A mistura de vários tipos de
filmes que costumam fazer sucesso como uma ficção científica com temas
existenciais (pensem em Interestelar ou
A Chegada), dramas românticos e
filmes catástrofes somados aos dois atuais queridinhos de Hollywood, Chris
Pratt e Jennifer Lawrence, parecia uma receita lógica. Afinal, se isoladamente
esses ingredientes dão certo, juntos eles vão dar ainda mais certo, não é? Bem,
não. Arte não é uma ciência exata e mesmo nesse cinemão feito em escala
industrial e para grande público não dá para reduzir tudo a uma mera aplicação
de fórmulas, pois se fosse assim tão simples não existiriam fracassos. Este Passageiros é prova de que simplesmente
juntar um monte de coisas que faz sucesso não vai necessariamente resultar em
algo bom.
A trama se passa no futuro quando
a humanidade colonizou planetas distantes e uma grande corporação oferece
cruzeiros para quem quiser habitar esses novos planetas. A viagem dura 120 anos
e os passageiros e a tripulação são mantidos em animação suspensa durante boa
parte do trajeto, sendo acordados somente quatro meses antes de chegarem.
Quando a nave Avalon é atingida por uma chuva de meteoros, um defeito acaba
acordando um dos passageiros, o mecânico Jim (Chris Pratt). Sem saber o que
causou o problema e sem conseguir acesso aos compartimentos da tripulação, Jim
tenta descobrir o que está acontecendo e o que fazer agora que é o único
acordado ali. Ele eventualmente acaba ganhando a companhia de outra passageira,
Aurora (Jennifer Lawrence), mas os problemas da nave se agravam.
O filme até apresenta alguns
conflitos interessantes, mas a maioria no início, com um solitário Jim tendo
que lidar com a ideia do que fazer com sua "vida", agora que está ali
sozinho e não tem como retornar ao estado de animação suspensa. Também
apresenta um dilema ético e moral curioso com ele decidindo se
"acorda" ou não Aurora (e o nome similar ao da princesa de A Bela Adormecida da Disney certamente
não é acidente). A questão é que daí em diante o filme se perde em uma série de
soluções simplistas que resolve de maneira muito fácil e óbvia as questões
complexas que o terço inicial levanta, culminando em um desfecho que força a
mão para apaziguar os conflitos e dar um "final feliz" para a
situação.
Eu entendo que a cena final é
feita para ter um quê de Eram os Deuses
Astronautas? com a tripulação encontrando uma grande floresta na
espaçonave, mas se pensarmos bem, como toda aquela vegetação pode ter crescido
sem que suas raízes se expandissem ao ponto de prejudicarem o funcionamento dos
sistemas da nave? Mais que isso, a própria premissa acaba soando tola quando
pensamos que não muito sentido que a megacorporação responsável pela Avalon não
tenha pensado que em algum momento os sistemas de computador poderiam dar
problema e não tenham implementado nenhum protocolo emergencial para acordar a
tripulação caso algo começasse a dar errado na nave. Para uma empresa com
faturamento na casa dos quatrilhões (como Aurora diz em dado momento) eles não
parecem particularmente inteligentes ou interessados em proteger e salvaguardar
seu caro patrimônio.
Pratt e Lawrence são carismáticos
o suficiente para manter o nosso interesse mesmo quando o filme parece temer
ter que lidar com as questões complicadas que levanta e resolve simplificar
muita coisa ao não apenas colocá-los diante de uma crise que só podem resolver
juntos, como força a lógica para manter um deles vivo em um final extremamente
covarde e forçosamente conciliador. Michael Sheen rouba a cena como um robô barman tão otimista que ocasionalmente
parece soar sinistro, me lembrando um pouco do barman de O Iluminado
(1980). Lawrence Fishbourne, por sua vez, é desperdiçado em um sujeito que é mais
um mecanismo de roteiro do que personagem, servindo apenas para dar explicações
necessárias para mover a trama e mastigar as lições de moral do filme com sua
voz grave e serena (imagino que Morgan Freeman devia estar com a agenda
indisponível).
O filme também parece ter
dificuldade em lidar com o tanto de gêneros que tenta misturar, exibindo uma
divisão bem clara entre o sci-fi existencial (o início), o drama romântico (o
meio) e o filme catástrofe (o fim), nem sempre transitando organicamente entre as
três coisas. Aqui e ali consegue criar algumas cenas visualmente interessantes,
como a tensa sequência da piscina em gravidade zero, mas no geral apenas
reproduz os designs claros, limpos e assépticos que já vimos em uma penca de
filmes similares.
Passageiros não chega a ser a bagunça que sua premissa sugeria que
poderia ser, mas não sai da superfície dos temas e perguntas que levanta e é
prejudicado por um clímax tão simplório que nem mesmo a simpatia de seus
protagonistas consegue salvar.
Nota: 4/10
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