Colossal é realmente um filme "fora da caixa". Defini-lo
como um "filme de monstro" não só seria incapaz de dar conta do que
ele realmente é como também poderia dar uma impressão errada a seu respeito e
fazer o espectador pensar que está diante de algo como Godzilla (2014) ou Círculo de Fogo (2013), com monstros gigantes destruindo cidades e combates
espetaculares, quando o produto final está longe disso.
Gloria (Anne Hathaway) é uma
mulher desempregada e com tendências alcoólatras, cujo namorado, Tim (Dan
Stevens), não está satisfeito com seu comportamento irresponsável. Tim acaba
colocando-a para fora de seu apartamento e sem ter para onde ir Gloria decide
retornar à sua cidade do interior. Lá ela consegue emprego no bar de Oscar
(Jason Sudeikis), um antigo amigo de infância, mas tudo muda quando um monstro
gigante começa a aparecer e desaparecer misteriosamente na Coreia do Sul e
Gloria vai percebendo aos poucos que ela tem uma ligação com a criatura.
O filme pega uma premissa bem
conhecida "monstro gigante ataca uma cidade oriental" e a desenvolve
da maneira mais esquisita possível. De início parece que a criatura funciona
como uma metáfora para o comportamento autodestrutivo de Gloria, mas conforme a
trama avança, as criaturas vão sendo usadas para revelar os relacionamentos
abusivos com as quais a protagonista se engaja e como seus dois principais
interesses românticos tem mais interesse em controlá-la do que ajudá-la.
Anne Hathaway diverte como a
perdida Gloria, que tenta encontrar um rumo para sua vida e entender o que
acontece entre ela e o monstro sul coreano. As reações dela ao descobrir como
ela e a criatura estão ligadas rendem momentos bem engraçados, assim como as
muitas gags visuais dela tentando ter
uma boa noite de sono e falhando miseravelmente. Já Jason Sudeikis acaba
surpreendendo ao pegar o clichê do "cara gente boa do interior" e aos
poucos vai dando a ele contornos que sugerem uma personalidade mais sombria por
trás dessa fachada, principalmente quando sua baixa autoestima e desprezo que
tem de si mesmo acabam esbarrando em um poder que ele não esperava ter.
É uma pena, no entanto, que,
apesar de sua esquisitice divertida, Colossal
acabe decepcionando um pouco no final ao adotar algumas soluções pouco
críveis. Primeiro que se Gloria estava de fato falida, como ela conseguiu
comprar uma passagem internacional? Além disso, se a solução final era que ela
eliminasse seu opositor, porque ela simplesmente não deu um tiro nele ou algo
assim? Claro, um confronto entre monstros é uma solução visualmente mais
interessante, mas se o filme vai fazê-la viajar para o outro lado do mundo, é
preciso uma motivação melhor do que "o roteiro pede isso para um final
mais espetacular".
O visual das criaturas é
compatível com a esquisitice da própria trama e ainda há um bom uso do som para
denotar a destruição causada pela criatura conforme Gloria e Oscar se
movimentam em um parque, sem que seja preciso mostrar efetivamente as imagens
da destruição.
Colossal encanta e diverte pela sua abordagem pouco convencional a
uma premissa bem familiar, ainda que algumas soluções deixem um pouco a
desejar.
Nota: 7/10
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