Começamos hoje com nossa seção de
Drops (ou pílulas) críticas. É um espaço para textos um pouco mais breves sobre
filmes que não queremos deixar de falar, mas infelizmente tivemos muito tempo
disponível para fazer um texto mais longo como costumamos.
Quando o primeiro Guardiões da Galáxia (2014) chegou aos
cinemas, ninguém esperava que pudesse ser tão bom e tão divertido quanto
realmente foi. Afinal tinha um diretor vindo do cinema independente sem nenhum
grande sucesso (apesar dos seus filmes serem bacanas), um protagonista vindo da
comédia e que nunca tinha sido "testado" como herói de ação e um
grupo composto por personagens obscuros do universo que provavelmente eram
desconhecidos pela grande maioria do público. O resultado, no entanto, foi uma
aventura divertida, com personagens carismáticos e que acertava ao tentar
entender como aquelas pessoas desajustadas acabaram se unindo e virando heróis.
Este Guardiões da Galáxia Vol. 2
segue o mesmo caminho do primeiro, e embora não entregue nada de novo, continua
muito divertido.
Peter Quill (Chris Pratt) e seus
aliados acabam de terminar uma missão contratada pelos orgulhosos Soberanos,
uma raça de criaturas douradas lideradas por Ayesha (Elizabeth Debicki), mas
Rocket (voz de Bradley Cooper) acaba roubando algo que é valioso para eles, o
que os coloca na mira de Ayesha. O grupo acaba sendo salvo por Ego (Kurt
Russell), que revela segredos do passado de Peter, mas Gamora (Zoe Saldana)
suspeita das intenções dele.
Colossal é realmente um filme "fora da caixa". Defini-lo
como um "filme de monstro" não só seria incapaz de dar conta do que
ele realmente é como também poderia dar uma impressão errada a seu respeito e
fazer o espectador pensar que está diante de algo como Godzilla(2014) ou Círculo de Fogo (2013), com monstros gigantes destruindo cidades e combates
espetaculares, quando o produto final está longe disso.
Gloria (Anne Hathaway) é uma
mulher desempregada e com tendências alcoólatras, cujo namorado, Tim (Dan
Stevens), não está satisfeito com seu comportamento irresponsável. Tim acaba
colocando-a para fora de seu apartamento e sem ter para onde ir Gloria decide
retornar à sua cidade do interior. Lá ela consegue emprego no bar de Oscar
(Jason Sudeikis), um antigo amigo de infância, mas tudo muda quando um monstro
gigante começa a aparecer e desaparecer misteriosamente na Coreia do Sul e
Gloria vai percebendo aos poucos que ela tem uma ligação com a criatura.
Existem muitos filmes e séries
sobre trajetórias de sucesso no ambiente corporativo. Sobre pessoas que não
tinham nada e construíram grandes empresas. A quase totalidade dessas histórias
(como o recente Fome de Poder) é
sobre homens e há poucas que abordam o sucesso de alguma figura feminina. A
primeira temporada de Girlboss, nova
série original da Netflix, chama atenção justamente ao trazer uma história de
sucesso de uma mulher que construiu uma grande empresa do nada.
A trama, levemente (muito
levemente, como a própria série diz) baseada na história real da fundadora da loja
online Nasty Gal, acompanha Sophia (Britt Robertson), uma jovem sem rumo na
vida que percebe que pode capitalizar em cima de seu conhecimento de moda. Ela
compra roupas raras em brechós por valores baixos e então as revende como
artigos vintage a preços altos e aos
poucos consegue um inesperado sucesso em sua atividade.
Além de registrar uma história de
sucesso, é também um relato sobre uma geração, usando Sophia para falar sobre
como os millenials, criados sem
grandes crises políticas ou sociais e educados para acreditarem que são
especiais, são despreparados para a vida adulta. Crendo que o mundo lhes deve
alguma coisa e que seus sonhos lhes serão entregues de bandeja, é uma geração
que não sabe lidar com o fracasso, que desiste ou esperneia sempre que encontra
um obstáculo ou ouve um não.
O título original deste Paixão Obsessiva é Unforgettable, que em inglês significa inesquecível. A titulação
original acaba soando como um grande paradoxo, já que é provavelmente um dos
filmes mais esquecíveis que vi esse ano. Um suspense genérico que poderia
tranquilamente ter sido dançado diretamente em vídeo ou no Supercine da Globo.
A trama é centrada em Julia
(Rosario Dawson), que se afastou do trabalho para casar com David (Geoff
Stults). Tess (Katherine Heigl), ex-mulher de David e mãe de sua filha, não vê
a união com bons olhos e tem dificuldade em aceitar o término do
relacionamento. Aos poucos ela começa a impor sua presença e criar problemas
para o casal.
