segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Crítica - Estrelas Além do Tempo

Análise Estrelas Além do Tempo


Review Estrelas Além do Tempo
Este Estrelas Além do Tempo já tinha chamado minha atenção por causa de sua premissa, que contava um capítulo até então desconhecido da história da exploração espacial dos Estados Unidos e da importância de figuras que, provavelmente por questões de etnia e gênero, passaram décadas sem o devido reconhecimento por seu protagonismo em momentos tão importantes. A questão é que o filme oferece muito mais do que meras curiosidades históricas, nos apresentando a personagens fascinantes e uma narrativa cheia de sensibilidade.

A trama segue Katherine (Taraji P. Henson), Mary (Janelle Monae) e Dorothy (Octavia Spencer), três mulheres que trabalhavam na força-tarefa responsável pelos cálculos dos foguetes da NASA em 1961, auge da corrida espacial quando EUA e União Soviética lutavam para serem os primeiros no espaço. Como ainda era um período de segregação racial em muitos estados americanos, incluindo a Virgínia, no qual a história se passa. O grupo das protagonistas era segregado do resto, funcionando em uma sala isolada em um ponto distante do campus da NASA, quase que feito propositalmente para mantê-las longe de vista. Aos poucos, no entanto, os talentos das três vão se mostrando valiosos para a corrida espacial, mas o caminho para o reconhecimento é marcado por muitas barreiras construídas de puro preconceito.

O filme vai mostrando de forma orgânica e sem pesar a mão o modo como o preconceito imperava no período, mas sem deixar de conceber a segregação como algo cruel. Desde o modo como elas são abordadas pela polícia no início, que sutilmente traz seu cassetete em mãos ao se aproximar delas mesmo sem que o trio tenha feito nada errado, aos ônibus segregados ou ao modo como que todos param o observam com estranheza quando Katherine pega uma xícara de café, quase como se encarassem como um ato de ousadia o fato dela querer beber o mesmo café destinado aos brancos. Aos poucos vamos vendo como mesmo coisas simples e sem importância, como a distância dos banheiros segregados, parecem feitos para comunicar que os espaços de importância e poder não estão ao alcance dos negros.

Henson, Monae e Spencer trazem uma boa dose de resiliência e uma bem vinda complexidade às suas personagens. Seria fácil pesar a mão no sofrimento delas e apelar para um sentimentalismo rasteiro, mas as atrizes (e também o roteiro) fazem delas mulheres cheias de nuance, que mesmo com uma visão bem realista do mundo em que vivem e das barreiras que se colocam em seu caminho, nunca perdem a disposição e o humor, mas também tem seus momentos de dúvida e insegurança. A trama consegue desenvolver de modo satisfatório o arco de cada uma delas, nos permitindo olhar para suas vidas profissionais e pessoais (e revelando que elas também tinham que lidar com barreiras em casa), transformando-as em pessoas multifacetadas e fascinantes. Cada uma tem seu grande momento (a cena do briefing para Katherine, a do tribunal para Mary e a dos computadores para Dorothy) e sentimos que são momentos de triunfo e satisfação devidamente construídos pela trama ao invés de algo enfiado goela abaixo por necessidade do roteiro.

Kevin Costner evita que seu Al Harrison caia no clichê do "salvador branco", fazendo dele um homem direto e movido por pragmatismo, que rejeita a segregação simplesmente pela sua inutilidade prática (sem mencionar que só o faz depois de perceber como foi injusto com Katherine) e que nunca se entrega àqueles discursos cheios de lições de moral fáceis que este tipo de filme costuma apresentar. O antagonista de Katherine, o matemático Paul (Jim Parsons, o Sheldon de The Big Bang Theory), poderia facilmente cair no terreno da caricatura, mas Parsons instila nele uma admiração e respeito genuínos por Katherine ainda que ele se comporte de modo indubitavelmente preconceituoso ao constantemente lembrá-la de que há um limite de até onde ela pode avançar.

É justamente por seu equilíbrio, pela delicadeza com a qual comunica sua mensagem e pela qualidade de seu elenco que Estrelas Além do Tempo é um eficiente resgate de um capítulo praticamente desconhecido da história.


Nota: 8/10

Trailer

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