quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Crítica - Aliados

Análise Aliados


Review Aliados
Histórias sobre espiões e sabotadores nazistas eram uma grande tendência em Hollywood no final da década de 1930, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, e durante o início dos anos de 1940. O diretor Robert Zemeckis (do subestimado A Travessia) vai beber na fonte desses filmes neste Aliados, mas o que deveria ser uma mistura entre Casablanca (1942) e Sr. e Sra. Smith (2005), acaba não alcançando o potencial de sua premissa.

No ano de 1942 um oficial canadense trabalhando para os Estados Unidos, Max Vatan (Brad Pitt), vai à cidade marroquina de Casablanca, então ocupada pelos nazistas, para encontrar a membro da inteligência francesa Marianne Beauséjour (Marion Cotillard). Juntos eles posam como marido e mulher para se infiltrarem em um evento nazista e matarem um importante diplomata do Reich. O filme então salta para tempos depois, ambos estão casados e morando na Inglaterra, ainda durante a guerra. Max é avisado pelo comando militar que sua esposa pode ser uma espiã nazista e recebe instruções sobre como lidar com a questão, mas Max resolve investigar tudo por conta própria ao invés de deixar a cargo dos militares.

O terço inicial, do casal no Marrocos, é provavelmente o melhor do filme. Não apenas pela sensação de perigo, de que há olhos em cada canto, mas por criar momentos eficientes de tensão, como a cena em que vão a um escritório nazista para conseguirem a permissão para irem ao evento e o oficial questiona todos os detalhes do disfarce elaborado pelos dois. A construção dos protagonistas também contribui para esse sentimento de não saber em quem confiar, tratando ambos como pessoas frias e pragmáticas, capazes de convencerem qualquer um de qualquer coisa. Cada diálogo entre os dois parece uma sondagem, um teste, como se não confiassem suficientemente um no outro e precisassem se medir e avaliar nos mínimos detalhes. Isso, claro, não se deve somente à atenção do roteiro aos detalhes, mas também pelo trabalho de Pitt e Cotillard.

Isso nos prepara para o segundo ato, quando a lealdade de Marianne é questionada, mas o problema é que o filme não consegue manter o mesmo clima de tensão e suspense que o início trouxe. A trama é hábil em deixar pistas ambíguas ou que não são respondidas, constantemente nos fazendo duvidar se Marianne é ou não uma espiã, mas apesar dessa incerteza, praticamente não há tensão ou impacto no desenvolvimento das situações. A cena em que Max se vê cercado depois de desviar de sua missão para tentar obter respostas sobre a esposa, por exemplo, deveria nos fazer  sentir acuados, deveria elevar a tensão, mas o oficial resolve tudo com tanta facilidade e rapidez que não há suspense ou tensão. O mesmo pode ser dito sobre o parto de Marianne em meio a um bombardeio, que deveria nos fazer sentir a urgência e perigo da situação, mas isso não acontece. Esse sentimento de falta de tensão, suspense ou perigo, segue até os últimos minutos do filme e mesmo o clímax é desprovido de impacto, ainda que a resolução nos pegue relativamente desprevenidos. Também há a questão da falta de química entre os dois atores para convencer da paixão entre aqueles dois personagens e sem essa impressão de um sentimento forte entre eles, a tensão e o conflito que deveria existir a partir do segundo ato da trama acaba se esvaziando.


O filme é impecável na sua reconstrução da época, não apenas nos cenários, como também nos figurinos e objetos de cena, contribuindo para a imersão no período retratado. A maquiagem é usada para retratar os horrores e sequelas da guerra em alguns veteranos, em especial na breve cena em que o ator Matthew Goode surge como um antigo colega de Max, agora grotescamente deformado por seus ferimentos.

Aliados não consegue ficar à altura da suspense que sua premissa promete ou mesmo do competente primeiro ato, mas funciona graças a recriação de época precisa e da dupla de protagonistas.


Nota: 5/10 

Trailer

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