É aquele suspense padrão de
"mulher rejeitada que tenta tornar a vida do ex um inferno", mas
contado sem qualquer sutileza e muitos furos na trama. Já em sua primeira cena,
mostrada se maquiando em sua casa, o filme já deixa claro que Tess é uma
psicótica obsessiva e assim não há tensão ou incerteza em relação ao que ela
irá fazer porque seu desequilíbrio já fica escancarado para o público. O
suspense também é prejudicado por começar com um flashfoward de Julia numa delegacia, acusada de um crime que não
cometeu, o que já entrega o plano da vilã. Assim, quando o filme nos mostra,
através do uso de câmera em primeira pessoa, Tess invadindo a casa de Julia
sabemos não só o que ela vai fazer (roubar seus objetos pessoais), como também
já sabemos que ela será bem sucedida e que nesse momento não fará nada com
Julia. Deste modo, o que deveria ser uma cena de tensão, perigo e incerteza é
reduzida a um mero exercício de paciência conforme esperamos que a narrativa
alcance as informações que já tinha previamente nos dado sobre o andamento da
trama.
Desde os primeiros trailers o RPG indie Cosmic Star Heroine me chamou atenção
por sua estética 16 bits que remetia a uma mistura dos antigos Phantasy Star (em especial Phantasy Star IV)de Mega Drive (ou Genesis) e Chrono
Trigger. A ideia de algo que remetia aos RPGs que adorava quando garoto,
mas que conseguisse agregar algo novo às mecânicas que se espera desse tipo de
jogo me agradava bastante e felizmente a desenvolvedora Zeboyd Games (de Cthulhu Saves The World) entrega
exatamente o que prometeu.
A trama acompanha a agente
intergaláctica Alyssa L'Salle que durante uma missão de rotina encontra uma
poderosa arma e se vê em meio a uma grande conspiração que, claro, posa uma
ameaça para todo o universo. Não reinventa a roda, mas funciona pelo carisma e
humor dos personagens. Apesar da natureza referencial, o universo construído
pela trama é coeso e interessante o bastante para se sustentar sozinho ao invés
de apenas ser algo que parece com muitas outras coisas.
Os primeiros trailers de Vida pareciam
dar a impressão de que o filme não tinha muito a oferecer além de ser uma
espécie de cópia de Alien: O Oitavo
Passageiro (1979). Se misturássemos imagens do trailer do filme com o do
vindouro Alien: Covenant os dois
seriam praticamente indistinguíveis. Depois de assistir o filme é difícil negar
a impressão inicial, mas mesmo não fazendo nada que a franquia Alien já não tenha feito, Vida funciona muito bem pelo modo como
conduz a nossa tensão.
A narrativa segue uma equipe de
astronautas à bordo da Estação Espacial Internacional em uma missão para
analisar material coletado de Marte. Nas amostras do solo a equipe encontra um
organismo unicelular inerte e consegue reanimá-lo. A criatura começa a se desenvolver
e se mostra muito mais complexa do que inicialmente previsto e, logicamente,
começa a querer sair do confinamento.
O filme faz um bom trabalho em
estabelecer o funcionamento da estação espacial e a finalidade de cada espaço,
o que é importante quando a tensão explode a há pouco espaço para explicações.
Usando planos longos e poucos cortes, o diretor Daniel Espinosa (do fraco Crimes Ocultos) ilustra as distâncias
entre os módulos, o aperto dos espaço e as limitações de se mover em gravidade
zero. Muitas vezes a câmera se movimenta como se flutuasse ao redor dos
personagens, transmitindo não só a sensação de gravidade zero, como também a
falta de um referencial de cima/baixo, lado certo/lado errado, causado pela
falta de gravidade.
Uma vez estabelecido e espaço e a
criatura, o filme imediatamente explora seu potencial como ameaça e quase não
dá respiro ao espectador. Do momento em que ela esmaga a mão de um dos
cientistas, há um senso palpável de que ela pode matar a todos ali, podendo se
esconder em qualquer lugar ou resistir. Não quero falar muito para não estragar
a experiência de ninguém, mas o filme consegue criar várias imagens grotescas e
angustiantes, explorando ao máximo a claustrofobia daqueles espaços apertados.
