A Academia de
Artes e Ciências Cinematográficas entregou os prêmios da 89ª edição dos Oscars,
ontem, dia 26. A cerimônia, apresentada por Jimmy Kimmel, foi bem divertida e
incluiu um insólito momento em que ele surpreendeu um grupo de turistas,
levando-os para dentro do teatro Dolby para interagir com os indicados. La La Land: Cantando Estações, foi o
grande vencedor levando para casa seis estatuetas, incluindo a de melhor
diretor para Damien Chazelle, que entra para a história como o mais jovem
cineasta a receber a honraria. Entra para a história também a gafe monumental
de Warren Beatty e Faye Dunaway ao anunciarem o vencedor errado na categoria de
melhor filme. O prêmio deveria ir para Moonlight:
Sob a Luz do Luar, mas eles anunciaram La La
Land como vencedor. Assim que a equipe do filme se deu conta do erro,
imediatamente mostraram o envelope contendo o nome do vencedor e a equipe de Moonlight foi chamada ao palco. Confiram abaixo os indicados e vencedores (marcados em negrito).
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
sábado, 25 de fevereiro de 2017
Crítica - Um Limite Entre Nós
Alguns
filmes nos conquistam pela sua estrutura narrativa, outros pela sua composição
visual, pela música, pelo trabalho dos atores ou pela junção de todas essas
coisas. Um Limite Entre Nós funciona
primordialmente pela qualidade dos diálogos e pelo trabalho dos dois
protagonistas.
Adaptando
a célebre peça teatral de August Wilson, o filme se passa nos anos 50 e
acompanha Troy (Denzel Washington) um homem trabalhador de classe média que luta
para cuidar de sua família da melhor maneira que pode, ao mesmo tempo em que
arrependimentos passados e o acúmulo de suas frustrações se coloca no meio de
sua relação com Rose (Viola Davis), sua esposa.
A
trama demora um pouco de engrenar, focando sua primeira metade no cotidiano da
família encabeçada por Troy e em como ele se relaciona com cada um deles. A
questão nem é o foco no trivial ou a ausência inicial de um ponto de conflito
claro, é possível fazer um assim e ainda evitar que ele soe cansativo ou
estático, como o ótimo A Cidade Onde Envelheço. O problema é o modo como isso é apresentado a nós, através de um
trabalho de câmera que se limita ao plano e contraplano enquanto Troy conversa
com seus familiares e se mantêm praticamente estático em cena, engatando um
longuíssimo monólogo atrás do outro sem sequer se mover.
Vencedores do Framboesa de Ouro 2017
O troféu Framboesa de Ouro, "premiação" que celebra os piores filmes do ano, finalmente divulgou os seus "vencedores". Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) tinha sido o maior indicado da noite, com oito indicações em sete categorias, mas levou somente quatro prêmios, dividindo o pódio de maior vencedor da noite com o documentário Hillary's America: The Story of The Democratic Party. Juntos, os dois filmes levaram praticamente todos os prêmios da noite, à exceção do de pior atriz coadjuvante que ficou com Kristen Wiig de Zoolander 2 (2016). Confiram abaixo a lista com os vencedores destacados em negrito.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
Crítica - Logan
Mais de uma vez ao longo de sua
duração Logan faz referências
(inclusive o exibe na televisão em uma cena) ao clássico western Os Brutos Também Amam
(1953). Um filme que, de certa forma, fala sobre como a violência, independente
para qual fim seja usada, acaba também afetando aquele que a comete. A mácula
da violência desumaniza, afasta do resto da humanidade literal e metaforicamente.
A jornada do Wolverine (Hugh Jackman) no filme é exatamente essa, um homem que
levou uma vida de violência e vive solitário, afastado do mundo, lamentando
tudo o que foi, tudo o que fez e imaginando se algum dia encontrará paz.
