quarta-feira, 22 de março de 2017

Crítica - T2 Transpotting

Análise Trainspotting 2


Resenha T2 Transpotting
Ainda hoje o primeiro Trainspotting: Sem Limites (1996) é um dos filmes mais marcantes da carreira do diretor Danny Boyle. Há anos se fala em uma continuação, principalmente depois que Irvine Welsh, autor do livro homônimo que inspirou um filme, lançou em 2002 uma continuação intitulada Porno. Parecia uma questão de tempo até que os personagens voltassem aos cinemas, mas uma série de problemas (incluindo uma briga entre o ator Ewan McGregor e Danny Boyle, que ficaram anos sem se falar) seguraram o desenvolvimento do projeto. Com esse T2 Trainspotting chegando aos cinemas cerca de quinze anos depois das primeiras tentativas, ficava a questão se ainda havia algo de relevante a ser dito com aqueles personagens.

Depois de deixar seus amigos e o país no fim do primeiro filme, Renton (Ewan McGregor) retorna à sua cidade Natal e reencontra os antigos amigos Spud (Ewen Bremner) e Simon "Sick Boy" (Jonny Lee Miller). Depois de vinte anos Spud continua viciado em heroína e enfrenta problemas por causa disso, tendo se distanciado da esposa e do filho. Simon ainda tenta viver de pequenos golpes, consumindo drogas e ainda agindo e se achando um jovem descolado e imaturo apesar de já ter passado dos quarenta. Renton parece estar com a vida no lugar, mas na verdade não está tão bem assim e decide ajudar Simon em seu esquema para montar um bordel. Ao mesmo tempo, o perigoso Begbie (Robert Carlyle) foge da cadeia e busca vingança contra Renton.


O filme funciona mais como um grande epílogo ou apêndice ao filme original ao invés de uma continuação plenamente realizada. O primeiro Trainspotting é daqueles poucos filmes que são a síntese de uma geração e resistem ao tempo justamente por capturarem a essência e a verdade daquilo que observa. Obviamente esse é um feito grande e difícil demais para ser reproduzido, então é de se esperar que ele não tenha o mesmo impacto e força do original, conforme o filme confronta esses personagens com as consequências das escolhas que tomaram.

Renton se tornou um homem um homem cínico e inseguro, que não entende como sua vida acabou levando-o de volta à estaca zero. Spud também tenta se reencontrar e retomar o controle de sua vida, mas ao invés de recorrer aos antigos esquemas, tenta fazê-lo por vias honestas. Já Simon e Begbie continuam as mesmas pessoas que eram antes, tendo aprendido praticamente nada com a passagem do tempo, mas aos poucos vão ganhando ciência do quanto se tornaram patéticos.

De maneira pontual a narrativa consegue exibir a mesma contundência crítica e verve contracultural do original. Ele fala da ascensão do conservadorismo na Grã-Bretanha na divertida cena em que eles invadem um clube conservador, da processo de gentrificação das cidades através da tentativa de Renton e Simon em vender seu "empreendimento" como algo que vai restaurar a vizinhança e, claro, no momento em que Renton apresenta a Veronika (Anjela Nedyalkova) uma versão atualizada de seu discurso "escolha a vida", criticando o consumismo, redes sociais e todos os hábitos cotidianos que usamos para nos entorpecer.

Apesar de lento e demorar de apresentar qual será o ponto central de sua trama (o esquema do bordel surge com quase uma hora de projeção), a direção de Boyle continua a instilar euforia através da montagem e da fotografia, criando imagens que simulam o torpor de seus personagens (como quando Renton e Simon usam heroína pela primeira vez depois de anos sem consumi-la). Seu uso da música evoca a sensação de constante energia que as músicas usadas no primeiro traziam, ao mesmo tempo usar faixas do The Clash, Blondie e outros só deixa claro o quanto esses personagens estão parados e presos ao passado. Como não podia deixar de ser, também reutiliza as canções Lust For Life de Iggy Pop e Born Slippy do Underworld que marcaram o original.

Trainspotting 2 ecoa o passado e coloca seus personagens para dialogar com ele e entender como isso os moldou. Às vezes soa como algo demasiadamente apegado ao que passou e que pouco olha para frente e logicamente não tem o impacto do filme original, mas ainda assim consegue revisitar e desenvolver seus protagonistas de uma maneira consistente.

Nota: 6/10

Trailer

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