Os personagens são definidos basicamente
por suas funções na estação espacial e a maioria deles são meramente pedaços de
carne a serem devorados, mas o manejo da tensão é tão competente que o fato da
maioria deles ser uma coleção de lugares comuns acaba nem tendo tempo de
incomodar. O destaque fica por conta da médica Miranda, interpretada por
Rebecca Ferguson. Ela podia cair na vala comum de cientistas frios e
excessivamente racionais, mas Ferguson instila nela um senso de dever e
responsabilidade, além de um calor humano bem genuíno, que seu comportamento
extremamente pragmático jamais cai no exagero ou na caricatura.
Vida pode não fazer nada que já não tenha sido feito no cinema, mas
ainda assim é uma jornada sufocante e carregada de tensão que nos lembra o quão
ameaçador o vazio e os perigos inesperados do espaço podem ser.
Considerando o divisivo series finale de The Good Wife, tinha minhas dúvidas se realmente se seria
necessário um spin-off centrado em
Diane Lockhart (Christine Baranski) e Lucca Quinn. Por outro lado, devo
confessar que senti falta o universo criado em The Good Wife, cheio de personagens interessantes e insólitos e ao
escrever sobre a última temporada cheguei a mencionar que queria que os
personagens recorrentes, juízes e outros fossem aproveitados de algum modo.
Qualquer dúvida que eu tinha em relação à série, no entanto, foi dirimida já na
primeira cena do primeiro episódio quando vemos a expressão embasbacada,
incrédula e boquiaberta de Diane ao assistir a posse de Donald Trump como presidente
dos Estados Unidos.
Na trama, Diane deixa a
Lockhart/Gardner para finalmente se aposentar, mas seus planos se desfazem
quando ela descobre que o fundo de investimento no qual estavam suas economias
faziam parte de um grande esquema pirâmide e ela agora está sem nada.
Impossibilitada de retornar à firma que ajudou a construir, ela conta com a
ajuda de Lucca para conseguir emprego em uma nova firma e se reerguer, levando
consigo a afilhada Maia (Rosie Leslie), uma advogada recém-formada cujos pais
eram justamente os banqueiros responsáveis pelo esquema pirâmide.
O ator Adam Sandler já admitiu
mais de uma vez que a escolha dos projetos que faz na sua produtora Happy
Madison é muitas vezes motivada pelo lugar no qual ele queria passar férias com
sua família. Assistindo esse Sandy Wexler,
nova produção da parceria dele com a Netflix, fica a impressão de que seus
motivos para realizar chamar seus amigos de Hollywood para grandes festas e
mandar a conta para a empresa de streaming
sob a desculpa de que estava fazendo um filme.
A trama se passa nos anos 90 e
segue o personagem título Sandy Wexler (Adam Sandler), um agente de talentos de
quinta categoria que tenta se dar bem em Hollywood. Sua sorte parece mudar
quando seu caminho cruza com a cantora Courtney (Jennifer Hudson), sua primeira
cliente realmente talentosa e com potencial para se tornar uma grande estrela. Sandy
acaba se apaixonando por ela, mas percebe que ele talvez não seja o melhor
agente para torná-la famosa.
Sem ritmo, o filme demora a
engrenar, apresentando os vários clientes de Wexler em cenas descoladas da
narrativa principal do filme e que mais parecem esquetes soltas. Mesmo quando
ele e Courtney finalmente se encontram e percebemos que este será o fio
condutor do filme, ainda assim a narrativa insiste em longas interrupções no
fluxo da trama para mostrar esses mesmos clientes repetindo as mesmas situações
que já vimos antes (e que não eram tão engraçadas assim), inchando o filme em
uma longuíssima minutagem de mais de duas horas. Quando ele e Courtney se
separam, imaginamos que o foco irá mudar para o astro de luta livre (Terry
Crews) que ele agencia, mas a cantora volta à sua vida em um completo deus ex machina e mais uma vez vai
embora de modo totalmente gratuito. Aqui e ali o filme nos mostra várias
celebridades em uma grande festa narrando o que acontece com Sandy, na maioria
dos casos as narrações são completamente redundantes, dizendo o que as imagens
já estão nos mostrando, e cuja graça é simplesmente apontar e dizer "olha,
é celebridade x".
O último Persona que joguei foi Persona 2: Eternal Punishment, lá nos
idos tempos do primeiro Playstation e lembro de ter sido atraído pela
ambientação contemporânea (poucos RPGs faziam isso na época) e pelo sistema de
combate por turnos que permitia, entre outras coisas, conversar com os monstros
para obter seus poderes ou mesmo itens e dinheiro. De lá pra cá a franquia
recebeu mais dois jogos e alguns spin-offs
(um de luta, um de dança e um crossover
com Fire Emblem) e eu acabei passando
batido por todos eles, mas assim que vi os primeiros trailers para este Persona 5
fui pego pelo design estiloso das dungeons e personagens, pela nova
mecânica de furtividade e várias outras coisas. Depois de muitos atrasos (o
jogo saiu em setembro de 2016 no Japão) Persona
5 finalmente chega no ocidente e devo dizer que valeu a espera, é um
excelente JRPG e possivelmente um dos melhores jogos do ano.