A trama do filme se passa no
futuro, com um Wolverine mais velho. Logicamente, a violência acaba
eventualmente retornando à vida do protagonista depois que ele encontra a
menina Laura (Dafne Keen), que está sendo caçada por um grupo de mercenários
liderados pelo sádico Pierce (Boyd Holbrook). Logan então tenta fugir da
perseguição, levando consigo a menina e um combalido professor Xavier (Patrick
Stewart), que está perdendo o controle de seus poderes por culpa de uma doença
degenerativa.
Hugh Jackman é preciso ao
construir Logan como um homem assombrado pelas coisas que fez e não suporta
mais a própria existência nem vê nela um propósito além de cuidar de Xavier e
manter seus poderes sob controle. O filme entende que alguém com uma vida tão
longeva e marcada por trauma e violência não tem como levar uma vida como a das
demais pessoas, ele está danificado demais. A novata Dafne Keen se sai muito
bem ao convocar a selvageria nata de Laura, alguém que não tem a menor ideia de
como o mundo funciona e pouco conhece além de violência. Mesmo sem falar nada
durante boa parte do filme, a garota consegue dizer muito com seu olhar e
linguagem corporal e é possível perceber que por trás de sua conduta bruta, ela
é em essência uma garotinha solitária em busca de afeto e conexão humana.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
Crítica - A Lei da Noite
Desde que estreou como diretor na
adaptação do romance de Dennis Lehane Medo
da Verdade (2007), Ben Affleck vem engatando um sucesso atrás do outro na
função. De Atração Perigosa (2010) ao
vencedor do Oscar Argo (2012),
Affleck vinha se mostrando um diretor competente. Seu retorno a uma adaptação
da obra de Dennis Lehane neste A Lei da
Noite, no entanto, marca a primeira bola fora de Affleck na cadeira da
direção.
A trama se passa no período da
Lei Seca nos Estados Unidos e acompanha o pequeno criminoso Joe Coughlin (Ben
Affleck). Depois de quase ser morto por um chefão da máfia irlandesa de Boston,
Joe se alia a um líder da máfia italiana para poder se vingar. Ele então é
mandado para a Flórida para cuidar da produção e distribuição de bebida ilegal
e lá tenta construir seu império de contrabando.
Com uma narrativa que se desdobra
ao longo de décadas, o filme tem dificuldade em fazer todos os eventos
"caberem" dentro de sua duração e muita coisa acontece ou é revelada
somente nas narrações em off do
protagonista e isso acaba conferindo um tom episódico ao filme. Quando ele
chega na Flórida, imaginamos que veremos a construção de seu império de
contrabando, mas depois de alguns poucos encontros com os figurões da cidade a
trama faz um salto temporal e apenas via narração ficamos sabendo que Joe já
está com seu empreendimento criminal consolidado.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
Crítica - A Grande Muralha
Eu imaginaria que um filme com
Matt Damon e Willem Dafoe enfrentando monstros em uma China medieval fosse ao
menos ser divertido. Seu diretor, Zhang Yimou, de Herói (2002) e O Clã das
Adagas Voadoras (2004), é célebre por seu apuro estético, então também era
de se esperar visuais criativos e impressionantes. Nada disso, no entanto, está
presente em A Grande Muralha, um
filme tão derivativo e sem personalidade que jamais o ligaria a Yimou se não
tivesse visto seu nome nos créditos.
A trama acompanha um grupo de
mercenários europeus liderados por William (Matt Damon) que tenta viajar à
China na esperança de conseguirem comercializar o famoso pó negro (pólvora)
produzido pelos orientais. O grupo acaba chegando na Grande Muralha, na qual o
exército chinês se prepara para uma invasão iminente. A muralha foi criada para
proteger o país e o mundo de demônios esverdeados chamados Tao Tei, que
chegaram em nosso mundo através de um meteoro (mas isso não faria deles alienígenas?
Bem, sim, mas o filme não explica muito bem o que de fato são essas criaturas,
nem o motivo delas atacarem de tempos em tempos ao invés de continuamente).
