Desde que estreou como diretor na
adaptação do romance de Dennis Lehane Medo
da Verdade (2007), Ben Affleck vem engatando um sucesso atrás do outro na
função. De Atração Perigosa (2010) ao
vencedor do Oscar Argo (2012),
Affleck vinha se mostrando um diretor competente. Seu retorno a uma adaptação
da obra de Dennis Lehane neste A Lei da
Noite, no entanto, marca a primeira bola fora de Affleck na cadeira da
direção.
A trama se passa no período da
Lei Seca nos Estados Unidos e acompanha o pequeno criminoso Joe Coughlin (Ben
Affleck). Depois de quase ser morto por um chefão da máfia irlandesa de Boston,
Joe se alia a um líder da máfia italiana para poder se vingar. Ele então é
mandado para a Flórida para cuidar da produção e distribuição de bebida ilegal
e lá tenta construir seu império de contrabando.
Com uma narrativa que se desdobra
ao longo de décadas, o filme tem dificuldade em fazer todos os eventos
"caberem" dentro de sua duração e muita coisa acontece ou é revelada
somente nas narrações em off do
protagonista e isso acaba conferindo um tom episódico ao filme. Quando ele
chega na Flórida, imaginamos que veremos a construção de seu império de
contrabando, mas depois de alguns poucos encontros com os figurões da cidade a
trama faz um salto temporal e apenas via narração ficamos sabendo que Joe já
está com seu empreendimento criminal consolidado.
Esses saltos temporais também
prejudicam o desenvolvimento de alguns personagens que se transformam de um
momento para outro sem que tenhamos noção do que realmente motivou essas
mudanças. O melhor exemplo é Loretta (Elle Fanning), filha do chefe de polícia
Figgis (Chris Cooper). Depois de ser resgatada de um antro de drogas e abuso
sexual, o filme dá um salto temporal e reencontramos ela como uma eloquente
pastora religiosa com um séquito tão grande e tão influente que é capaz de
interferir na política da cidade e frear os planos de Joe para legalizar o
jogo. Como ela se tornou uma líder religiosa tão influente? Isso passa batido
pelo filme. Aliás, a personagem deixa a trama de modo súbito e seu desfecho,
que deveria ser impactante, acaba não tendo força alguma.
A relação entre Joe e Graciela
(Zoe Saldana) parece acontecer por pura conveniência de roteiro, o filme não
apenas não nos dá motivos muito críveis para o romance deles acontecer, como
também não consegue oferecer razões para que a relação entre eles continuar
estável apesar dela mencionar descontentamento com a conduta cruel do marido. O
filme também parece não ter certeza de como que seu público se engaje com seu
protagonista, pois ao mesmo tempo que pede que nos compadeçamos dos dilemas
morais de Joe, que deseja se afastar de seu cotidiano de violência, mas ao
mesmo tempo exibe as cenas em que ele executa brutalmente seus inimigos como
momentos de vitória, o que acaba soando contraditório.
Não ajuda que Joe seja um
personagem relativamente vazio, movido pelo seu desejo de vingança e mantendo a
mesma postura estoica (que por vezes soa como apatia) diante as vicissitudes do
destino que se impõem sobre ele. Os antagonistas são igualmente pouco
interessantes, do líder da Ku Klux Klan, que soa como uma caricatura risível ao
invés de uma ameaça, ao mafioso irlandês genérico.
Tecnicamente é muito preciso na
sua recriação da época, tanto nos cenários, quanto em figurinos e também no
modo como capta o espírito da época da Lei Seca, com ampla corrupção e gangues
duelando abertamente nas ruas. Esse contexto da época, com grupos de diferentes
etnias lutando pelo controle do submundo, acaba sendo usado para falar da
construção do sonho americano e como ele existe mais para justificar os
privilégios de poucos, do que como uma realidade acessível a todos.
Apesar de seu apuro visual e de
como usa essa jornada criminal para pensar na formação da sociedade americana, A Lei da Noite perde força ao não
conseguir dar conta da amplitude temporal de sua trama e isso acaba
prejudicando o desenvolvimento dos personagens e temas que deseja tratar.
Nota: 5/10
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