quinta-feira, 18 de maio de 2017

Crítica - Agents of S.H.I.E.L.D: 4ª Temporada

Análise Agents of S.H.I.E.L.D: 4ª Temporada


Resenha Agents of S.H.I.E.L.D: 4ª Temporada
Terminando com um gancho que apontava uma cisão entre Daisy (Chloe Bennet) e a SHIELD, a terceira temporada mostrava uma evolução do que a série tinha apresentado depois de duas temporadas. O texto a seguir inevitavelmente contem SPOILERS.

Começando no ponto em que a temporada anterior terminou, descobrimos que Daisy deixou a SHIELD para agir por conta própria por não confiar que eles agirão corretamente com os inumanos. A agência retornou a ser um órgão legítimo do governo, mas como Coulson (Clark Gregg) está legalmente morto (vide o que acontece no primeiro Vingadores), ele fica impedido de assumir a direção da nova agência, deixando o cargo para o misterioso Jeffrey Mace (Jason O'Mara), que por trás de sua fachada de bom moço parece esconder alguma coisa. Coulson e Daisy acabam se reencontrando quando ambos entram no rastro do misterioso Motorista Fantasma (Gabriel Luna) e logo descobrem que ele não é um inumano, mas algo mais sombrio.

A adição do Motorista foi o que mais chamou atenção no começo da nova temporada e ele não decepcionou. Gabriel Luna fez de Robbie Reyes um sujeito tomado por arrependimento e raiva de si mesmo por erros do passado, tentando obter alguma medida de redenção através do Espírito da Vingança. Os efeitos especiais que criam o personagem são bem competentes para uma produção televisiva e a brutalidade da criatura se beneficia do novo horário de exibição da série nos EUA, que passou para as 22 horas, permitindo assim mostrar mais sangue e violência. Falando em efeitos visuais, é interessante perceber como os portais dimensionais criados a partir do Tomo Negro (e posteriormente pelo Motorista) são bem similares aos portais criados pelos personagens de Doutor Estranho (2016), mantendo a coesão e a identidade visual do universo compartilhado da Marvel.

A primeira metade da temporada gira em torno da SHIELD tentando ajudar Robbie a encontrar o misterioso volume conhecido como Tomo Negro (Darkhold), que traz um conhecimento proibido sobre como manipular a realidade. Funciona mais pelo desenvolvimento de Robbie e pela inserção do lado místico/mágico da Marvel na série, que vinha se mantendo mais pelo lado da ficção científica. O vilão, por outro lado, acaba se revelando um megalomaníaco genérico.

Em paralelo à busca pelo Tomo Negro, Fitz (Iain De Caestecker) e Radcliffe (John Hannah) tentam esconder dos demais seu projeto dos LMDs (Life Model Decoys) e a androide Ainda (Mallory Jansen), temendo que os companheiros não vejam com bons olhos a criação de uma inteligência artificial. Outro arco que corre concomitantemente é o da senadora intolerante a inumanos que persegue a SHIELD ao descobrir que Mace é aparentemente inumano. Tudo isso acaba convergindo na segunda metade da temporada quando Aida se rebela depois de ler o Tomo Negro e se alia ao líder dos terroristas anti inumanos. Nessa segunda metade a série investe em um clima constante de suspense e tensão, em especial por que não sabemos quem pode ser uma duplicata robótica e o que Aida estaria fazendo com os agentes sequestrados.

A senadora e Ivanov (Zach McGowan), líder do movimento anti inumano, se revelam antagonistas pouco interessantes, mas é Aida que rouba a cena. Mallory Jansen acaba sendo a grande revelação da temporada ao interpretar múltiplos personagens (Aida, Agnes, Ophelia/Madame Hidra e a Aida humana) cada um bem distinto do outro. Aida tem manerismos robóticos e uma serena, mas apática. Em Agnes ela usa seu sotaque australiano nativo e confere a ela um ar de resignação quanto ao seu destino, graças a uma doença grave. Como Madame Hidra ela dá vazão a todo o rancor que Aida sentia por seus criadores por limitarem sua programação. Jensen também é ótima ao construir o senso de confusão e descoberta da Aida humana ao descobrir seus próprios sentimentos e a dificuldade de lidar com a torrente de emoções que lhe toma simultaneamente e acaba sendo uma pena que a narrativa dê tão pouco espaço para a personagem se descobrir, transformando-a rapidamente em uma vilã implacável. Isso, no entanto, é mais um problema de roteiro do que da composição de Jansen.

Outro destaque acaba sendo Iain de Caestecker, em especial na segunda metade da temporada quando os personagens vão parar em uma realidade virtual e vemos uma versão alternativa de Fitz, que é um lacaio da Madame Hidra e um cientista implacável e inescrupuloso. Caestecker convence da frieza e amoralidade dessa versão do personagem, em parte por que seu Fitz original já tinha uma espécie de pragmatismo seco que de fato poderia transformá-lo em alguém amoral caso sua vida tivesse sido diferente (como foi na realidade alternativa). O ator também é eficiente em demonstrar a culpa e o desespero que tomam Fitz quando ele retorna à sua realidade e lembra as atrocidades que cometeu no mundo virtual. Fitz acaba formando uma dupla interessante com Radcliffe, um personagem que não é exatamente um vilão ou antagonista, mas ele é tão focado em conseguir o que quer e tão crente nos benefícios de seu trabalho que acaba abrindo mão de qualquer moralidade e se alia a qualquer um que possa te ajudar a alcançar seus objetivos.

Mack (Henry Simmons), que sempre foi um coadjuvante carismático, (e continua tendo diálogos bem divertidos, como suas referências a O Exterminador do Futuro quando Aida ataca a SHIELD) recebe um pouco mais de atenção conforme a série revela seu passado e a dor que guarda em si pela perda da filha. A importância da filha em sua vida cria um conflito interessante quando ele fica preso na realidade virtual de Aida e ela cria um mundo em que ele nunca a perdeu. Mesmo sabendo que tudo aquilo é falso, Mack se recusa a deixar o lugar, remetendo à ideia de que realidade é aquilo que concebemos como tal e não apenas o que nossa cognição consegue captar. As cenas em que os companheiros, em especial Yo-Yo (Natalia Cordova-Buckley), tentam convencê-lo a deixar a filha e voltar para a realidade são provavelmente as mais emocionantes da temporada.

O diretor Mace acaba sendo subaproveitado, mas Jason O'Mara é eficiente em dar sinais sutis que ele esconde algo por baixo de sua fachada de bom moço e a revelação de seu segredo lhe confere uma inesperada vulnerabilidade, já que ele era movido por seu desejo de ajudar os outros e não por interesses pessoais. Coulson acaba tendo o arco mais fraco da temporada, já que o roteiro insiste em criar um vínculo romântico entre ele e May (Ming-Na Wen) que soa forçado e pouco convincente. Sim, eles passaram por muita coisa juntos e compartilham um laço forte entre eles, mas só porque duas pessoas de sexo oposto trabalham juntos há anos e se importam um com o outro eles precisam obrigatoriamente se apaixonar e se envolver romanticamente? Não fosse a química e o carisma de Gregg e Ming-Na, seria impossível comprar a relação dos dois.

A quarta temporada de Agents of SHIELD acaba entregando mais uma sólida aventura para os espiões da Marvel, misturando misticismo e ficção científica de maneira bastante orgânica ao mesmo tempo em que continua a desenvolver seus personagens (ainda que nem sempre da melhor maneira). O gancho que encerra a temporada ainda indica rumos inesperados para Coulson e sua equipe, certamente se conectando à vindoura série dos Inumanos.


Nota: 8/10

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