Testemunhando o poder dos monstros em primeira mão, William e seu amigo Tovar
(Pedro Pascal), decidem ficar e ajudar, pelo menos até conseguirem por as mãos
na pólvora dos chineses com a ajuda de Ballard (William Dafoe).
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
Crítica - Moonlight: Sob a Luz do Luar
A busca por identidade e/ou afeto
é algo com o qual praticamente qualquer um pode se identificar. É justamente o
entendimento da universalidade e, arrisco dizer, atemporalidade de sua
narrativa, mas sem perder as particularidades dos personagens ou ambiente que
retrata, que este Moonlight: Sob Luz do
Luar funciona tão bem.
O filme é centrado em Chiron
(Alex R. Hibbert/Ashton Sanders/Trevante Rhodes), um jovem da periferia que
precisa lidar com sua mãe ausente, Paula (Naomie Harris), e viciada em crack e com uma constante sensação de
inadequação em relação aos demais garotos de sua idade, em especial pelo fato
deles constantemente lhe direcionarem insultos que o garoto não faz ideia de
que se tratam de ofensas homofóbicas. Fugindo da perseguição de colegas, ele
acaba topando com Juan (Mahershala Ali), com quem desenvolve uma relação
paternal.
É um daqueles filmes que poderia
facilmente descambar para o exagero dado o cotidiano de violência e drogas no
qual o garoto vive desde muito novo, mas o roteiro escrito pelo diretor Barry
Jenkins trata a jornada de autodescoberta e busca por afeto (parental e
romântico) de Chiron com bastante equilíbrio, sobriedade e também lirismo,
conseguindo encontrar o sublime mesmo em momentos que parecem extremamente
banais.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
Crítica - O.J: Made in America
Com mais de sete horas de duração,
a primeira pergunta que surge ao nos aproximarmos deste documentário (na verdade uma série documental) O.J: Made in America é: ele tem estofo
para sustentar essa longuíssima duração? A resposta é um sonoro sim. Isso
porque o documentário não trata apenas da trajetória de vida do atleta e ator
O.J Simpson, ele também aborda todo o contexto que circula sua ascensão e
queda. Das profundas desigualdades raciais e repressão policial que permeavam a
cidade de Los Angeles, ao culto às celebridades da mídia estadunidense,
passando pelo ambiente de privilégio e riqueza no qual o atleta se inseriu
desde muito jovem quando se tornou uma estrela do esporte universitário e lhe
dava a sensação de estar imune aos problemas do mundo.
O filme vai aos poucos
deslindando essas múltiplas linhas e como elas se desenvolvem em paralelo até
culminarem na grande tempestade que foi o assassinato de Nicole Brown Simpson, separada de O.J na época em que foi assassinada, e seu então
namorado Ron e todo o julgamento televisionado de O.J Simpson. Através de
entrevistas com amigos, conhecidos, parceiros de negócios, além do uso de
imagens de arquivo, o documentário faz do julgamento de O.J um julgamento da
própria sociedade americana e como as ilusões de grandeza construídas por ela e
o lado feio que tentam ocultar (como a brutalidade policial) contribuíram para
transformar o que deveria ser um procedimento jurídico sério em entretenimento
de massa e um fórum de discussões para uma miríade de outras questões, que,
embora importantes e necessárias para a esfera política, não eram exatamente
centrais ao caso.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
Crítica - Aliados
Histórias sobre espiões e
sabotadores nazistas eram uma grande tendência em Hollywood no final da década
de 1930, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, e durante o início dos anos de
1940. O diretor Robert Zemeckis (do subestimado A Travessia) vai beber na fonte desses filmes neste Aliados, mas o que deveria ser uma
mistura entre Casablanca (1942) e Sr. e Sra. Smith (2005), acaba não
alcançando o potencial de sua premissa.
