoje, 11 de
novembro, os indicados aos Globos de Ouro. A entrega dos prêmios acontecerá em
07 de janeiro de 2018 e será apresentada por Seth Meyers. Entre os indicados, o
filme A Forma da Água, de Guillermo
del Toro, recebeu mais indicações no campo do cinema enquanto que a minissérie Big Little Lies foi a mais mencionada no
campo da televisão. Entre as indicações também houve controvérsia com o fato do
filme Corra!, um terror que trata
sobre o racismo e a dominação do corpo negro, ter sido indicado pela categoria
comédia sendo que o filme não chega perto de se encaixar no gênero. Confiram
abaixo a lista de indicados.
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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
Crítica - Your Name
O anime Your Name teve uma passagem relâmpago pelos cinemas
brasileiros. Uma pena, já que apesar de alguns problemas no terço final da
trama ele merecia ser mais visto pela sua trama de viagens no tempo e amor
juvenil. Agora que o filme já está disponível em serviços de streaming talvez o público finalmente
possa dar uma chance a ele.
A narrativa mostra dois jovens
que se conectam de uma maneira insólita. Taki é um adolescente que mora em
Tóquio e trabalha como garçom em um restaurante, Mitsuha é uma garota que mora
em uma pequena vila do interior do Japão e ajuda sua avó a fazer tecelagem. O
que une essas duas pessoas em lugares e tempos diferentes é o fato de que
ocasionalmente eles acordam nos corpos um do outro e precisam encontrar uma
maneira de fazer suas vidas funcionarem a despeito dessa ocorrência bizarra.
Assim, eles começam a deixar anotações um para o outro em seus celulares,
cadernos e nos seus corpos, para que o outro saiba o que precisam fazer. Os
dois também tentam descobrir qual a razão disso acontecer com eles. É
basicamente uma mistura de Sexta-Feira
Muito Louca (2003) com A Casa do Lago
(2006).
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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Crítica - Lucky
Todos vamos morrer um dia,
sabemos disso, é inevitável. A questão é que apesar de termos consciência desse
fato, nunca pensamos muito à respeito. A morte sempre parece algo distante,
algo que acontece o tempo todo com os outros, mas não conosco. O que acontece
quando percebemos que nosso tempo no mundo pode estar chegando ao fim? Como
lidar com essa perspectiva? É sobre isso que este Lucky vai tratar ao acompanhar o cotidiano do aposentado Lucky
(Harry Dean Stanton), um homem de noventa anos que mora sozinho.
Um dia, o protagonista tem um
desmaio súbito em casa e vai ao hospital, seus exames revelam que não há
qualquer problema em sua saúde e que ele está em ótimo estado para alguém de
sua idade. De acordo com seu médico, é possível que seja apenas a idade e seu
corpo deixando de funcionar como deveria. Assim, Lucky é confrontado com sua
própria mortalidade e com a necessidade de buscar um sentido em seus últimos
dias de vida.
O filme repousa quase que
integralmente sobre os ombros de Harry Dean Stanton, sendo o último trabalho do
agora falecido ator. Praticamente todo o tempo em cena, Stanton é ótimo ao
fazer de Lucky um sujeito ranzinza e antiquado, mas sem deixar de ter uma certa
medida de simpatia e bom humor, vivendo em uma rotina extremamente repetitiva.
Conforme se depara com a possibilidade de fim, no entanto, é possível ver uma
tocante vulnerabilidade por baixo de sua superfície durona. Muitas vezes ele
chega a agir com agressividade simplesmente por não saber ou não querer lidar
com a possibilidade de morrer, como acontece na cena em que ele vê seu amigo
Howard (David Lynch) preparando seu testamento com um advogado (Ron
Livingston).
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
Crítica - Atlanta: 1ª Temporada
Atlanta é uma série esquisita. Na superfície parece ser mais uma
série sobre um jovem à deriva que procura seu lugar no mundo e tenta fazer
sucesso no disputado meio artístico, mas estruturalmente faz muitas escolhas
pouco usuais que nos dão uma constante sensação de estranhamento. A série, no
entanto, usa esse estranhamento a seu favor e é sua esquisitice que a faz se
destacar.
