segunda-feira, 27 de março de 2017

Crítica - Mass Effect: Andromeda

Análise Mass Effect: Andromeda


Review Mass Effect: AndromedaA trilogia original de Mass Effect conquistava com seu universo rico, personagens cativantes e narrativa complexa, cujas escolhas eram carregadas a cada novo jogo e resultavam em experiências diferentes para cada jogador. O fim da saga do (ou da) comandante Shepard no terceiro jogo dividiu os fãs por causa do que muitos consideraram um desfecho frustrante, mas com esse novo jogo a franquia literalmente tenta ir em novas direções neste Mass Effect: Andromeda, que leva os jogadores a uma nova galáxia a ser colonizada.

A Narrativa


A trama começa mais ou menos no mesmo período de Mass Effect 2 quando a Iniciativa Andromeda lança suas naves em direção à longínqua galáxia de mesmo nome. As principais raças da Via Láctea estão divididas em "arcas", cada uma liderada por um Explorador (Pathfinder) responsável por capitanear a missão de encontrar um novo planeta para seu povo. Seiscentos anos depois as arcas finalmente chegam à nova galáxia e os tripulantes são acordados de seu sono criogênico para descobrirem que os planetas habitáveis se tornaram tóxicos e são atacados por uma raça hostil chamada Kett. Os jogadores controlam um dos gêmeos Sara ou Scott Ryder, filhos do Explorador Alec Ryder, nessa missão de colonizar novos planetas e desvendar o mistério dos Kett.

A trama em si repete muitas batidas da trilogia original como uma raça que coleta o genoma de diferentes espécies (como o Collectors), uma raça há muito extinta que deixou vários segredos ocultos (como os Protheans) e um inimigo que deseja liberar um poder ancestral contra a galáxia. O aglomerado de Heleus (como não há Mass Relays em Andromeda, os personagens viajam somente entre um aglomerado de estrelas da galáxia) é um lugar vasto, com muito a conhecer e explorar e durante meu tempo com o jogo senti que minhas escolhas realmente impactavam. Digo não só pelas grandes decisões (que não revelarei para não dar spoiler), mas até nas pequenas escolhas em missões secundárias as consequências dessas escolhas sempre se mostravam, mesmo que de modo sutil. Em uma missão, fui encarregado de desvendar o que poderia ser o primeiro homicídio na nova galáxia e descobri que o homem acusado do crime não o tinha cometido ainda que realmente tenha disparado (e errado) no morto. Com as provas eu livrei da cadeia, mas posteriormente, durante uma missão nas câmaras criogênicas, reencontrei o sujeito e descobri que ele tinha optado por voltar ao sono criogênico, pois sua mulher o havia deixado e as pessoas o ignoravam por saber que ele tentou matar um superior. É um momento pequeno, que poderia ter passado batido por mim se eu não prestasse atenção, mas serve para ilustrar como esse universo é vivo e fluido.

A tripulação


Os companheiros de equipe também são uma das coisas que fazem a exploração de Andromeda funcionar tão bem, já que o convívio com eles na Tempest (a nave dos personagens) rende bons momentos, tanto aqueles em que seu personagem fala diretamente com eles, como as conversas que ouvimos entre os tripulantes (sem falar nas mensagens no quadro de avisos) quando caminhamos pela nave. Acompanhei as discussões entre o piloto Kallo e o engenheiro Gil, ouvi Drack e Vetra contarem histórias de guerra e uma vez vi Liam e Jaal tirando as roupas em um dos cômodos (calma, eles só queriam testar as armaduras um do outro) o que rendeu algumas escolhas divertidas de diálogo. Alguns, no entanto, acabam se destacando mais do que os outros, como a engenhosa Vetra, a enérgica Peebee ou o passional Liam, enquanto outros como Cora não envolvem tanto. Assim como nos jogos anteriores, também possível desenvolver romances com vários personagens do jogo. Lamentavelmente a médica Lexi, dublada por Natalie Dormer (a Margaery de Game of Thrones) não é uma dessas opções.

Se a escrita me aproxima dos companheiros de equipe, a jogabilidade não faz o mesmo. Nos jogos anteriores era possível comandar os aliados a usarem suas habilidades especiais e também manejar seu equipamento e isso, de alguma forma, me ajudava a me sentir mais próximo deles. Eu sabia que podia contar com Garrus para usar sua habilidade de sobrecarga para eliminar os escudos de um inimigo e eu podia contar com Liara para usar a pistola Scorpion (que dispara granadas aderentes) que equipei nela para dar cabo de um inimigo com mais energia. Aqui, como eles ficam completamente sob o controle da IA do jogo (que em geral é competente), senti menos como se fossemos uma unidade trabalhando juntos para superar os problemas e mais um grupo no qual cada um cuida de si, sendo que não é isso que narrativa quer transmitir.

