terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Crítica - Dominação

Análise Dominação


Review Dominação
Quando escrevi sobre o recente Passageiros, mencionei como Hollywood tem a falsa impressão de que é possível ter um produto de sucesso e qualidade apenas por juntar duas ideias diferentes que isoladamente já tinham se mostrado bem sucedidas. Este horrendo Dominação ajuda a sedimentar essa ideia. Provavelmente originado em alguma reunião de produtores e executivos de estúdio quando pediram ideias originais para um filme de terror e alguém sugeriu "que tal um terror que misture O Exorcista (1973) com A Origem (2010)?", o filme não funciona em absolutamente nenhum nível e sua premissa é a única coisa que tem de interessante.

O Dr. Ember (Aaron Eckhart) é capaz de entrar no subsconsciente de pessoas possuídas por demônios para expulsá-los de dentro de suas mentes (e consequentemente de seus corpos). Um dia ele é procurado por uma emissária do Vaticano para tentar expulsar um poderoso demônio do corpo do menino Cameron (David Mazouz), mas só resolve pegar o caso quando fica sabendo que este pode ser o mesmo demônio que matou sua família e o deixou paraplégico.

A narrativa demora muito a engrenar, se estendendo mais do que deveria nas explicações de como o "poder" de Ember funciona e quais as regras. As explicações em excesso acabam apenas revelando a fragilidade daquilo tudo (não é a toa que A Origem nunca se detém nos pormenores de como a máquina funciona). Para piorar posteriormente muito do que acontece contradiz diretamente o que é falado no início, o que dá a impressão de que nem o próprio roteirista estava prestando atenção naquilo que estava fazendo.

Em um momento Ember rejeita a noção do Vaticano de que está lidando com demônios, que essa é uma noção feita para validar o catolicismo e que cada religião os vê de um modo diferente, afirmando que são apenas um tipo de parasita não corpóreo. No entanto, em sua primeira conversa com Cameron, a criatura que o possui referencia os pecados capitais e o grande dilúvio (aquele que Noé sobreviveu), o que claramente estabelece o ser como uma criatura bíblica, o que nega aquilo que Ember diz anteriormente. Esse tipo de informação contraditória permeia o filme inteiro e eu podia encher páginas com os furos do filme, mas isso significaria dar a esse texto mal concebido mais atenção do que os próprios roteiristas. Além de furos de texto, há também furos de continuidade. Em um dado momento um personagem bem próximo a Ember se mata cortando o próprio pescoço. Era de se imaginar que isso fizesse alguma quantidade de sangue jorrar sobre o protagonista, mas o vemos com a mesma roupa e completamente limpo logo em seguida.

As tentativas de terror são uma coleção bem pequena de sustos súbitos extremamente previsíveis e tão exagerados que produzem risos ao invés de medo (como o instante em que Cameron pula em uma mendiga e começa a socá-la). Os péssimos efeitos visuais e sonoros também não ajudam, em especial a tosca voz grave usada pelos possuídos, que é mais ridícula do que assustadora.

Tenho que admitir que senti vergonha pelo Aaron Eckhart enquanto ele vomitava linha após linha de diálogos expositivos que não iam a lugar nenhum, preso ao clichê do pai que quer vingar a família e entregando uma composição cheia de tiques e excessos que tornavam Ember mais uma caricatura do que um sujeito crível. O arco do personagem ainda é prejudicado por um desfecho cretino, mais preocupado em deixar um gancho para continuação do que encerrar com um mínimo de dignidade. Carice Van Houten (a Melisandre de Game of Thrones) não tem praticamente nada a fazer como a mãe de Cameron além de ocasionalmente parecer preocupada. Enquanto isso, o garoto David Mazouz (o jovem Bruce Wayne da série Gotham) é prejudicado pelas escolhas de encenação que o deixam parado durante boa parte do filme e pelos péssimos efeitos sonoros que compõem sua voz de possuído, mas, independente das limitações, ele nunca consegue soar ameaçador como deveria.

Dominação acaba não sendo nada mais do que uma premissa curiosa embalada por um texto inócuo, que muitas vezes mal consegue manter a coerência, embalado por uma direção tão equivocada que produz mais risadas do que medo.


Nota: 2/10

Trailer

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