Na trama, Earnest "Earn" Marks (Donald Glover,
também roteirista e criador da série) é um jovem que largou a faculdade, está
sem dinheiro e sem ter onde morar, dormindo de favor na casa da namorada
Vanessa (Zazie Beets, que será a Domino em Deadpool
2), com quem tem uma filha. Ele vê uma oportunidade de mudar sua vida
quando seu primo Alfred (Brian Tyree Henry) começa uma carreira no rap sob o
nome de Paper Boi e se prontifica a trabalhar com ele como seu agente. Assim
Earn e Alfred tentam ascender no cenário do rap em Atlanta.
Boa parte do estranhamento se dá
pelo fato de uma grande maioria dos episódios começarem in media res (literalmente "no meio das coisas" em
latim), com os personagens já em meio a alguma ação cujo contexto não é dado ao
espectador. Essa escolha ajuda a nos desarmar de nossas expectativas, nos
deixando sem saber o que esperar ou sem ter noção do que virá a seguir e essa
falta de expectativa faz as ocorrências inesperadas e personagens insólitos que
surgem o tempo todo ainda mais divertidos.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
Crítica - Extraordinário
Desde pequenos somos ensinados a
tratar os outros como gostaríamos de sermos tratados, a não julgar a conduta
dos outros sem conhecê-las e sabermos o que realmente estão passando e a
valorizar as pessoas pelo que elas são e não por sua aparência. Extraordinário é um filme que visa nos
lembrar de todas essas coisas e, embora não reinvente a roda, cumpre seu papel
com muita sensibilidade.
A trama é protagonizada por
Auggie (Jacob Tremblay), um garoto que nasceu com vários problemas de saúde e
desde bebê precisou passar por várias cirurgias, deixando-o com o rosto
deformado. Por um bom tempo ele estudou em casa, sob a tutela de sua mãe,
Isabel (Julia Roberts), mas sua família acha que é hora dele ir para uma escola
de verdade e começar a interagir com outras crianças. Como era de se esperar, nem
todos os seus colegas o aceitam e ele começa a sofrer bullying.
É óbvio desde o início que
eventualmente Auggie eventualmente será aceito pelos colegas e todos aprenderão
valiosas lições de vida, mas sua força reside no modo como essa história é
contada. Dividido em capítulos que recontam os eventos da trama sob a
perspectiva de diferentes personagens, o filme constantemente solicita que
repensemos o que achávamos saber sobre os personagens. Se inicialmente Miranda
(Danielle Rose Russell) parece uma típica megera adolescente ao se afastar de
Via (Izabela Vidovic) por achar que ficou popular demais para continuar andando
com a antiga amiga, quando o filme adota a perspectiva de Miranda percebemos
que ela é uma garota triste e solitária que se afastou da amiga por conta de
uma mentira tola e que se arrepende do que fez.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
Crítica - The Sinner
Uma mulher está em um piquenique com seu marido e filho quando simplesmente se levanta e esfaqueia brutalmente um homem até a morte. Parecendo estar fora de si, ela é contida pelo marido até que a polícia chega. Ela admite ter matado o homem, mas não consegue explicar o que a levou a isso, sua vítima era um completo desconhecido, nunca havia lhe feito nada, ela não tem nenhum histórico de doença mental ou agressividade e ainda assim matou um homem violentamente. O que teria levado Cora (Jessica Biel) a cometer o crime? Ela está sendo sincera ou escondendo algo? Estaria ela lúcida ou em um estado de surto? Essas e outras perguntas dão início à instigante série The Sinner que traz um exame complexo sobre culpa e crime. O texto a seguir pode conter alguns SPOILERS.
Boa parte do mérito da série
repousa sobre os ombros de Jessica Biel, se sua personagem não funcionasse
seria impossível embarcar nos dilemas que a narrativa propõe. Ela é serena e
lúcida durante boa parte do tempo, mas permite que percebamos severos traumas
sob a superfície de mãe de família pacata. Ela não foge à responsabilidade do
assassinato que cometeu, no entanto claramente esconde segredos da polícia.
