A trilogia original de Mass Effect conquistava com seu universo
rico, personagens cativantes e narrativa complexa, cujas escolhas eram
carregadas a cada novo jogo e resultavam em experiências diferentes para cada
jogador. O fim da saga do (ou da) comandante Shepard no terceiro jogo dividiu
os fãs por causa do que muitos consideraram um desfecho frustrante, mas com
esse novo jogo a franquia literalmente tenta ir em novas direções neste Mass Effect: Andromeda, que leva os
jogadores a uma nova galáxia a ser colonizada.
A Narrativa
A trama começa mais ou menos no
mesmo período de Mass Effect 2 quando
a Iniciativa Andromeda lança suas naves em direção à longínqua galáxia de mesmo
nome. As principais raças da Via Láctea estão divididas em "arcas",
cada uma liderada por um Explorador (Pathfinder) responsável por capitanear a
missão de encontrar um novo planeta para seu povo. Seiscentos anos depois as
arcas finalmente chegam à nova galáxia e os tripulantes são acordados de seu
sono criogênico para descobrirem que os planetas habitáveis se tornaram tóxicos
e são atacados por uma raça hostil chamada Kett. Os jogadores controlam um dos
gêmeos Sara ou Scott Ryder, filhos do Explorador Alec Ryder, nessa missão de
colonizar novos planetas e desvendar o mistério dos Kett.
A trama em si repete muitas
batidas da trilogia original como uma raça que coleta o genoma de diferentes
espécies (como o Collectors), uma raça há muito extinta que deixou vários
segredos ocultos (como os Protheans) e um inimigo que deseja liberar um poder
ancestral contra a galáxia. O aglomerado de Heleus (como não
há Mass Relays em Andromeda, os personagens viajam somente entre um aglomerado
de estrelas da galáxia) é um lugar vasto, com muito a conhecer e explorar e
durante meu tempo com o jogo senti que minhas escolhas realmente impactavam.
Digo não só pelas grandes decisões (que não revelarei para não dar spoiler), mas até nas pequenas escolhas
em missões secundárias as consequências dessas escolhas sempre se mostravam,
mesmo que de modo sutil. Em uma missão, fui encarregado de desvendar o que
poderia ser o primeiro homicídio na nova galáxia e descobri que o homem acusado
do crime não o tinha cometido ainda que realmente tenha disparado (e errado) no
morto. Com as provas eu livrei da cadeia, mas posteriormente, durante uma
missão nas câmaras criogênicas, reencontrei o sujeito e descobri que ele tinha optado
por voltar ao sono criogênico, pois sua mulher o havia deixado e as pessoas o
ignoravam por saber que ele tentou matar um superior. É um momento pequeno, que
poderia ter passado batido por mim se eu não prestasse atenção, mas serve para
ilustrar como esse universo é vivo e fluido.
A tripulação
Os companheiros de equipe também
são uma das coisas que fazem a exploração de Andromeda funcionar tão bem, já
que o convívio com eles na Tempest (a nave dos personagens) rende bons
momentos, tanto aqueles em que seu personagem fala diretamente com eles, como
as conversas que ouvimos entre os tripulantes (sem falar nas mensagens no
quadro de avisos) quando caminhamos pela nave. Acompanhei as discussões entre o
piloto Kallo e o engenheiro Gil, ouvi Drack e Vetra contarem histórias de
guerra e uma vez vi Liam e Jaal tirando as roupas em um dos cômodos (calma,
eles só queriam testar as armaduras um do outro) o que rendeu algumas escolhas
divertidas de diálogo. Alguns, no entanto, acabam se destacando mais do que os
outros, como a engenhosa Vetra, a enérgica Peebee ou o passional Liam, enquanto
outros como Cora não envolvem tanto. Assim como nos jogos anteriores, também possível
desenvolver romances com vários personagens do jogo. Lamentavelmente a médica
Lexi, dublada por Natalie Dormer (a Margaery de Game of Thrones) não é uma dessas opções.
Se a escrita me aproxima dos
companheiros de equipe, a jogabilidade não faz o mesmo. Nos jogos anteriores
era possível comandar os aliados a usarem suas habilidades especiais e também
manejar seu equipamento e isso, de alguma forma, me ajudava a me sentir mais
próximo deles. Eu sabia que podia contar com Garrus para usar sua habilidade de
sobrecarga para eliminar os escudos de um inimigo e eu podia contar com Liara
para usar a pistola Scorpion (que dispara granadas aderentes) que equipei nela
para dar cabo de um inimigo com mais energia. Aqui, como eles ficam
completamente sob o controle da IA do jogo (que em geral é competente), senti
menos como se fossemos uma unidade trabalhando juntos para superar os problemas
e mais um grupo no qual cada um cuida de si, sendo que não é isso que narrativa
quer transmitir.
Planetas a explorar e colonizar
Ao invés da ação linear dos dois
últimos jogos, Mass Effect: Andromeda
se aproxima mais do primeiro Mass Effect
com alguns mundos abertos a explorar. Os cinco planetas
"colonizáveis" são vastos, cheios de atividades e variados entre si.
