Na época de Natal sempre saem
filmes que tentam pegar carona no espírito das festas de fim ano, entregando
comédias sobre valores familiares, união e...espera um pouco...como é? Esse
filme está sendo lançado em março? Qual o sentido de lançar uma comédia
natalina em março? Porque não colocá-la nos cinemas em dezembro, quando também
foi lançado nos Estados Unidos? Sem o gancho do Natal, que certamente levaria
algumas pessoas ao cinema caso tivesse sido lançado na época certa, Tinha Que Ser Ele? não tem nada de muito
interessante a oferecer além de piadas que já vimos em outras comédias,
natalinas ou não.
Ned (Bryan Cranston) descobre da
pior maneira possível o novo namorado de sua filha, Stephanie (Zoey Deutch).
Quando ela faz uma vídeo para o pai em seu aniversário, Ned vê o tatuado e
barbudo Laird (James Franco) entrando pela porta e tirando a roupa. Com uma
péssima impressão do atual genro, Ned vai com a esposa e o filho caçula visitar
Stephanie no Natal e, para sua surpresa, descobre que ela está morando com o
namorado. Laird, por sinal, é um milionário do ramo de tecnologia que vive em
uma suntuosa e tecnológica mansão. Como sempre foi solitário, tenta de tudo
para conquistar o afeto da nova família, mas seu sogro não aprecia o jeito
exagerado e relaxado do genro.
Sim, é basicamente uma repetição
de filmes como Entrando Numa Fria
(2000), em que o pai turrão implica com o namorado da filha, que tenta, de um
jeito esquisito, ser gentil e se enturmar gerando situações constrangedoras.
Como é de costume nesse tipo de filme, sogro e genro aprenderão alguma coisa um
com o outro e no fim se aceitam, sem muitas surpresas. Há também uma questão de
conflito geracional, com Laird sendo um rico empreendedor digital enquanto que
Ned é dono de uma empresa de impressão que luta para se manter competitiva, mas
não vai além dessas observações de analógico e digital.
A natureza previsível incomodaria
menos se ao menos o filme conseguisse divertir, mas Franco interpreta o
mesmíssimo sujeito largado e esquisito que já viveu em filmes como Segurando as Pontas (2008) e boa parte
de suas piadas consistem de tomadas da sua bunda ou cenas dele gratuitamente
dizendo palavrões, como se a mera menção da palavra "merda" ou
"foda" sem qualquer outro contexto já fosse o suficiente para fazer
alguém rir. De resto sobra aquela escatologia preguiçosa que se limita a
mostrar urina ou testículos, esperando que essas imagens por si só sejam
engraçadas.
As cenas de Laird treinando com
seu mordomo/assistente Gustav (Keegan-Michael Key) são um plágio descarado dos
antigos A Pantera Cor de Rosa e soa
como algo completamente fora do tom do filme, já que diferente dos filmes do
inspetor Closeau Tinha Que Ser Ele?
não tem sua abordagem completamente voltada para o absurdo e o nonsense, embora flerte com o besteirol.
O fato do filme apontar a referência a Closeau não torna a situação mais
engraçada, na verdade o efeito é constrangedoramente oposto, soando mais como
uma admissão de que ninguém tinha uma ideia boa para uma piada naquela cena,
então copiaram algo que era engraçado antigamente para tapar o buraco na
esperança que funcionasse. As gags
envolvendo Laird servindo comidas esquisitas para os sogros até começam
engraçadas, mas são repetidas tantas vezes que acabam cansando.
Aqui e ali o filme tenta colocar
celebridades interpretando a si mesmas, mas as piadas não vão além de enquadrar
uma pessoa conhecida e dizer "olha, o Elon Musk está no filme, não é
engraçado?". A única participação especial que realmente rende bons
momentos é a dos integrantes da Kiss. Além de desperdiçar as celebridades, o
filme também desperdiça bons comediantes em papeis ruins, como Cedric The
Entertainer, que tem pouco a fazer como um colega de trabalho de Ned, ou
Keegan-Michael Key como o caricato mordomo que poderia ser integralmente
cortado do filme que não faria diferença alguma.
Os melhores momentos ficam por
conta de Bryan Cranston, em especial sua cena tentando entender o funcionamento
de uma privada japonesa, tentando entender o significado da expressão bukakke ou quando tenta hackear o
computador do genro. Cranston embarca sem medo no absurdo das situações, mas ao
mesmo tempo consegue manter seu personagem como alguém crível, com motivações
compreensíveis para agir como age, evitando assim se tornar uma caricatura rasa
ou desinteressante como os demais personagens.
Logicamente Cranston sozinho não
consegue evitar que Tinha Que Ser Ele?
seja uma coleção de clichês pontuada por um humor raso e pouco inventivo.
Nota: 4/10
Trailer
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