Essa ambiguidade e incapacidade de sabermos se ela é uma mulher extremamente
traumatizada, uma sociopata fria enganando todos ou simplesmente alguém que
momentaneamente perdeu o controle torna Cora uma figura fascinante e cheia de
camadas, mantendo o nosso interesse durante os oito episódios da série.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Crítica - Assassinato no Expresso do Oriente
O famoso romance de Agatha
Christie Assassinato no Expresso do
Oriente já tinha recebido uma excelente adaptação de mesmo nome dirigida
por Sidney Lumet em 1974, que chegou a ser indicada a seis Oscars e levou um
para a atriz Ingrid Bergman. Assim sendo, há alguma razão para se fazer uma
nova adaptação sendo que o filme de 1974 se sustenta perfeitamente ainda hoje e
essa nova versão não faz nenhuma mudança na sua ambientação no final dos anos
20 ou na resolução do crime em si? Bem, não, a nova versão é bem desnecessária,
ainda que consiga ser competente em recriar a famosa narrativa policial.
A trama se mantem a mesma dos
livros. O famoso detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) está viajando no
Expresso do Oriente quando uma nevasca interrompe a viagem e um dos
passageiros, o sinistro Ratchett (Johnny Depp), é encontrado morto em sua
cabine que estava supostamente trancada. Com todos os passageiros como
suspeitos, o gerente da linha de trem, o Sr. Bouc (Tom Bateman), pede que
Poirot investigue o caso antes que o trem seja consertado e chegue à próxima
estação, na qual o culpado poderá
desembarcar e evitar a captura. Poirot precisa então correr contra o tempo para
resolver esse mistério.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
Crítica - Star Wars Battlefront 2
Quando escrevi sobre o beta de Star Wars Battlefront 2 falei que o jogo
prometia mais conteúdo que o antecessor, mas também preocupava pelo seu
desequilibrado e mal concebido sistema de progressão. Agora, com o produto
final em mãos, é possível dizer que tanto as impressões positivas quanto
negativas se confirmaram.
A primeira coisa que chama a
atenção é a presença de um modo campanha, algo ausente do jogo anterior. A
história é centrada em Iden Versio, líder do esquadrão de elite das tropas
imperiais. A narrativa começa durante a batalha de Endor em O Retorno de Jedi (1983) e é bem
interessante poder ver esses eventos sob a perspectiva de um membro do império.
Essa escolha poderia resultar em
uma trama cheia de questões morais complexas, mas antes que a narrativa se
torne sombria demais tudo dá uma guinada para um caminho bem previsível. Ainda
assim poderia ser uma trama satisfatória se focasse na evolução e aprendizado
de Iden, mas a campanha constantemente deixa de lado sua protagonista para
colocar os jogadores da pele de personagens conhecidos da franquia, fazendo de
Iden uma coadjuvante em sua própria história. Ao menos consegue afastar a
sensação de ser um mero encadeamento de partidas multiplayer com bots ao
oferecer algo que realmente tem cara de um conteúdo pensado para ser single player.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
terça-feira, 21 de novembro de 2017
Crítica - Boneco de Neve
Apesar de não ter lido os
romances protagonizados pelo detetive Harry Hole, já ouvido falar dos trabalhos do escritor norueguês Jo Nesbo sempre de maneira positiva. Foi com expectativa e boa vontade que me aproximei deste Boneco de Neve e acabou sendo lamentável
que o resultado tenha sido tão decepcionante.
A trama é centrada em Harry Hole
(Michael Fassbender), um policial com problema de alcoolismo em Oslo, capital
da Noruega, que começa a receber cartas com mensagens cifradas e o desenho de
um boneco de neve. Inicialmente ele ignora as cartas, mas quando mulheres
começam a desaparecer e bonecos de neve são encontrados nas cenas dos crimes,
fica evidente que há um serial killer
à solta.
O diretor Thomas Alfredson (do
ótimo Deixa Ela Entrar) usa as
paisagens gélidas e nevadas do interior da Noruega para criar uma sensação constante
de desolação e isolamento, nos fazendo praticamente sentir a frieza extrema
desses ambientes. A bela fotografia, porém, acaba sendo o principal ponto
positivo em uma narrativa cheia de problemas.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
Crítica - A Vilã
Com um começo intenso em uma
longa sequência de ação quase toda em primeira pessoa, este sul-coreano A Vilã já mostra logo de cara que sua
força reside na sua pancadaria em ritmo desenfreado e o restante do longa faz
valer essa promessa ainda que tenha sua parcela de problemas.