Planetas a explorar e colonizar


Ao invés da ação linear dos dois últimos jogos, Mass Effect: Andromeda se aproxima mais do primeiro Mass Effect com alguns mundos abertos a explorar. Os cinco planetas "colonizáveis" são vastos, cheios de atividades e variados entre si. Cada um deles oferece perigos e problemas que precisam ser resolvidos para que uma colônia seja viável, seja diminuir o índice de radiação atmosférica, descontaminar a água ou mesmo enfrentar a ocupação dos Ketts. Cumprir as missões não só dá experiência, itens e dinheiro, mas também aumenta a "taxa de viabilidade" da colonização e cada nível ganho o jogador escolhe que categoria de colonistas quer despertar da criogenia, cada um oferecendo diferentes bônus e vantagens.

Para facilitar a exploração os jogadores contam com o versátil veículo Nomad, cujos controles são bem melhores que os veículos escorregadios da trilogia original, que pode ser customizado para aumentar a velocidade, a resistência contra perigos do ambiente e outros atributos. Os jogadores também contam com um jetpack que permite saltos mais altos, breve flutuação no ar e esquivas rápidas, tornando o deslocamento do personagem mais ágil.

Combate e customização


Os ambientes abertos e o jetpack também contribuem para dar mais opções e mobilidade aos combates, oferecendo diferentes modos de se aproximar dos inimigos e sair de apertos. A nova mecânica de cobertura leva um pouco de tempo para se acostumar, já que os personagens agora se encostam automaticamente, mas é coerente com a proposta de maior mobilidade. Os jogadores também tem mais opções em relação a como querem construir seu protagonista, já que não são mais presos por restrições de classes, podendo escolher livremente poderes das três grandes linhas (combate, biótico e tecnologia) e equipando até três habilidades simultaneamente, o que fornece leque enorme de possibilidades de combinação.

As antigas classes aparecem no novo sistema de perfis, que oferecem alguns bônus dependendo da quantidade de pontos de que se investe em cada tipo de habilidade. Assim, se escolher focar em poderes bióticos, equipar o perfil "Adepto" oferece bônus que melhoram o uso desses poderes ou se quiser um misto entre biótico e combate, basta equipar o perfil "Vanguarda". Como os perfis podem ser trocados livremente, o jogador pode experimentar a todo momento novos builds e táticas, evitando que o combate fique repetitivo e sempre estimulando a pensar em múltiplas táticas.

Há também uma variedade grande de armaduras e armas, divididas entre pistolas (as antigas submetralhadoras agora fazem parte dessa categoria), escopetas, fuzis de assalto e fuzis de precisão. Não há qualquer restrição quanto a que armas seu personagem pode equipar, mas é preciso estar atento ao peso delas, já que levar consigo uma carga grande aumenta o tempo de recarga de habilidades. Os equipamentos podem ser comprados de vendedores ou construídos a partir de esquemas desenvolvidos com pontos de pesquisa. Para obter pontos de pesquisa basta escanear as tecnologias encontradas e depois gastá-los para desenvolver novos equipamentos. De início parece complicado, mas na prática não é.

O multiplayer cooperativo do terceiro jogo retorna aqui na forma das chamadas Missões Apex. Assim como antes, uma equipe de quatro jogadores precisa sobreviver a ondas de inimigos enquanto cumpre objetivos. É simples, mas bem divertido e nos mantêm engajados graças à variedade de classes, poderes e armas a serem utilizadas. Diferente de Mass Effect 3, no entanto, jogar o multiplayer não é necessário para a história, mas é possível obter equipamentos e itens de crafting para a campanha principal ao jogar neste modo.

Bugs e Problemas de Performance


Apesar dos personagens carismáticos e ambientes impressionantes, a experiência é atrapalhada por uma série de problemas. Um deles são as animações faciais ocasionalmente esquisitas que são pioradas por alguns bugs gráficos que travam parte dos rostos fazendo parecer que o personagem está tendo um derrame enquanto fala. Bugs, aliás, são uma constante. Eu sei que um jogos de mundo aberto alguns acabam passando, mas a quantidade presente aqui passa desses limites. Mais de uma vez Ryder caiu por baixo do chão e me obrigou a carregar o último salvamento, inimigos ficam presos em paredes e pedaços do cenário impedindo sua eliminação e o progresso de algumas quests, algumas missões demoram a registrar cumprimento de objetivos e outras insistem em aparecer como "em aberto" mesmo depois de você completá-las.

Há também uma série de problemas de performance, como a constante queda na taxa frames que por duas vezes me rendeu mortes frustrantes em combate, e a demora em alguns loads para abrir portas. Por vezes o jogo demora a carregar todas as texturas e objetos de um cenário, causando aquele incômodo efeito de pop in, com pedras, árvores, grama ou pessoas se materializando do nada conforme se anda.

Mass Effect: Andromeda funciona pelo amplo universo que oferece aos seus jogadores, com muito a explorar e muitas escolhas a serem feitas, você realmente se sente um explorador desbravando uma galáxia desconhecida e lutando pela sobrevivência do seu povo. Uma pena, portanto, que a falta de polimento prejudique tanto a imersão e renda muitos momentos de frustração.


Nota: 6/10

Obs: O jogo está disponível para PS4, Xbox One, PC

Trailer

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