Descontando o "especial de
Natal" The Abominable Bride,
três anos separam o gancho no fim da terceira temporada que apontava o possível
retorno do aparentemente morto Moriarty e o início desta quarta. O retorno da
série com este The Six Thatchers
trazia em si muita expectativa e o episódio não decepciona, ainda que tenha sua
parcela de problemas. O que vem a partir daqui pode conter alguns SPOILERS.
Começando onde a terceira
temporada e o especial de Natal terminaram, Sherlock (Benedict Cumberbatch)
está de volta à Inglaterra e conclui que Moriarty (Andrew Scott) de fato está
morto, mas deixou uma vingança póstuma preparada para seu inimigo. Sherlock
ainda não sabe exatamente o que é, então resolve manter seus olhos e ouvidos
atentos ao submundo do crime, resolvendo caso atrás de caso com ajuda de Watson
(Martin Freeman) e sua esposa Mary (Amanda Abbington). Uma possível pista sobre
os planos de Moriarty surge quando ele identifica a destruição de vários bustos
da ex-primeira ministra Margaret Thatcher.
Como de costume, o roteiro
consegue constantemente nos pegar desprevenidos, nos fazendo crer a trama
seguirá por um rumo previsível (como quando Sherlock quebra a estátua certo de
que encontrará a pérola roubada) para nos pegar de surpresa com reviravoltas
inesperadas que vão levando o caso para direções não imaginadas. Na segunda
metade, no entanto, as coisas ficam um pouco mais lentas conforme os
desdobramentos passam a depender mais de diálogos explicativos de Mary e
Mycroft, gerando cenas que se resumam a longas explanações com a ocasional
inserção de breves flashbacks para
evitar que as coisas fiquem monótonas demais. A parte final parece ocorrer mais
por esses longos depoimentos do que as proezas mentais do protagonista.
Falando em flashbacks a subtrama envolvendo Watson e uma mulher que ele
conhece no ônibus parece jogada de qualquer jeito próxima ao fim do episódio,
sendo que nada que tinha acontecido até então dava qualquer indício de que algo
acontecia ali. Na verdade, a narrativa precisa voltar a vários momentos do
episódio para mostrar eventos que tinha ocultado antes, o tipo de truque barato
desonesto que a série costuma evitar. Sim, temporadas anteriores já tinham
estabelecido Watson como um mulherengo que engatava um romance depois do outro,
muitas vezes sem nem aprender direito o nome de suas conquistas (e a Sra.
Hudson ou Sherlock chegavam a comentar que não davam conta de acompanhar as
constantes trocas de namoradas). A questão nem é se isso cabe ou não no
personagem, mas o modo como isso é desnecessariamente ocultado apenas para ser
usado próximo ao fim como uma grande revelação, sendo que não é nada tão
impactante assim (principalmente porque o que é mostrado deixa a entender que a
traição não fora consumada).
Assim como na temporada anterior,
a série consegue encontrar alguns momentos de humor ao colocar Sherlock para
lidar com situações "normais". Como a cena em que ele tem que cuidar
da filha de Watson e o vemos reclamar da falta de lógica do comportamento da
bebê. O enquadramento inicial da cena não mostra com quem ele está falando e
nos induz a pensar que é Watson, assim é difícil não rir quando a câmera se
aproxima da poltrona e mostra a criança. Há também espaço para explorar um
pouco os talentos marciais do protagonista em uma cena de luta dentro de uma
piscina.
Se a trama encontra seus tropeços
durante o percurso, acaba se encontrando e amarrando tudo muito bem no
impactante desfecho que traz a morte de um personagem importante. O impacto nem
é apenas pela morte em si, mas o que ela representa. Ela mostra que Holmes pode
falhar e falha principalmente por causa de seu ego, já que não havia motivo de
ter convocado aquela pessoa que não para mostrar como estava em pleno controle
da situação e que nada lhe escapava. A ideia de que Holmes pode fracassar e que
consequências terríveis podem se abater quando isso acontece, ajuda a humanizar
o personagem, deixando de vê-lo como uma mera "calculadora humana" e
mais como um sujeito cujos defeitos podem levar a melhor sobre ele, tal qual
acontece com qualquer um de nós. Também amarra com precisão os temas e ideias
que vinham sendo trabalhados até então, como a fábula sobre a inevitabilidade
da morte e a simbologia do tubarões e seu constante movimento, já que isso se
relaciona diretamente com a jornada de Mary, cuja perdição foi justamente ter
parado para construir um vida.
Os minutos finais deixam um
gancho promissor e eu sinceramente torço para que a cisão entre Holmes e Watson
não seja tão facilmente resolvida, já que isso esvaziaria o impacto de muita
coisa que acontece aqui. De todo modo, esse primeiro episódio da quarta
temporada não deixa de ser um retorno sólido para a série.
Nota: 7/10
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