Apesar de tudo,
sexo ainda é um tema tabu em nossa sociedade, principalmente as práticas
sexuais que vão de encontro às noções mais tradicionais de família. Dentre
estas temos o swing, ou simplesmente
troca de casais, e é sobre isso que trata a comédia romântica argentina Dois Mais Dois.
A
história é centrada em Diego (Adrian Suar) e Emília (Julieta Diaz), um casal na
faixa dos quarenta com um filho adolescente e que vê esfriar a sua vida a dois.
Uma alternativa surge quando um casal amigo, Ricardo (Juan Minujin) e Betina
(Carla Peterson), assume ter reacendido a chama da relação através da prática
do swing e que esta poderia ser uma
alternativa para eles.
É
interessante como o filme vai inicialmente contrapondo as ações dos dois
casais, revelando a oposição direta entre eles. Enquanto Betina e Ricardo se
beijam loucamente com línguas para todos os lados, Diego apenas beija
timidamente o ombro de Emília. Em outro momento Ricardo e a esposa transam com
intensidade enquanto que Diego e Emília dormem e há um grande espaço vazio
entre os dois na cama, indicando o distanciamento do casal.
De
início Emília é mais aberta à possibilidade de swing enquanto que Diego apresenta muita resistência exibindo
camadas de insegurança emocional e sexual sob sua fachada de preconceito e
conservadorismo. É justamente sobre esse comportamento excessivamente retraído
que o humor do filme incide, como o momento em que ele pergunta a Ricardo que
tipo de drogas se consome durante um swing
e Ricardo ri, explicando que nem todos os swingers
são um bando de depravados viciados em drogas e sexo. O embaraço de Diego a
lidar com uma situação também é incrivelmente engraçado na cena em que o casal
vai a um swing pela primeira vez.
Na
verdade, todo o elenco exibe um timing
cômico impressionante, sempre acertando o tempo das piadas e reações, nunca
deixando nada parecer forçado ou que uma piada está acontecendo por mero
capricho do roteiro. Há muitos momentos genuinamente engraçados e logicamente
tentarei não contar muito aqui. A montagem também contribui para a comicidade
em especial numa cena em que Diego e Emília conversam sobre fazer fio-terra e a
cena corta para um plano fechado do dedo indicador de Emília em riste apontando
para um mapa meteorológico.
A
trama ainda é madura o bastante para mostrar que sexo não é tudo num
relacionamento, avançando alguns meses e mostrando novamente o casal de
protagonistas deitado na cama com um grande espaço entre eles. Além disso, trata
de como sexo e amor se confundem e dos problemas que podem acontecer ao se
envolver com mais de uma pessoa, embora ainda assim não trate o swing como uma prática ruim por si só,
apenas que algumas pessoas conseguem viver dessa forma, em especial o hilário
Pablo (Alfredo Casero), e outras não.
A
única coisa que chega a ser problemática no filme é o uso da música, já que o
diretor Diego Kaplan insiste em pontuar todas as cenas de sexo com os mesmos
solos de saxofone que mais parece algo saído de um pornô softcore do fim dos anos 70. Já que falei em cenas de sexo, aviso
de antemão aos onanistas de plantão (ou aos que caíram por acidente nesta
página enquanto procuravam pornografia) que tudo é retratado de maneira
bastante simples e singela, não havendo uma nudez muito explícita ou gráfica. O
que é uma virtude para o filme, pois não precisa apelar para um excesso de
nudez para chamar a atenção do público, confiando na competência de seu roteiro
e no talento de seus atores.
Dois Mais Dois é uma comédia divertidíssima
que trata abertamente com bom-humor e maturidade um tema bastante tabu, ao
mesmo tempo entretendo e quebrando preconceitos.
Nota:
7/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário