sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Crítica - Logan

Análise Logan


Review Logan
Mais de uma vez ao longo de sua duração Logan faz referências (inclusive o exibe na televisão em uma cena) ao clássico western Os Brutos Também Amam (1953). Um filme que, de certa forma, fala sobre como a violência, independente para qual fim seja usada, acaba também afetando aquele que a comete. A mácula da violência desumaniza, afasta do resto da humanidade literal e metaforicamente. A jornada do Wolverine (Hugh Jackman) no filme é exatamente essa, um homem que levou uma vida de violência e vive solitário, afastado do mundo, lamentando tudo o que foi, tudo o que fez e imaginando se algum dia encontrará paz.

A trama do filme se passa no futuro, com um Wolverine mais velho. Logicamente, a violência acaba eventualmente retornando à vida do protagonista depois que ele encontra a menina Laura (Dafne Keen), que está sendo caçada por um grupo de mercenários liderados pelo sádico Pierce (Boyd Holbrook). Logan então tenta fugir da perseguição, levando consigo a menina e um combalido professor Xavier (Patrick Stewart), que está perdendo o controle de seus poderes por culpa de uma doença degenerativa.

Hugh Jackman é preciso ao construir Logan como um homem assombrado pelas coisas que fez e não suporta mais a própria existência nem vê nela um propósito além de cuidar de Xavier e manter seus poderes sob controle. O filme entende que alguém com uma vida tão longeva e marcada por trauma e violência não tem como levar uma vida como a das demais pessoas, ele está danificado demais. A novata Dafne Keen se sai muito bem ao convocar a selvageria nata de Laura, alguém que não tem a menor ideia de como o mundo funciona e pouco conhece além de violência. Mesmo sem falar nada durante boa parte do filme, a garota consegue dizer muito com seu olhar e linguagem corporal e é possível perceber que por trás de sua conduta bruta, ela é em essência uma garotinha solitária em busca de afeto e conexão humana.

O diretor James Mangold, que também dirigiu Wolverine: Imortal (2013), conduz tudo de uma maneira mais contida do que a maioria dos filmes de super-herói, sendo mais próximo de um road movie de uma família que tenta se conectar (ainda que perseguidos por mercenários implacáveis). Mangold vai aos poucos exibindo a aproximação de Logan e a garota e como ele vê muito de si nela. Se no início ela lhe parece um estorvo, conforme a trama a avança ela se torna sua redenção, a chance de deixar algo melhor para o mundo e de impedir que alguém parecida com ele siga pelo caminho que lhe trouxe somente dor e arrependimento.

Algumas das pessoas com quem Logan se encontra no meio da estrada aparecem de maneira muito conveniente para a trama, sempre surgindo alguém no meio do caminho que por coincidência tem a oferecer exatamente o que os personagens precisam para desenvolverem suas relações. Um exemplo é a família de fazendeiros, que não tem outro propósito além de oferecer ao protagonista o vislumbre de uma "vida normal" ao mesmo tempo que nos lembra os motivos disso não estar ao seu alcance. Não chega, no entanto, a ser um grande problema, visto que há um senso real de progressão e aprendizado por parte dos personagens e os eventos de fato reverberam neles ao longo do filme.

Como este é um filme sobre duas pessoas com garras afiadas e sobre as marcas da violência, evidentemente que os personagens não ficam apenas na conversa e o filme tem sua boa dose de ação. Mangold aproveita bem a alta classificação indicativa e não se furta a exibir todo o sangue e mutilação que aconteceriam se alguém como o Wolverine ou outros mutantes realmente existissem. Os embates dele e a Laura contra os mercenários nos fazem sentir o peso e a violência de cada golpe de uma maneira que nenhum outro longa-metragem do personagem conseguiu.

Ao fim, Logan é uma despedida bastante digna para o personagem. Cheia de fúria e emoção, a trama entende muito bem quem ele é e o que o move, criando um desfecho poderoso que provavelmente vai levar muitas pessoas às lágrimas.


Nota: 9/10

Trailer

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