quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Crítica - A Qualquer Custo

Análise A Qualquer Custo


Review A Qualquer Custo
Os westerns tinham como tema recorrente a luta do homem contra um ambiente bruto e sem lei. Uma terra erma e hostil no qual tudo precisava ser tomado à força e sucesso ou riqueza eram construídos sobre cadáveres e atitudes questionáveis. Sob essa perspectiva este A Qualquer Custo poderia ser tranquilamente entendido como western a despeito de sua ambientação contemporânea, com agências de bancos substituírem diligências e carros substituindo cavalos.

Os irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) iniciam uma série de roubos à banco para juntar o dinheiro necessário para pagar as dívidas da falecida mãe antes que o banco execute a hipoteca da casa, ficando não apenas com o imóvel, mas com o recém-descoberto petróleo da propriedade. Os roubos chamam atenção do patrulheiro Marcus (Jeff Bridges) e seu parceiro Alberto (Gill Birmingham) que saem à caça da dupla.

Poderia ser um filme hiper movimentado, barulhento e explosivo, mas o diretor David Mackenzie prefere manter as perseguições e assaltos tão secos quanto as paisagens texanas. Quase não há música durante esses momentos, a violência é bem gráfica e sem concessões e os planos são mais longos, com poucos cortes, e em média e ampla distância. A violência, portanto, não é retratada enquanto espetáculo, mas como algo duro, brutal, da qual não emerge catarse. As planícies do Texas são retradas em toda sua imensidão pelos planos amplos preponderantes e pela fotografia com predominância de tons de azul e amarelo.

Como num típico western temos um universo habitado por sujeitos durões, mas conforme a trama avança e aprendemos mais sobre eles, percebemos mais coisas para além dessa fachada. Vamos vendo que apesar de sua conduta praticamente sociopata, Tanner tem um amor bem verdadeiro por seu irmão e por sua falecida mãe. Do mesmo modo, Marcus e Alberto realmente se importam um com o outro apesar das constantes provocações e a dinâmica complexa que se estabelece entre o quarteto de protagonistas é um dos pontos altos do filme.

Ben Foster consegue trazer certa comicidade à brutalidade de Tanner, mas sem deixar de fazer dele um sujeito ameaçador. Enquanto isso, Chris Pine é mais contido do que de costume em suas interpretações, fazendo de Toby um sujeito que está lidando com algo muito acima de sua capacidade (principalmente por não ter a propensão à violência do irmão), movido por dor e desespero, que tem plena noção dos limites que está cruzando, mas está disposto a tudo para ajudar sua família. Dizer que Jeff Bridges é ótimo e carismático como um caubói veterano é meio que chover no molhado à essa altura, visto que ele já fez isso muito bem em filmes como Bravura Indômita (2010). O filme ainda consegue encontrar personagens bem singulares em meio à secura do deserto texano, à exemplo da mau humorada garçonete que serve Marcus e Alberto em dado momento.

A ideia da tomada de riqueza à força como única forma de crescimento naquela região erma também é um tema constante no filme, em especial no diálogo de Alberto, no qual ele fala que aquela terra pertencia aos indígenas, que tiveram seu lar tomado à força pelos brancos, que, por sua vez, estão agora perdendo tudo para os bancos e grandes empresas, estimulando assim que gente como Tanner e Toby tentem recuperar suas coisas também à força, já que não lhes deixa outra maneira. Um ciclo de dominação e poder que se renova o tempo todo e sempre acaba em violência.

Deste modo A Qualquer Custo se mostra um excelente conto sobre lealdade, violência, perda e reparação, ancorado por bons personagens, direção segura e competente fotografia.


Nota: 9/10

Trailer:

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