No ano de 1942 um oficial
canadense trabalhando para os Estados Unidos, Max Vatan (Brad Pitt), vai à
cidade marroquina de Casablanca, então ocupada pelos nazistas, para encontrar a
membro da inteligência francesa Marianne Beauséjour (Marion Cotillard). Juntos
eles posam como marido e mulher para se infiltrarem em um evento nazista e
matarem um importante diplomata do Reich. O filme então salta para tempos
depois, ambos estão casados e morando na Inglaterra, ainda durante a guerra.
Max é avisado pelo comando militar que sua esposa pode ser uma espiã nazista e
recebe instruções sobre como lidar com a questão, mas Max resolve investigar
tudo por conta própria ao invés de deixar a cargo dos militares.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
Crítica - Lion: Uma Jornada Para Casa
Lion: Uma Jornada Para Casa é dividido em duas partes bem claras. A
primeira mostra um garoto sozinho vagando pelas ruas da Calcutá na Índia depois
de se perder da família. A segunda mostra o personagem já adulto tentando
encontrar o lar do qual não se lembra tão bem. É uma história sobre como nossas
origens moldam quem somos e a importância em saber de onde viemos. A questão é
falta equilíbrio entre as duas partes e a segunda não funciona tão bem quanto a
primeira.
A trama é baseada na história
real de Saroo Brierley (Dev Patel), que quando era criança (interpretado por
Sunny Pawar) entrou em um trem e se separou de sua família, saltando dias
depois na cidade de Calcutá. Perdido, sem saber falar o dialeto local e sem
saber dizer o nome de sua mãe ou da sua cidade natal, acaba sendo levado para
um orfanato. Como ninguém vai procurá-lo, Saroo é posto para adoção e é adotado
pelo casal australiano John (David Wenham) e Sue (Nicole Kidman). Anos depois,
já adulto, Saroo mora com sua namorada, Lucy (Rooney Mara), quando aos poucos
começa a se lembrar da infância e resolve procurar sua cidade natal com a ajuda
da internet.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017
Crítica - John Wick: Um Novo Dia Para Matar
O primeiro De Volta ao Jogo (2014) pegou todo mundo de surpresa com suas
excelentes cenas de ação e a criação de um universo bastante singular habitado
por assassinos profissionais. Com um padrão tão alto de comparação, era natural
duvidar de este John Wick: Um Novo Dia
Para Matar conseguiria ser tão bom quanto o antecessor, mas o resultado é
bastante satisfatório.
A trama começa um pouco depois do
fim do primeiro filme, com John (Keanu Reeves) perseguindo o resto dos mafiosos
russos em busca de seu carro. Ao recuperá-lo, ele poupa a vida do novo líder da
máfia russa e propõe uma trégua, que é aceita. Isso, no entanto, não significa
o fim dos dias de luta de John, já que ao saber de seu retorno, um antigo
conhecido de seus dias de profissional, Santino (Riccardo Scamarcio) aparece em
sua porta para cobrar uma antiga dívida de sangue. Segundo as regras da
sociedade de assassinos, John é obrigado a honrar a dívida, caso contrário será
considerado traidor e caçado sem perdão. Como de costume, o protagonista é
traído e resolve ir atrás daqueles que o prejudicaram, o que o coloca na mira
de vários assassinos.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
Crítica - Cinquenta Tons Mais Escuros
Eu sou um sujeito muito ingênuo.
Imaginei que este Cinquenta Tons Mais
Escuros poderia corrigir ou ter aprendido alguma coisa com os erros do
primeiro (ao menos a franquia Crepúsculo tentava
melhorar ao longo dos filmes), poderia ter uma visão menos conservadora no modo
como trata a relação do casal protagonista, poderia fazer escolhas estéticas que
não resultassem em humor involuntário. Ledo engano. O filme é mais do mesmo,
não tendo aprendido nada com o anterior e faz questão de repetir o que já não
tinha funcionado antes.
