Moana: Um Mar de Aventuras não é exatamente original. É uma
reprodução da tradicional "jornada do herói" (até se referem à
personagem no filme como "a escolhida") que já vimos um monte de
outras vezes, mas à despeito da natureza familiar, funciona pelos seus
personagens bem construídos e pelas canções envolventes compostas pelo atual
queridinho da Broadway, Lin-Manuel Miranda, que fez a limpa nos
prêmios Tony (o "Oscar" do teatro dos Estados Unidos) com o musical Hamilton, escrito, dirigido e
protagonizado por ele.
A trama acompanha a jovem Moana
(Auli'i Cravalho) uma garota que cresceu em uma pequena ilha e sempre sonhou em
viajar através dos oceanos. Seu pai, no entanto, tem planos diferentes para
ela, criando-a para tomar seu lugar como líder de seu povo. Sua sede de viajar
acaba sendo estimulada quando ela recebe um artefato chamado Coração de Te
Fiti, que aparentemente pertencia a uma deusa antiga, que precisa ser devolvido
ao seu devido lugar para evitar que as trevas se espalhem pelo mundo e tudo
seja controlado pelo monstro de lava Te Ka. Para tanto, ela precisa encontrar e
pedir ajuda ao semideus Maui (Dwayne "The Rock" Johnson), que
originalmente roubou a joia.
Apesar da trama girar em torno de
Moana pedir auxílio a Maui, essa nunca deixa a história dela e semideus jamais
lhe rouba o protagonismo. É pelas ações e decisões dela que a trama avança e é
por causa dela que Maui deixa de lado seu medo e insegurança para enfrentar Te
Ka. A força do filme reside em Moana, uma garota impetuosa, engenhosa e
destemida, disposta a qualquer coisa para salvar seu povo, mesmo sabendo que
ainda tem muito a aprender e que talvez tudo aquilo esteja acima de suas capacidades.
Encantadora, divertida, decidida, mas também com inseguranças e medos bastante
críveis, Moana é uma protagonista interessante e complexa que segura o filme
mesmo quando sua jornada soa demasiadamente familiar, conseguindo fazer rir e
emocionar, em especial nas cenas entre ela e avó (confesso que chorei, podem me
julgar), em iguais medidas.
Maui é um divertido companheiro
de viagem, com sua atitude egocêntrica, pagando de grande herói e desbravador,
mas recuando quando a situação aperta. Ele podia ser só isso, mas o filme ainda
consegue estabelecer motivos bem convincentes para ele ter se tornado daquele
jeito, enriquecendo o personagem e fazendo-o ir além de um coadjuvante
engraçadinho. Também acerta ao evitar transformar o monstro Te Ka em uma
criatura meramente cruel e maligna, mas evitarei dizer mais para não estragar a
experiência de ninguém.
Como de costume nas animações da
Disney, as canções e números musicais são maravilhosos, trazendo aquela
sensação de beleza e encantamento que sempre se espera dos trabalhos do
estúdio. Da divertida You're Welcome ("De
Nada") cantada por Maui, passando pela grandiosa We Know The Way, cantada quando Moana aprende sobre seus
ancestrais, e a tocante How Far I'll Go ("Saber
Quem Eu Sou) que pontua a jornada da protagonista e é cantada mais de uma vez, evidenciando a evolução da personagem, as canções são daquelas que ficam
na cabeça depois que o filme acaba. É impossível também não mencionar a qualidade
técnica da animação e da ampla expressividade dos personagens. As texturas da superfície do mar (e o modo como ela reage
a objetos e variações de luz) e da areia impressionam pelo seu fotorrealismo e
o filme acerta até em pequenos detalhes como o sutil relevo das tatuagens em
relação à pele dos personagens ou o modo natural como os cabelos de Moana e Maui se movem.
Assim sendo, mesmo com uma trama
demasiadamente banal, Moana: Um Mar de
Aventuras conquista pelo carisma e força de sua protagonista e o espetáculo
de suas canções.
Nota: 8/10
Trailer:
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