quarta-feira, 12 de abril de 2017

Crítica - Persona 5

Análise Persona 5


Review Persona 5
O último Persona que joguei foi Persona 2: Eternal Punishment, lá nos idos tempos do primeiro Playstation e lembro de ter sido atraído pela ambientação contemporânea (poucos RPGs faziam isso na época) e pelo sistema de combate por turnos que permitia, entre outras coisas, conversar com os monstros para obter seus poderes ou mesmo itens e dinheiro. De lá pra cá a franquia recebeu mais dois jogos e alguns spin-offs (um de luta, um de dança e um crossover com Fire Emblem) e eu acabei passando batido por todos eles, mas assim que vi os primeiros trailers para este Persona 5 fui pego pelo design estiloso das dungeons e personagens, pela nova mecânica de furtividade e várias outras coisas. Depois de muitos atrasos (o jogo saiu em setembro de 2016 no Japão) Persona 5 finalmente chega no ocidente e devo dizer que valeu a espera, é um excelente JRPG e possivelmente um dos melhores jogos do ano.

A narrativa começa quando o protagonista, que recebe o apelido de Joker, chega a uma nova cidade depois de ser preso por agressão ao bater em um sujeito que tentava abusar de uma mulher. O adolescente tenta se adaptar à sua nova escola quando um misterioso app aparece em seu celular e ele é transportado para um mundo de sombras no qual pode entrar nos "palácios mentais" das pessoas e invocar o poder de seres sobrenaturais chamados Personas. Ao lado de outros estudantes e da criatura-gato Morgana, eles decidem usar suas habilidades para transformar os corações de malfeitores, invadindo seus palácios e roubando seus tesouros para forçar uma espécie de "recalibração cognitiva" que os faz se arrependerem por seus atos. Além de serem ladrões sobrenaturais à noite, os personagens são estudantes comuns de dia, precisando frequentar aulas e desenvolver amizades com outros.


A trama é cheia de reviravoltas interessantes e desenvolve bem temas complicados como abuso, traumas psicológicos, corrupção, vigilantismo e o significado de justiça em uma picaresca jornada de amadurecimento. O jogo pode chegar fácil na casa das 100 horas e considerando que provavelmente não é possível fazer todas as atividades e levar ao máximo todos os atributos sociais e amizades em uma única campanha, então há um grande valor de replay com muito a experimentar e descobrir.

Assim como nos dois últimos jogos o gameplay é uma mistura de simulador social (ou social sim) com um RPG tradicional. Durante o dia o jogador tem um número limitado de horas e precisa planejar com cuidado suas atividades, já que cada uma delas fornece benefícios diferentes. Ao longo dos dias é preciso frequentar aulas, interagir com outras pessoas e formar amizades (cada amizade tem níveis que evolui conforme se passa mais tempo com os amigos e subir de nível dá acesso a novas habilidades), trabalhar (para ganhar dinheiro e aumentar atributos), ir ao cinema, ler livros, e muitas outras coisas, cada uma delas com sua devida importância para melhorar o personagem. Até mesmo lavar roupa é importante, já que alguns equipamentos obtidos nas dungeons só podem ser usados depois de lavados. Assim sendo, vaguear pela cidade e descobrir o que ela tem a oferecer e as pessoas que a povoam é tão importante quanto matar monstros e adquirir novas armas.

Quando os personagens entram no mundo sombrio para invadir palácios a jogabilidade passa a ser de um RPG mais tradicional. É preciso explorar o palácio para encontrar o tesouro guardado nele e chegar até lá envolve exploração, resolução de puzzles e confronto com os inimigos. Como os personagens são "ladrões" e estão invadindo o palácio é preciso usar de furtividade, se esgueirando em paredes e outros objetos que ofereçam cobertura, para pegar os adversários desprevenidos. Ser visto aumenta o nível de alerta e se ele chegar a 100% os personagens são expulsos do palácio (e como o jogo acontece ao longo de um número limitado de dias, isso significa um grande prejuízo).

As batalhas são por turnos e além do protagonista é possível levar mais três aliados para os combates. Cada personagem tem suas Personas e cada uma tem seu conjunto de magias, habilidades e afinidades de elemento. Atingir um inimigo com o elemento que ele é vulnerável o deixa temporariamente atordoado e dá ao atacante mais um turno para agir. Atordoar todos os inimigos da batalha leva faz os personagens renderem as criaturas e esse momento pode ser usado para conversas com eles (para obter novas Personas, itens e dinheiro) ou para um devastador ataque conjunto que na maioria das vezes elimina todos. As batalhas contra os chefões dos palácios são bem desafiadoras e muitas delas contam com mecânicas únicas que contribui para que cada um desses embates seja verdadeiramente marcante.

Há um aumento súbito na dificuldade perto do final para o qual o jogo não te prepara, assim como alguns ocasionais subchefes (especialmente em missões secundárias) que são muito mais difíceis que outros inimigos naquele mesmo momento do jogo. Tirando esses momentos de desequilíbrio,  se você domina as mecânicas de combate, sobe de nível constantemente e mantêm seu equipamento atualizado dificilmente terá problemas, caso contrário mesmo os inimigos comuns podem varrer o chão com você (em especial próximo ao fim). O único problema que realmente me incomodou é o fato que se Joker morrer é game over automático, mesmo quando o resto da equipe está com todo o seu HP cheio e com plenas condições de ressuscitá-lo, o que rende momentos frustrantes de recarregar o save e perder um bom pedaço de progresso.

Como já falei no primeiro parágrafo, o jogo é extremamente estiloso visualmente. Dos menus ao detalhado e expressivo design em cel shading dos personagens, passando pelas luzes e ruas das cidades, tudo exala personalidade. Cada palácio também tem seu visual próprio, que espelha como seu dono se vê e vê o mundo. Deste modo, o palácio de um agiota corrupto é um grande banco no qual as pessoas são caixas eletrônicos ambulantes, enquanto que o de um pintor plagiador é uma luxuosa galeria de arte. O visual das criaturas também é muito bem concebido e ao logo da jornada encontramos algumas coisas bem insólitas como um inimigo que é um grande diabo sentado em uma privada e outro que é um enorme pênis esverdeado e cheio de tentáculos em uma carruagem dourada (é sério). Isso sem mencionar as ótimas cenas animadas que pontuam a história. A música é igualmente marcante, misturando pop e acid jazz, que ressaltam desde os momentos mais quietos às extravagantes batalhas contra chefes e criam uma paisagem sonora verdadeiramente marcante.

Persona 5 é uma excelente celebração dos vinte anos da franquia, entregando uma boa narrativa, personagens carismáticos, muita personalidade e um estratégico sistema de combate.


Nota: 9/10


Obs:O jogo está disponível para PS4 e PS3


Trailer


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