A narrativa começa no mesmo lugar no
qual anterior parou. Anastasia Steele (Dakota Johnson) deixou o bilionário
Christian Grey (Jamie Dornan). Sem saber lidar com o abandono, Grey continua a
perseguir seu objeto de desejo e eles tentam se reaproximar. A questão é que os
traumas do passado do protagonista o impedem de se abrir para sua amada.
Basicamente tudo que já tinha
sido dito sobre Cinquenta Tons de Cinza (2015) continua
valendo aqui. Se eu fosse tão preguiçoso quanto as pessoas envolvidas nesse
filme eu poderia simplesmente copiar e colar o texto de dois anos atrás aqui,
mas diferentemente dos responsáveis pela franquia, prefiro me esforçar para
fazer meu trabalho.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
Crítica - American Crime Story: The People v. O.J Simpson
O julgamento do ex-jogador de
futebol americano O.J Simpson, acusado de assassinar sua esposa (de quem vivia
separado na época) e o amigo dela Ron, foi considerado o "julgamento do
século". Nunca na memória coletiva dos Estados Unidos alguém tão famoso
esteve sob suspeita de cometer um crime tão bárbaro. O julgamento foi
transformado em espetáculo midiático, transmitido ao vivo na televisão, e com
toda a exposição emergiram outras questões que iam além da possível culpa de
O.J, remetendo à violência histórica da polícia de Los Angeles contra a
população negra, a constante impunidade de crimes relacionados a violência doméstica
e o próprio fascínio do país com as celebridades. É sobre esse julgamento que American Crime Story: The People v. O.J
Simpson, nova série de antologia (cada temporada traz uma história isolada)
do Ryan Murphy (responsável por American Horror Story), irá se debruçar.
A trama começa no dia do
assassinato de Nicole Brown e Ron. Quando a polícia vai à casa de O.J
Simpson (Cuba Gooding Jr.) notificá-lo da morte da esposa, encontram um rastro
de sangue na casa e o fato dele não perguntar como ela morreu ao ser notificado
de sua morte faz ele ser visto como suspeito. Todas as provas apontam para O.J,
que é preso. A promotora Marcia Clark (Sarah Paulson) é destacada para o caso,
dada sua experiência em lidar com julgamentos envolvendo violência doméstica. O
promotor Chris Darden (Sterling K. Brown) também é chamado ao caso, em parte
por sua experiência em investigar a conduta da polícia de Los Angeles, em parte
porque a promotoria queria um rosto negro na acusação caso a defesa de O.J
explorasse a questão racial. O.J, por sua vez, forma o chamado "time dos
sonhos" em sua defesa. O advogado de celebridades Howard Shapiro (John
Travolta), com várias conexões políticas, o experiente F. Lee Bailey (Nathan
Lane), que atuou em alguns dos casos criminais mais famosos do país, Robert
Kardashian (David Schwimmer, o eterno Ross de Friends), amigo pessoal de O.J há décadas e se junta ao time por
lealdade ao amigo. Completando o time vem o advogado de direitos civis Johnnie
Cochran (Courtney B. Vance), que se junta para mostrar que acusação contra O.J
é apenas mais uma reprodução da ação preconceituosa da polícia de Los Angeles.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
Crítica - Quase 18
Histórias sobre adolescentes e amadurecimento já foram contadas aos montes. Dos filmes de John Hughes na década de 80 ao experimento de Richard Linklater em Boyhood: Da Infância à Juventude (2014), a sensação é que não há muito mais a ser dito. Ainda assim, vez ou outra surge um filme sobre adolescência, descobertas e chegada à maturidade que nos ganha pela sua autenticidade e compreensão sincera das angústias da juventude e esse é exatamente o caso deste Quase 18.
A trama acompanha Nadine (Hailee
Steinfeld), uma garota de dezessete anos que sempre teve dificuldade de se
enturmar e vive em um constante senso de deslocamento em relação ao resto dos
adolescentes de sua escola. Sua única amiga é Krista (Haley Lu Richardson) que
lhe ajuda a tornar tudo mais suportável depois da morte de seu pai. Seu irmão,
Darian (Blake Jenner), faz parte da turma popular da escola e deixa Nadine se
sentindo ainda pior consigo mesma. Quando Darian e Krista começam a namorar,
ela sente que não pode contar com mais ninguém.
