Existem muitos filmes e séries
sobre trajetórias de sucesso no ambiente corporativo. Sobre pessoas que não
tinham nada e construíram grandes empresas. A quase totalidade dessas histórias
(como o recente Fome de Poder) é
sobre homens e há poucas que abordam o sucesso de alguma figura feminina. A
primeira temporada de Girlboss, nova
série original da Netflix, chama atenção justamente ao trazer uma história de
sucesso de uma mulher que construiu uma grande empresa do nada.
A trama, levemente (muito
levemente, como a própria série diz) baseada na história real da fundadora da loja
online Nasty Gal, acompanha Sophia (Britt Robertson), uma jovem sem rumo na
vida que percebe que pode capitalizar em cima de seu conhecimento de moda. Ela
compra roupas raras em brechós por valores baixos e então as revende como
artigos vintage a preços altos e aos
poucos consegue um inesperado sucesso em sua atividade.
Além de registrar uma história de
sucesso, é também um relato sobre uma geração, usando Sophia para falar sobre
como os millenials, criados sem
grandes crises políticas ou sociais e educados para acreditarem que são
especiais, são despreparados para a vida adulta. Crendo que o mundo lhes deve
alguma coisa e que seus sonhos lhes serão entregues de bandeja, é uma geração
que não sabe lidar com o fracasso, que desiste ou esperneia sempre que encontra
um obstáculo ou ouve um não.
Esse olhar crítico é quase sempre
tratado com bom humor, mas ainda assim é difícil ter simpatia por Sophia em
muitos momentos da trama. Sempre perdendo o controle e dando chiliques a cada
não que ouve e muitas vezes tratando as pessoas ao seu redor como meras
ferramentas que existem só para servi-la, a garota por vezes soa mais
antipática do que deveria. Eu sei que a série trata também de seu
amadurecimento, mas mais de uma vez parece que ela ganhou uma nova perspectiva
sobre a vida apenas para retornar à sua postura histriônica cada vez que é
contrariada e assim fica a impressão de uma personagem estagnada, que efetivamente não aprende ou não se transforma muito ao longo da temporada. O interesse nela só é mantido pelo carisma que Britt Robertson
traz à garota, bem como um uma energia e otimismo ingênuos (quase que infantis)
que lhe tornam mais divertida e dotada de calor humano do que sua conduta
autocentrada por vezes sugere.
Ao longo dos treze episódios, a
série consegue criar momentos criativamente bem divertidos, como todo o
segmento em que ela corre contra o relógio (com um cronômetro na tela) para
entregar um vestido de casamento a tempo. Ou também o "duelo" entre
sua mente e sua boca quando ela acorda dopada depois de uma cirurgia. Há
algumas soluções visuais que divertem pela criatividade, como o episódio que
mostra o funcionamento de um fórum de internet como se fosse uma mesa redonda.
Quanto à trajetória de Sophia
rumo ao sucesso, tudo segue a cartilha desse tipo de história, como as
tentativas fracassadas, discussões com amigos, surgimento de rivais e superação
de dificuldades. Não tem nada que já não tenhamos visto em outras tramas
similares, mas o olhar bem humorado confere uma leveza e senso de autoironia à
coisa toda.
Girlboss pode ter uma protagonista que por vezes é difícil de
gostar, mas conquista pelo humor e pelo olhar crítico sobre as inaptidões de
uma geração.
Nota: 6/10
Trailer
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