A trama é centrada em Sook-hee
(Ok-Bin Kim), uma mulher que desde a infância foi treinada para ser uma
assassina. Ela é recrutada por uma agência que lhe propõe um acordo: depois
trabalhar para eles durante 10 anos, Sook-hee estará livre para fazer o que
quiser e retomar sua vida. Ela aceita, mas conforme progride em seu trabalho
acaba encontrando um homem de seu passado e isso coloca tudo em risco.
De início os cortes bruscos entre
o presente e os flashbacks da
protagonista causam algum incômodo e levam algum tempo para nos acostumarmos
com o modo seco com o qual o filme transita entre as duas temporalidades, mas
depois de algum tempo é possível se acostumar a essas escolhas estilísticas sem
muito problema. Por outro lado, o filme perde um pouco de ritmo ao tentar
complicar sua trama mais do que o necessário, tentando criar dúvidas sobre as
motivações e intenções dos vários personagens ao redor da protagonista e
durante um bom tempo há a impressão de que a narrativa está andando em
círculos.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
domingo, 19 de novembro de 2017
Crítica - O Justiceiro: 1ª Temporada
Depois de sua ótima aparição da
segunda temporada de Demolidor era
apenas uma questão de tempo que o Justiceiro ganhasse sua própria série e isso
finalmente aconteceu nesta competente primeira temporada de O Justiceiro.
A trama começa com Frank (Jon
Bernthal) eliminando os últimos alvos de sua vingança contra os responsáveis
por terem matado sua família. Crendo que seu trabalho estava encerrado, o
Justiceiro passa a viver sob uma identidade falsa e trabalhando em um emprego
de construção. Sua paz, no entanto, dura pouco quando seu passado de soldado
volta para atormentá-lo na investigação comandada pela agente Madani (Amber
Rose Revah), que suspeita que a unidade de Frank estava envolvida em crimes de
guerra e atividades ilegais. Frank, por sua vez, é abordado pelo misterioso
Micro (Ebon Moss-Bachrach), que tem provas que o alto comando militar e da CIA
estavam por trás do esquema de drogas que Frank creditava apenas ao general
responsável por sua unidade e desta maneira o Justiceiro recomeça sua jornada
de vingança.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
Crítica - American Horror Story: Cult
Fiquei bastante intrigado quando
o showrunner Ryan Murphy anunciou que
este American Horror Story: Cult,
sétima temporada de sua série de antologia de terror, iria abordar o resultado
das últimas eleições dos Estados Unidos. Por um lado essa escolha poderia
render uma ótima sátira social, por outro a proximidade histórica com os
eventos trazia o risco de algo raso, sem a plena compreensão do impacto desses
eventos.
A temporada é bem competente ao
evocar o clima de tensão social que tomou conta dos EUA durante e depois da
eleição, no qual pessoas de ambos lados do espectro político passaram a usar o
alinhamento político como principal e talvez única maneira de medir o caráter
dos outros. Em meio disso tudo está Ally (Sarah Paulson), uma eleitora de
Hillary Clinton que viu suas várias fobias saírem de controle desde a derrota
nas eleições. O caminho de Ally e sua esposa Ivy (Alison Pill) se cruza com o
de Kai (Evan Peters), um jovem eleitor de Donald Trump que parece ter votado no
político não por crer exatamente nele, mas por desejar o clima de tensão e
insegurança que se instauraria no país com sua vitória.
A primeira metade da temporada é
ótima ao satirizar os dois lados, com os republicanos sendo um bando de
preconceituosos violentos enquanto que os democratas são ultra sensíveis e se
ofendem ou se assustam com qualquer coisa. Esse clima de tensão é evidenciado
pelas aparições de palhaços sinistros e os carros que passam à noite pela
vizinhança borrifando algo misterioso no quintal das casas. Será que tudo isso
é real ou fruto de paranoia? Será que Kai tem algum grande plano maligno ou
tudo é uma grande trollagem?