O filme é bem hábil em traduzir
as angústias e inadequações adolescentes de uma maneira bem natural, sem
recorrer aos exageros e situações absurdas da maioria desses filmes constroem.
É apenas uma garota que não sabe seu lugar no mundo, que não se sente
confortável em sua própria pele e teme que todos esses sentimentos de não
pertencimento se estendam pelo resto de sua vida. Nadine não é uma garota
extraordinária, com uma sagacidade e compreensão das coisas acima de sua idade
(embora ela pense que é), é uma garota comum, alguém que você pode ter
conhecido no colégio, na sua rua ou mesmo alguém que foi como você nessa época.
É justamente todo esse naturalismo e impressão de "real", que parece
simples mas não é fácil de atingir, que nos faz sentir tão próximos e
conectados à protagonista.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Crítica - Jackie
Provavelmente não há
primeira-dama mais lembrada na história política dos Estados Unidos do que
Jacqueline Bouvier Kennedy, esposa de John Fitzgerald Kennedy, presidente
assassinado sob circunstâncias bastante questionáveis (sugiro que assistam JFK: A Pergunta que Não Quer Calar de
Oliver Stone). Famosa por sua gentileza e elegância, mas também pelo modo que
trabalhou honrar o legado do marido (e sua Camelot, como diz em dado momento do
filme) dias após seu assassinato. É o tipo de filme que podia render aquela
biografia quadrada, frígida e cheia de autoimportância (como Lincoln de Steven Spielbierg), mas
consegue fugir disso graças à direção do chileno Pablo Larraín e do trabalho de
Natalie Portman.
A trama começa tempos depois do
assassinato de John Kennedy (Caspar Phillipson), com Jackie (Natalie Portman)
recebendo em sua casa um jornalista (Billy Crudup) que irá entrevistá-la sobre
os dias que sucederam a morte do presidente. Sempre mantendo a conversa sob seu
controle, Jackie começa a lembrar dos momentos que passou ao lado do cunhado,
Bobby (Peter Saarsgard), do vice e próximo presidente Lyndon Johnson (John Carroll
Lynch), dos filhos e da organização do funeral presidencial.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Crítica - A Qualquer Custo
Os westerns tinham como tema recorrente a luta do homem contra um ambiente bruto e sem lei. Uma terra erma e hostil no qual tudo precisava ser tomado à força e sucesso ou riqueza eram construídos sobre cadáveres e atitudes questionáveis. Sob essa perspectiva este A Qualquer Custo poderia ser tranquilamente entendido como western a despeito de sua ambientação contemporânea, com agências de bancos substituírem diligências e carros substituindo cavalos.
Os irmãos Toby (Chris Pine) e
Tanner (Ben Foster) iniciam uma série de roubos à banco para juntar o dinheiro
necessário para pagar as dívidas da falecida mãe antes que o banco execute a
hipoteca da casa, ficando não apenas com o imóvel, mas com o recém-descoberto
petróleo da propriedade. Os roubos chamam atenção do patrulheiro Marcus (Jeff
Bridges) e seu parceiro Alberto (Gill Birmingham) que saem à caça da dupla.
Poderia ser um filme hiper
movimentado, barulhento e explosivo, mas o diretor David Mackenzie prefere
manter as perseguições e assaltos tão secos quanto as paisagens texanas. Quase
não há música durante esses momentos, a violência é bem gráfica e sem
concessões e os planos são mais longos, com poucos cortes, e em média e ampla
distância. A violência, portanto, não é retratada enquanto espetáculo, mas como
algo duro, brutal, da qual não emerge catarse. As planícies do Texas são
retradas em toda sua imensidão pelos planos amplos preponderantes e pela
fotografia com predominância de tons de azul e amarelo.