quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Crítica - Até o Último Homem

Análise Até o Último Homem


Review Até o Último Homem
Muitas histórias sobre heroísmo em tempos de guerra destacam a coragem de homens que lutaram e sobreviveram a um grande contingente de inimigos, que contribuíram com suas habilidades de combate para uma conquista importante de guerra. Este Até o Último Homem não exalta o esforço de um grande combatente, mas de um homem que foi para o campo de batalha se recusando a carregar armas, preocupado apenas em salvar as vidas dos companheiros.

O filme é baseado na história real de Desmond Doss (Andrew Garfield) que se alistou voluntariamente no exército dos Estados Unidos para atuar como médico de combate, mas enfrentou resistência de seus superiores por se recusar a pegar em armas. Ele acaba sendo despachado para o Japão para ajudar na tomada de uma área estratégica e lá salvou a vida de dezenas de homens.

Seria muito fácil construir um retrato hagiográfico de Desmond, com seu fervor religioso e sua postura pacifista que é levada quase à irresponsabilidade com a própria segurança. Ele poderia ser tratado como um proverbial santo, mas o filme se preocupa em estabelecer razões bastante compreensíveis para que ele tenha tamanha repulsa pelas armas e pelo ato de matar, de sua criação religiosa, ao incidente com o irmão na infância, passando pela sua relação com o pai (Hugo Weaving). Ele não é alguém inerentemente não violento, mas um sujeito que ao longo da vida foi aprendendo que nada de positivo sai de um comportamento violento e isso algo que qualquer um, independente de credo ou nacionalidade, é capaz de se relacionar.

Andrew Garfield é bastante competente em evocar a paixão e rigidez com que defende sua postura e adiciona uma pequena ponta de teimosia e orgulho em sua conduta, mas também deixa claro que ele está claramente assustado em estar fundamentalmente indefeso em meio a uma guerra. Hugo Weaving é ótimo como o pai arrasado e traumatizado pela guerra (e com uma certa medida de "culpa de sobrevivente") Garfield é auxiliado ainda por um grupo de coadjuvantes hábeis, muitos também australianos como o diretor Mel Gibson. De Sam Worthington como o comandante que duvida da capacidade de Desmond, Teresa Palmer vive a esposa de Desmond, Luke Bracey como um colega de pelotão com quem o protagonista forja uma amizade bem sincera e Richard Roxburgh (o Duque de Moulin Rouge) como um oficial responsável por avaliar a capacidade mental de Desmond. É tanta gente australiana que cheguei a esperar que Nicole Kidman e Hugh Jackman aparecessem na tela em algum momento para completar o "álbum de figurinhas". Obviamente, não há demérito ou problema algum na profusão de atores australianos, é apenas um dado curioso.

As cenas de combate são muito bem orquestradas, contando com muitos figurantes e sempre ressaltando a violência e a brutalidade do combate em larga escala, com sangue e pedaços de corpos se espalhando a cada explosão de morteiro. O filme é bastante gráfico em demonstrar os ferimentos dos soldados e o desenho de som evidencia a intensa cacofonia de tiros, explosões e gritos, mas sem deixar que eles interfiram em nosso entendimento dos diálogos ou dos desdobramentos da ação. Aqui e ali exibe alguns excessos como as cenas de Desmond carregando companheiros em câmera lenta ao som de uma música excessivamente solene e heroica, mas no geral traz uma abordagem bem sóbria quanto às consequências de um combate em larga escala e do esforço do protagonista em manter os companheiros vivos.

Até o Último Homem acerta ao tratar a violência como algo abominável e guerra como o pior que a humanidade poderia fazer, focando seu olhar sobre alguém que preferiu salvar vidas a tomá-las.


Nota: 6/10

Trailer

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