Quando uma narrativa permanece
por muito tempo no imaginário popular é inevitável que alguns de seus atributos
comecem a soar datados ou anacrônicos com o passar do tempo. A cultura se
transforma, o olhar sobre certas coisas muda, as preocupações de cada tempo
também. Esse Smurfs e a Vila Perdida
tem como principal gancho a necessidade de atualizar algumas coisas da
mitologia desses personagens e é essa decisão que eleva o filme acima do banal.
A narrativa é focada na
Smurfette, que tenta encontrar seu próprio talento ou habilidade que a torne
única entre os outros smurfs além do fato de ser a única menina da vila. Também
busca um propósito para si, já que diferente dos outros, ela fora originalmente
criada pelo bruxo Gargamel para ajudá-lo a capturar os smurfs, mas acabou se
integrando às criaturinhas. Sua oportunidade vem quando ela descobre que
existem outros smurfs além daqueles que habitam em sua vila e, com o auxílio do
Gênio, do Robusto e do Desastrado, parte para tentar encontrar a vila antes que
o Gargamel o faça.
Sempre definida meramente por seu
gênero e por noções antiquadas ligadas ao feminino, é louvável que o filme
pegue uma personagem que estava ali para só para ser bonitinha e se esforce
para lhe dar uma personalidade. Se antes parecia que a Smurfette parece
encapsular que existia um único modelo ou ideia do que é ser uma garota, aqui o
filme deixa claro que ela é muito mais que seu gênero, tendo seus próprios
talentos, habilidades e personalidade. A decisão de fazer que vila perdida seja
toda composta por smurfs femininas ajuda a reforçar a ideia de que não há um
molde único ao qual todas as mulheres precisam se conformar e que basicamente
toda garota pode ser o que ela quiser. Além disso, o filme também lida com
todas os temas que tratam a maioria dos filmes infantis, como a importância da
amizade e cooperação e o respeito às diferenças, lembrando que todo mundo tem o
seu valor.
As criaturinhas azuis são fofas
como sempre e o vilão Gargamel é divertidamente trapalhão, mas mesmo com o
curto tempo de projeção as gags cômicas
baseadas quase que exclusivamente em um humor físico pastelão começam a soar
cansativas e repetitivas. Falta também ritmo e dinamismo à trama, já que todo o
miolo do filme consiste apenas dos smurfs andando e encontrando algum obstáculo
aleatório pelo caminho, dando a impressão de que o filme não tem material
suficiente para sustentar a duração e precisou forçar a barra para atingir a
minutagem suficiente de um longa metragem.
O design de produção é bem vívido e colorido, investindo na criação
de criaturas exóticas e algumas delas conquistam simplesmente pela fofura, como
o coelho que brilha no escuro. É tudo bem simpático e carismático, ainda que
não tenha nada que chegue a realmente nos deslumbrar (ao menos não a um adulto),
nem entregue algo que nunca tenhamos visto.
Confesso que fui ver esse Smurfs e a Vila Perdida sem esperar
muitas coisa (principalmente considerando o desastre que foram os dois filmes
com atores), mas me surpreendi positivamente com sua verve revisionista, que
usa a Smurfette para lidar com noções de representação feminina, e confere
personalidade a uma personagem que existia apenas para ser bonitinha. A
despeito de suas boas intenções, no entanto, o filme sofre por sua falta de
ritmo e pela repetição de piadas.
Nota: 5/10
Trailer
Eu amo o Smurfette. ❤️ Criados na Bélgica no final dos anos 50, Os Smurfs foram realmente ganhar o mundo três décadas depois, com a realização de uma série animada (1981-1990). Ao longo dos anos, algumas tentativas de levar os personagens para a tela grande foram pensadas, mas quase nenhuma saiu da gaveta. Até que em 2011 nasceu Os Smurfs, que foi seguido por Os Smurfs 2 dois anos depois. Felizmente, a Sony decidiu deixar de lado as caras conhecidas e o cinema de live-action e investir num filme 100% animado. Nasceu assim Os Smurfs e a Vila Perdida. Ingênuo e bem intencionado, o novo longa é superior às tentativas anteriores e tem tudo para funcionar bem com o público infantil. A animação é de boa qualidade e há um trabalho importante na construção de um universo multicolorido, atrativo para olhos mais novos.
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