Histórias sobre espiões e
sabotadores nazistas eram uma grande tendência em Hollywood no final da década
de 1930, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, e durante o início dos anos de
1940. O diretor Robert Zemeckis (do subestimado A Travessia) vai beber na fonte desses filmes neste Aliados, mas o que deveria ser uma
mistura entre Casablanca (1942) e Sr. e Sra. Smith (2005), acaba não
alcançando o potencial de sua premissa.
No ano de 1942 um oficial
canadense trabalhando para os Estados Unidos, Max Vatan (Brad Pitt), vai à
cidade marroquina de Casablanca, então ocupada pelos nazistas, para encontrar a
membro da inteligência francesa Marianne Beauséjour (Marion Cotillard). Juntos
eles posam como marido e mulher para se infiltrarem em um evento nazista e
matarem um importante diplomata do Reich. O filme então salta para tempos
depois, ambos estão casados e morando na Inglaterra, ainda durante a guerra.
Max é avisado pelo comando militar que sua esposa pode ser uma espiã nazista e
recebe instruções sobre como lidar com a questão, mas Max resolve investigar
tudo por conta própria ao invés de deixar a cargo dos militares.
O terço inicial, do casal no
Marrocos, é provavelmente o melhor do filme. Não apenas pela sensação de
perigo, de que há olhos em cada canto, mas por criar momentos eficientes de
tensão, como a cena em que vão a um escritório nazista para conseguirem a
permissão para irem ao evento e o oficial questiona todos os detalhes do
disfarce elaborado pelos dois. A construção dos protagonistas também contribui
para esse sentimento de não saber em quem confiar, tratando ambos como pessoas
frias e pragmáticas, capazes de convencerem qualquer um de qualquer coisa. Cada
diálogo entre os dois parece uma sondagem, um teste, como se não confiassem
suficientemente um no outro e precisassem se medir e avaliar nos mínimos
detalhes. Isso, claro, não se deve somente à atenção do roteiro aos detalhes,
mas também pelo trabalho de Pitt e Cotillard.
Isso nos prepara para o segundo
ato, quando a lealdade de Marianne é questionada, mas o problema é que o filme
não consegue manter o mesmo clima de tensão e suspense que o início trouxe. A
trama é hábil em deixar pistas ambíguas ou que não são respondidas,
constantemente nos fazendo duvidar se Marianne é ou não uma espiã, mas apesar
dessa incerteza, praticamente não há tensão ou impacto no desenvolvimento das
situações. A cena em que Max se vê cercado depois de desviar de sua missão para
tentar obter respostas sobre a esposa, por exemplo, deveria nos fazer sentir acuados, deveria elevar a tensão, mas o
oficial resolve tudo com tanta facilidade e rapidez que não há suspense ou
tensão. O mesmo pode ser dito sobre o parto de Marianne em meio a um
bombardeio, que deveria nos fazer sentir a urgência e perigo da situação, mas
isso não acontece. Esse sentimento de falta de tensão, suspense ou perigo,
segue até os últimos minutos do filme e mesmo o clímax é desprovido de impacto,
ainda que a resolução nos pegue relativamente desprevenidos. Também há a
questão da falta de química entre os dois atores para convencer da paixão entre
aqueles dois personagens e sem essa impressão de um sentimento forte entre
eles, a tensão e o conflito que deveria existir a partir do segundo ato da
trama acaba se esvaziando.
O filme é impecável na sua
reconstrução da época, não apenas nos cenários, como também nos figurinos e
objetos de cena, contribuindo para a imersão no período retratado. A maquiagem
é usada para retratar os horrores e sequelas da guerra em alguns veteranos, em
especial na breve cena em que o ator Matthew Goode surge como um antigo colega
de Max, agora grotescamente deformado por seus ferimentos.
Aliados não consegue ficar à altura da suspense que sua premissa
promete ou mesmo do competente primeiro ato, mas funciona graças a recriação de
época precisa e da dupla de protagonistas.
Nota: 5/10
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