O primeiro Nier, lançado em 2010, não era um jogo perfeito, mas cativava por
sua mistura de estilos, narrativa complexa e música marcante. Não vendeu muito
bem, mas acabou virando cult e gerou
essa "continuação" (ou seria spin
off?) Nier: Automata, que traz em
si as principais qualidades do jogo original.
A trama se passa séculos no
futuro quando uma espécie alienígena usou máquinas para atacar a humanidade. A
raça humana se refugia na Lua e cria androides para combaterem as máquinas. A
androide 2B é enviada para a Terra para investigar máquinas que estão se
comportando de maneira diferente. Com a ajuda do androide 9S (Nines), ela
descobre que as máquinas se libertaram da rede alienígena que as controlava e
passaram a desenvolver uma inteligência própria. A partir daí a narrativa
levanta questões éticas e morais sobre identidade, consciência, racionalidade e
o que faz de nós humanos conforme a dupla tenta desvendar o que está
acontecendo.
O jogo é esperto de não tentar
responder as questões que levanta (afinal séculos de filosofia não conseguiram)
deixando elas em aberto para o público. A trama muitas vezes se desenvolve de
maneira bem bizarra, mas o jogo consegue usar a esquisitice em benefício
próprio, ainda que alguns provavelmente não irão se agradar com isso. Assim
como o primeiro Nier, esse aqui
também traz múltiplos finais, sendo necessário terminar o jogo ao menos três
vezes para ver o final completo, sendo necessárias cerca de quarenta horas para
ver todos os caminhos. Cada vez há uma nova rota e um novo ponto de vista sobre
a história, além de também alterar o personagem com o qual se joga, mudando um
pouco a jogabilidade.
Como de costume nos jogos da
desenvolvedora Platinum Games (como Transformers: Devastation), o combate é veloz e grandiloquente, com várias armas e combos
à disposição dos personagens e muito espaço para customização e experimentação.
Os personagens também são acompanhados de um pequeno drone responsável por
ataques à distância e que também pode executar ataques especiais. Esquivar na
hora certa permite realizar contra ataques que causam mais dano e assim o
jogador precisa estar atento para atacar, atirar e desviar conforme enfrenta os
inimigos. A quantidade de coisas a fazer simultaneamente durante uma luta
parece difícil de dominar no início, mas isso torna o domínio de todas as
mecânicas em algo ainda mais satisfatório.
Além dos combates, o jogo ainda
apresenta segmentos em que os personagens manejam armaduras voadoras, criando
combates aéreos que remetem aos jogos estilo bullet hell como Aero
Fighters. Também traz alguns minigames que envolvem hackear inimigos ou aparelhos, oferecendo assim um pouco de
variedade ao gameplay.
Os personagens sobem de nível
conforme ganham experiência, melhorando os atributos. As armas coletadas também
podem ser melhoradas coletando os ingredientes necessários, aumentando seu dano
e também adicionando novas habilidades a elas. Os personagens também podem ser
customizados com chips que podem
melhorar atributos como ataque e defesa ou dão novas habilidades como
regeneração de vida e uma breve desaceleração do tempo quando se faz uma
esquiva no momento certo.
Se a narrativa principal levanta
questões instigantes e oferece batalhas grandiosas contra chefões poderosos, as
missões secundárias são puro tédio. A maioria delas são fetch quests e escort
missions, envolvendo coletar determinados itens ou proteger um determinado
personagem durante um trajeto, sendo pouco inspiradas, variadas e muitas vezes
aborrecidas.
O mundo aberto apresenta uma
Terra arruinada, com grandes cidades tomadas pela vegetação, mas é genérico,
não sendo muito diferente de outros cenários pós-apocalípticos e não há muito a
fazer nele além de atividades como pesca ou reunir montarias (é possível montar
alces e javalis). Ao menos o visual dos protagonistas é bem singular, em
especial o design "gótico lolicon" da protagonista 2B, mas
também o estranho visual das atarracadas máquinas alienígena e o visual
imponente aspecto de alguns chefões. O que falta de identidade nos cenários, o
jogo compensa de sobra com sua música singular e ocasionalmente esquisita, que
fica em nossa mente mesmo horas depois que paramos de jogar. É um dos raros
casos em que a música faz valer a experiência com o jogo e a exploração de um
mundo aberto que não tem exatamente muito a oferecer.
Assim como o jogo original, Nier: Automata tem sua parcela de
problemas, mas nos conquista com sua esquisitice que lhe dá uma identidade
própria. Seu combate afiado, narrativa instigante e a excelente música acabam
fazendo tudo valer a pena.
Nota: 8/10
O jogo está disponível para PS4 e PC
Trailer:
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