Controle de armas é um assunto
que vem sendo bastante discutido nos Estados Unidos, em especial pela
constância dos tiroteios massivos que vem se tornando quase que corriqueiros.
Este Armas na Mesa é um suspense
político que tenta discutir a questão ao mesmo tempo que mostra as táticas das
empresas de lobby para manter a
situação do jeito que está. Apesar das boas intenções, o filme acaba caindo na
vala comum do thriller, reproduzindo
vários clichês e fazendo pouco para efetivamente debater as questões que se
propõe.
A trama segue a lobista Elizabeth
Sloane (Jessica Chastain), uma profissional que adquiriu uma reputação de nunca
falhar e de ser capaz de qualquer coisa para conseguir seus objetivos. Quando
um conglomerado de empresas de armas tenta contratá-la para gerenciar uma
campanha contra uma nova lei que irá promover restrições ao acesso às armas,
Sloane decide pedir demissão de sua empresa e vai trabalhar para a oposição,
uma empresa menor com orçamento muito mais limitado que quer que a lei seja
aprovada. A partir daí, vemos como o lobby
das empresas de armas joga sujo e como Sloane precisa ultrapassar certos
limites éticos para vencer.
Jessica Chastain é excelente como
Sloane, uma mulher que adquiriu para si uma reputação tão implacável que mesmo
um veterano executivo da indústria de armas se mostra nervoso momentos antes de
conhecê-la. Ela traz uma ferocidade e frieza à personagem, mas ao mesmo tempo
nos deixa vislumbrar certas pontadas de melancolia e arrependimento, como se
ela de algum modo lamentasse a criatura implacável que se tornou e como sua
personalidade que beira a sociopatia, tratando os outros como coisas que ela
usa como bem entender, alienou todos ao seu redor e a deixa completamente
solitária. Chastain construiu uma carreira sólida para si, mas esse é um de
seus melhores trabalhos e é uma pena que o resto do filme não esteja à altura
de sua personagem.
As conversas entre Sloane e Esme
(Gugu Mbatha-Raw) servem justamente ao propósito de evidenciar as falhas da
protagonista conforme ela usa e manipula a idealista Esme desde o início até o
ponto em que arrisca sua vida. Um filme menos ciente dos limites cruzados por
Sloane celebraria o comportamento da personagem, mas a narrativa é esperta o
bastante para reconhecer que ela está longe de ser uma heroína e por mais que
sua causa seja justa, seus métodos são questionáveis e sua motivação tem um
fundo relativamente egocêntrico. Ela abraça a causa tanto por crer nela, mas
também para satisfazer seu desejo de se mostrar a melhor e que pode vencer
mesmo em condições desfavoráveis.
A vitória, aliás, é algo do qual
nunca duvidamos. Sloane é concebida como alguém tão no controle e à frente de
seus oponentes que nunca realmente sentimos que ela está acuada ou temos
dúvidas em relação à sua habilidade em resolver a situação. Assim, parte da
tensão e do suspense acaba se perdendo, embora haja um indubitável sentimento
de satisfação cada vez que ela vira a mesa em cima de seus adversários e os pega
desprevenidos.
A questão do controle de armas ou
mesmo como os lobistas corrompem a política acaba sendo relegada a um mero pano
de fundo para os jogos de manipulação dos protagonistas do que um assunto a ser
desenvolvido. A cena do debate entre Sloane e Pat (Michael Stuhlbarg) seria um
ótimo momento para levantar um diálogo sobre a questão das armas, mas o filme
rapidamente abandona a argumentação em prol de uma revelação bombástica. Do
mesmo modo, o discurso de Sloane no senado ao fim não vai além dos sensos
comuns (que não deixa de ser verdadeiro, mas o roteiro não se esforça para ir
além da superfície) de que o sistema precisa ser reestruturado e que os
políticos se importam mais com as próprias carreiras do que com o bem comum.
Algumas reviravoltas e personagens acabam acrescentando pouco à trama, como o
garoto de programa interpretado por Jake Lacy. Lacy não apenas não convence
como o arquetípico "canalha com coração de ouro" como a presença do
personagem e seu reaparecimento próximo ao fim acabam não tendo nenhum impacto
no resultado final.
Ao menos o filme retorna às suas
raízes cínicas em seus últimos minutos, reconhecendo que mesmo com a legislação
sobre armas mudando, ainda assim há um longo caminho a trilhar no combate à
violência e que as ações de Sloane provavelmente não causaram nenhuma grande
transformação no sistema político.
Armas na Mesa é um suspense político cheio de boas intenções, mas
se sustenta praticamente pelo talento de Jessica Chastain, já que o restante do
filme acaba refém dos clichês do gênero e deixa de lado as complexas questões
que suscita.
Nota: 7/10
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