A narrativa começa quando o
protagonista, que recebe o apelido de Joker, chega a uma nova cidade depois de ser
preso por agressão ao bater em um sujeito que tentava abusar de uma mulher. O
adolescente tenta se adaptar à sua nova escola quando um misterioso app aparece
em seu celular e ele é transportado para um mundo de sombras no qual pode
entrar nos "palácios mentais" das pessoas e invocar o poder de seres
sobrenaturais chamados Personas. Ao lado de outros estudantes e da
criatura-gato Morgana, eles decidem usar suas habilidades para transformar os corações
de malfeitores, invadindo seus palácios e roubando seus tesouros para forçar
uma espécie de "recalibração cognitiva" que os faz se arrependerem
por seus atos. Além de serem ladrões sobrenaturais à noite, os personagens são
estudantes comuns de dia, precisando frequentar aulas e desenvolver amizades
com outros.
Se você não vem acompanhando a
franquia de ação protagonizada por Vin Diesel e carros tunados, saiba que desde
os últimos dois ou três filmes praticamente se tornou uma narrativa de super heróis. Com nenhuma
obrigação em aderir a algum tipo de naturalismo e verossimilhança, os últimos Velozes e Furiosos abraçam sem medo o exagero
e a estupidez e se tornaram melhores e mais divertidos por isso. Esse Velozes e Furiosos 8 não é exceção e
entrega mais uma aventura cheia de excessos e liberdades com o mínimo
funcionamento genuíno do corpo humano que é muito divertida de assistir.
A narrativa começa quando a
misteriosa ciberterrorista Cipher (Charlize Theron) força Dominic Toretto (Vin
Diesel) a colaborar com seus planos e ajudá-la a roubar armas nucleares. Com
Dom contra eles, Letty (Michelle Rodriguez) e o agente Luke Hobbs (Dwayne The
Rock Johnson) acabam recrutando Deckard Shaw (Jason Statham), vilão do filme
anterior, para deterem Dom e Cipher.
Quando uma narrativa permanece
por muito tempo no imaginário popular é inevitável que alguns de seus atributos
comecem a soar datados ou anacrônicos com o passar do tempo. A cultura se
transforma, o olhar sobre certas coisas muda, as preocupações de cada tempo
também. Esse Smurfs e a Vila Perdida
tem como principal gancho a necessidade de atualizar algumas coisas da
mitologia desses personagens e é essa decisão que eleva o filme acima do banal.
A narrativa é focada na
Smurfette, que tenta encontrar seu próprio talento ou habilidade que a torne
única entre os outros smurfs além do fato de ser a única menina da vila. Também
busca um propósito para si, já que diferente dos outros, ela fora originalmente
criada pelo bruxo Gargamel para ajudá-lo a capturar os smurfs, mas acabou se
integrando às criaturinhas. Sua oportunidade vem quando ela descobre que
existem outros smurfs além daqueles que habitam em sua vila e, com o auxílio do
Gênio, do Robusto e do Desastrado, parte para tentar encontrar a vila antes que
o Gargamel o faça.
"Precisamos ser melhores uns com os outros" diz um personagem
em certa altura desta primeira temporada de 13
Reasons Why. Uma frase que sintetiza de forma concisa e sensível todas as
ideias que temporada tenta passar ao longo de seus treze episódios. Há um
ditado que prega que "é preciso uma vila para educar uma criança" e
essa série nos lembra com dureza como também é preciso uma vila para destruir
alguém ao ponto do suicídio. Isso não é algo que vem do nada, tampouco é
meramente uma questão de fraqueza ou covardia, é um processo, existem sinais,
etapas. A questão é que ninguém pensa em como aquilo que dizemos e fazemos pode
impactar o outra.
A trama começa quando Clay (Dylan
Minette) recebe em sua casa um conjunto de fitas cassete aparentemente gravadas
por Hannah (Katherine Langford), sua paixão de escola que recentemente cometeu
suicídio. Ao começar a ouvir, Clay descobre que as fitas são uma espécie de carta
de suicídio na qual ela lista os 13 motivos que teve para tirar a própria vida
e como foi constantemente abusada e magoada pelos colegas.