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
Crítica - Arábia
Não sei exatamente explicar o
motivo, mas algo em Arábia me fez
lembrar de Vidas Secas, tanto o
romance de Graciliano Ramos quanto a adaptação para o cinema de 1963 de Nelson
Pereira dos Santos. Talvez seja nos títulos, ambos remetendo a uma aridez
hostil. Talvez seja nas jornadas de ambos protagonistas, homens brutos,
endurecidos por uma vida difícil, em constante trânsito em busca de trabalho.
Talvez seja o senso de que esses personagens andam em círculos e nada irá
melhorar para eles. De todo modo, Arábia
é um retrato do cotidiano do trabalhador brasileiro tal como Vidas Secas fora, guardadas as devidas
proporções, claro.
A trama começa acompanhando André
(Murilo Caliari) um jovem que mora com o irmão mais novo no interior de Ouro
Preto. Seus pais estão sempre viajando, mas ele é ajudado pela tia que trabalha
como enfermeira em uma fábrica próxima. Um dia sua tia precisa cuidar de um
operário que teve um acidente, Cristiano (Aristides de Souza), e pede a André
que vá até a casa do operário para pegar algumas roupas. Lá André encontra um
caderno com anotações de Cristiano no qual ele relata sua vida e o filme passa
a seguir a história do operário.
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Vencedores do XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema
O XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema terminou ontem, 15 de novembro, e após a sessão de encerramento que apresentou o longa-metragem Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans, foram entregues os prêmios das mostras competitivas. O filme Café com Canela foi um dos mais mencionados durante as premiações. Confiram aqui a lista completa:
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quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Crítica - Liga da Justiça
O recente Mulher Maravilha mostrou que a Warner/DC podia aprender com os
erros dos filmes anteriores. Já este Liga
do Justiça, embora tenha sua parcela de problemas, continua a colocar o
universo cinematográfico da DC nos eixos ao introduzir novos heróis e apostar
na dinâmica entre eles.
A trama começa quando o Batman
(Ben Affleck) começa a detectar aparições de criaturas alienígenas ao redor do
mundo e suspeita que um ataque ao planeta está à caminho. Ao mesmo tempo a ilha
das amazonas é atacada pelo Lobo das Estepes (voz de Ciaran Hinds), um
guerreiro alienígena que veio à Terra para recuperar três Caixas Maternas,
artefatos de grande poder escondidos em nosso planeta desde tempos imemoriais.
A rainha Hipólita (Connie Nielsen) avisa Diana (Gal Gadot) da ameaça iminente e
ela e Bruce tentam reunir outros seres especiais para combater a ameaça.
O começo do filme é bem acelerado
e bagunçado conforme a trama tenta dar conta de introduzir ao menos três novos
personagens e seus núcleos de coadjuvantes nas menos de duas horas de projeção.
A narrativa corre para colocar todas as suas peças no tabuleiro, engatando uma
cena cheia de diálogos explicativos depois da outra no qual muito é dito, mas
pouco é sentido em relação aos dilemas de cada herói, já que é tudo muito
rápido.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
terça-feira, 14 de novembro de 2017
Crítica - Antonio Um Dois Três
Em Antonio Um Dois Três, o jovem português Antonio (Mauro Soares) não
sabe o que quer da vida. Ele pensa em voltar a morar com o pai, pensa em tentar
voltar com a ex-namorada, pensa em largar a faculdade, mas não sabe o que
fazer. Tudo muda quando ele conhece a brasileira Débora (Deborah Viegas) e ele
tem a certeza de que quer ficar com ela. A brasileira, no entanto, tem uma
viagem marcada para a Rússia e eles não podem ficar juntos. Aí é que o filme dá
sua principal guinada e recomeça tudo do zero. Como o título diz, o filme se
divide em três segmentos nos quais Antonio tenta ficar com Débora.
A estrutura remete bastante a Corra Lola, Corra (1998) do alemão Tom
Tykwer que também "resetava" algumas vezes a linha temporal dos
eventos até que a protagonista acertasse o que tinha que fazer. O longa de
Tykwer também já trabalhava esses elementos de tentativa e erro, mas este Antonio Um Dois Três tenta usar isso
para falar também de uma juventude à deriva, que não sabe o que fazer da vida e
constantemente tenta se reinventar.
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
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