quarta-feira, 15 de março de 2017

Crítica - Tinha Que Ser Ele?

Análise Tinha Que Ser Ele?


Review Tinha Que Ser Ele?Na época de Natal sempre saem filmes que tentam pegar carona no espírito das festas de fim ano, entregando comédias sobre valores familiares, união e...espera um pouco...como é? Esse filme está sendo lançado em março? Qual o sentido de lançar uma comédia natalina em março? Porque não colocá-la nos cinemas em dezembro, quando também foi lançado nos Estados Unidos? Sem o gancho do Natal, que certamente levaria algumas pessoas ao cinema caso tivesse sido lançado na época certa, Tinha Que Ser Ele? não tem nada de muito interessante a oferecer além de piadas que já vimos em outras comédias, natalinas ou não.

Ned (Bryan Cranston) descobre da pior maneira possível o novo namorado de sua filha, Stephanie (Zoey Deutch). Quando ela faz uma vídeo para o pai em seu aniversário, Ned vê o tatuado e barbudo Laird (James Franco) entrando pela porta e tirando a roupa. Com uma péssima impressão do atual genro, Ned vai com a esposa e o filho caçula visitar Stephanie no Natal e, para sua surpresa, descobre que ela está morando com o namorado. Laird, por sinal, é um milionário do ramo de tecnologia que vive em uma suntuosa e tecnológica mansão. Como sempre foi solitário, tenta de tudo para conquistar o afeto da nova família, mas seu sogro não aprecia o jeito exagerado e relaxado do genro.

Sim, é basicamente uma repetição de filmes como Entrando Numa Fria (2000), em que o pai turrão implica com o namorado da filha, que tenta, de um jeito esquisito, ser gentil e se enturmar gerando situações constrangedoras. Como é de costume nesse tipo de filme, sogro e genro aprenderão alguma coisa um com o outro e no fim se aceitam, sem muitas surpresas. Há também uma questão de conflito geracional, com Laird sendo um rico empreendedor digital enquanto que Ned é dono de uma empresa de impressão que luta para se manter competitiva, mas não vai além dessas observações de analógico e digital.

A natureza previsível incomodaria menos se ao menos o filme conseguisse divertir, mas Franco interpreta o mesmíssimo sujeito largado e esquisito que já viveu em filmes como Segurando as Pontas (2008) e boa parte de suas piadas consistem de tomadas da sua bunda ou cenas dele gratuitamente dizendo palavrões, como se a mera menção da palavra "merda" ou "foda" sem qualquer outro contexto já fosse o suficiente para fazer alguém rir. De resto sobra aquela escatologia preguiçosa que se limita a mostrar urina ou testículos, esperando que essas imagens por si só sejam engraçadas.

As cenas de Laird treinando com seu mordomo/assistente Gustav (Keegan-Michael Key) são um plágio descarado dos antigos A Pantera Cor de Rosa e soa como algo completamente fora do tom do filme, já que diferente dos filmes do inspetor Closeau Tinha Que Ser Ele? não tem sua abordagem completamente voltada para o absurdo e o nonsense, embora flerte com o besteirol. O fato do filme apontar a referência a Closeau não torna a situação mais engraçada, na verdade o efeito é constrangedoramente oposto, soando mais como uma admissão de que ninguém tinha uma ideia boa para uma piada naquela cena, então copiaram algo que era engraçado antigamente para tapar o buraco na esperança que funcionasse. As gags envolvendo Laird servindo comidas esquisitas para os sogros até começam engraçadas, mas são repetidas tantas vezes que acabam cansando.

Aqui e ali o filme tenta colocar celebridades interpretando a si mesmas, mas as piadas não vão além de enquadrar uma pessoa conhecida e dizer "olha, o Elon Musk está no filme, não é engraçado?". A única participação especial que realmente rende bons momentos é a dos integrantes da Kiss. Além de desperdiçar as celebridades, o filme também desperdiça bons comediantes em papeis ruins, como Cedric The Entertainer, que tem pouco a fazer como um colega de trabalho de Ned, ou Keegan-Michael Key como o caricato mordomo que poderia ser integralmente cortado do filme que não faria diferença alguma.

Os melhores momentos ficam por conta de Bryan Cranston, em especial sua cena tentando entender o funcionamento de uma privada japonesa, tentando entender o significado da expressão bukakke ou quando tenta hackear o computador do genro. Cranston embarca sem medo no absurdo das situações, mas ao mesmo tempo consegue manter seu personagem como alguém crível, com motivações compreensíveis para agir como age, evitando assim se tornar uma caricatura rasa ou desinteressante como os demais personagens.

Logicamente Cranston sozinho não consegue evitar que Tinha Que Ser Ele? seja uma coleção de clichês pontuada por um humor raso e pouco inventivo.


Nota: 4/10

Trailer

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