Cada um deles oferece perigos e problemas que precisam ser resolvidos para que
uma colônia seja viável, seja diminuir o índice de radiação atmosférica,
descontaminar a água ou mesmo enfrentar a ocupação dos Ketts. Cumprir as
missões não só dá experiência, itens e dinheiro, mas também aumenta a
"taxa de viabilidade" da colonização e cada nível ganho o jogador
escolhe que categoria de colonistas quer despertar da criogenia, cada um
oferecendo diferentes bônus e vantagens.
Para facilitar a exploração os
jogadores contam com o versátil veículo Nomad, cujos controles são bem melhores
que os veículos escorregadios da trilogia original, que pode ser customizado
para aumentar a velocidade, a resistência contra perigos do ambiente e outros
atributos. Os jogadores também contam com um jetpack que permite saltos mais altos, breve flutuação no ar e
esquivas rápidas, tornando o deslocamento do personagem mais ágil.
Combate e customização
Os ambientes abertos e o jetpack também contribuem para dar mais
opções e mobilidade aos combates, oferecendo diferentes modos de se aproximar
dos inimigos e sair de apertos. A nova mecânica de cobertura leva um pouco de
tempo para se acostumar, já que os personagens agora se encostam
automaticamente, mas é coerente com a proposta de maior mobilidade. Os
jogadores também tem mais opções em relação a como querem construir seu
protagonista, já que não são mais presos por restrições de classes, podendo
escolher livremente poderes das três grandes linhas (combate, biótico e
tecnologia) e equipando até três habilidades simultaneamente, o que fornece
leque enorme de possibilidades de combinação.
As antigas classes aparecem no
novo sistema de perfis, que oferecem alguns bônus dependendo da quantidade de
pontos de que se investe em cada tipo de habilidade. Assim, se escolher focar
em poderes bióticos, equipar o perfil "Adepto" oferece bônus que melhoram
o uso desses poderes ou se quiser um misto entre biótico e combate, basta
equipar o perfil "Vanguarda". Como os perfis podem ser trocados
livremente, o jogador pode experimentar a todo momento novos builds e táticas, evitando que o combate
fique repetitivo e sempre estimulando a pensar em múltiplas táticas.
Há também uma variedade grande de
armaduras e armas, divididas entre pistolas (as antigas submetralhadoras agora
fazem parte dessa categoria), escopetas, fuzis de assalto e fuzis de precisão.
Não há qualquer restrição quanto a que armas seu personagem pode equipar, mas é
preciso estar atento ao peso delas, já que levar consigo uma carga grande
aumenta o tempo de recarga de habilidades. Os equipamentos podem ser comprados
de vendedores ou construídos a partir de esquemas desenvolvidos com pontos de
pesquisa. Para obter pontos de pesquisa basta escanear as tecnologias
encontradas e depois gastá-los para desenvolver novos equipamentos. De início
parece complicado, mas na prática não é.
O multiplayer cooperativo do terceiro jogo retorna aqui na forma das
chamadas Missões Apex. Assim como antes, uma equipe de quatro jogadores precisa
sobreviver a ondas de inimigos enquanto cumpre objetivos. É simples, mas bem
divertido e nos mantêm engajados graças à variedade de classes, poderes e armas
a serem utilizadas. Diferente de Mass
Effect 3, no entanto, jogar o multiplayer
não é necessário para a história, mas é possível obter equipamentos e itens
de crafting para a campanha principal
ao jogar neste modo.
Bugs e Problemas de Performance
Apesar dos personagens
carismáticos e ambientes impressionantes, a experiência é atrapalhada por uma
série de problemas. Um deles são as animações faciais ocasionalmente esquisitas
que são pioradas por alguns bugs
gráficos que travam parte dos rostos fazendo parecer que o personagem está
tendo um derrame enquanto fala. Bugs,
aliás, são uma constante. Eu sei que um jogos de mundo aberto alguns acabam
passando, mas a quantidade presente aqui passa desses limites. Mais de uma vez
Ryder caiu por baixo do chão e me obrigou a carregar o último salvamento,
inimigos ficam presos em paredes e pedaços do cenário impedindo sua eliminação
e o progresso de algumas quests,
algumas missões demoram a registrar cumprimento de objetivos e outras insistem
em aparecer como "em aberto" mesmo depois de você completá-las.
Há também uma série de problemas
de performance, como a constante queda na taxa frames que por duas vezes me
rendeu mortes frustrantes em combate, e a demora em alguns loads para abrir portas. Por vezes o jogo demora a carregar todas
as texturas e objetos de um cenário, causando aquele incômodo efeito de pop in,
com pedras, árvores, grama ou pessoas se materializando do nada conforme se
anda.
Mass Effect: Andromeda funciona pelo amplo universo que oferece aos
seus jogadores, com muito a explorar e muitas escolhas a serem feitas, você
realmente se sente um explorador desbravando uma galáxia desconhecida e lutando
pela sobrevivência do seu povo. Uma pena, portanto, que a falta de polimento
prejudique tanto a imersão e renda muitos momentos de frustração.
Nota: 6/10
Obs: O jogo está disponível para PS4, Xbox One, PC
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário