quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Crítica - Sherlock: The Six Thatchers (S04E01)

Análise Sherlock: The Six Thatchers (S04E01)


Review
Descontando o "especial de Natal" The Abominable Bride, três anos separam o gancho no fim da terceira temporada que apontava o possível retorno do aparentemente morto Moriarty e o início desta quarta. O retorno da série com este The Six Thatchers trazia em si muita expectativa e o episódio não decepciona, ainda que tenha sua parcela de problemas. O que vem a partir daqui pode conter alguns SPOILERS.

Começando onde a terceira temporada e o especial de Natal terminaram, Sherlock (Benedict Cumberbatch) está de volta à Inglaterra e conclui que Moriarty (Andrew Scott) de fato está morto, mas deixou uma vingança póstuma preparada para seu inimigo. Sherlock ainda não sabe exatamente o que é, então resolve manter seus olhos e ouvidos atentos ao submundo do crime, resolvendo caso atrás de caso com ajuda de Watson (Martin Freeman) e sua esposa Mary (Amanda Abbington). Uma possível pista sobre os planos de Moriarty surge quando ele identifica a destruição de vários bustos da ex-primeira ministra Margaret Thatcher.


Como de costume, o roteiro consegue constantemente nos pegar desprevenidos, nos fazendo crer a trama seguirá por um rumo previsível (como quando Sherlock quebra a estátua certo de que encontrará a pérola roubada) para nos pegar de surpresa com reviravoltas inesperadas que vão levando o caso para direções não imaginadas. Na segunda metade, no entanto, as coisas ficam um pouco mais lentas conforme os desdobramentos passam a depender mais de diálogos explicativos de Mary e Mycroft, gerando cenas que se resumam a longas explanações com a ocasional inserção de breves flashbacks para evitar que as coisas fiquem monótonas demais. A parte final parece ocorrer mais por esses longos depoimentos do que as proezas mentais do protagonista.

Falando em flashbacks a subtrama envolvendo Watson e uma mulher que ele conhece no ônibus parece jogada de qualquer jeito próxima ao fim do episódio, sendo que nada que tinha acontecido até então dava qualquer indício de que algo acontecia ali. Na verdade, a narrativa precisa voltar a vários momentos do episódio para mostrar eventos que tinha ocultado antes, o tipo de truque barato desonesto que a série costuma evitar. Sim, temporadas anteriores já tinham estabelecido Watson como um mulherengo que engatava um romance depois do outro, muitas vezes sem nem aprender direito o nome de suas conquistas (e a Sra. Hudson ou Sherlock chegavam a comentar que não davam conta de acompanhar as constantes trocas de namoradas). A questão nem é se isso cabe ou não no personagem, mas o modo como isso é desnecessariamente ocultado apenas para ser usado próximo ao fim como uma grande revelação, sendo que não é nada tão impactante assim (principalmente porque o que é mostrado deixa a entender que a traição não fora consumada).

Assim como na temporada anterior, a série consegue encontrar alguns momentos de humor ao colocar Sherlock para lidar com situações "normais". Como a cena em que ele tem que cuidar da filha de Watson e o vemos reclamar da falta de lógica do comportamento da bebê. O enquadramento inicial da cena não mostra com quem ele está falando e nos induz a pensar que é Watson, assim é difícil não rir quando a câmera se aproxima da poltrona e mostra a criança. Há também espaço para explorar um pouco os talentos marciais do protagonista em uma cena de luta dentro de uma piscina.

Se a trama encontra seus tropeços durante o percurso, acaba se encontrando e amarrando tudo muito bem no impactante desfecho que traz a morte de um personagem importante. O impacto nem é apenas pela morte em si, mas o que ela representa. Ela mostra que Holmes pode falhar e falha principalmente por causa de seu ego, já que não havia motivo de ter convocado aquela pessoa que não para mostrar como estava em pleno controle da situação e que nada lhe escapava. A ideia de que Holmes pode fracassar e que consequências terríveis podem se abater quando isso acontece, ajuda a humanizar o personagem, deixando de vê-lo como uma mera "calculadora humana" e mais como um sujeito cujos defeitos podem levar a melhor sobre ele, tal qual acontece com qualquer um de nós. Também amarra com precisão os temas e ideias que vinham sendo trabalhados até então, como a fábula sobre a inevitabilidade da morte e a simbologia do tubarões e seu constante movimento, já que isso se relaciona diretamente com a jornada de Mary, cuja perdição foi justamente ter parado para construir um vida.

Os minutos finais deixam um gancho promissor e eu sinceramente torço para que a cisão entre Holmes e Watson não seja tão facilmente resolvida, já que isso esvaziaria o impacto de muita coisa que acontece aqui. De todo modo, esse primeiro episódio da quarta temporada não deixa de ser um retorno sólido para a série.


Nota: 7/10

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