Um necrotério parece um ambiente
propício para um filme de terror. É fechado, com poucas janelas e saídas, e é
lotado de cadáveres que muitas vezes morreram de formas horríveis e ainda assim
existem poucas produções do gênero que se confinam neste espaço. A Autópsia faz exatamente isso e nos
lembra como um necrotério e cadáveres humanos podem ser assustadores.
A trama começa quando dois
legistas, Tommy (Brian Cox) e seu filho Austin (Emile Hirsch), recebem a
incumbência de determinarem a causa de morte de uma mulher desconhecida cujo
corpo foi encontrado enterrado no porão de uma casa. Apesar de não possuir
nenhuma marca externa, os legistas descobrem que seus órgãos internos foram
queimados e dilacerados, o que seria virtualmente impossível. Conforme
aprofundam seu exame do cadáver, começam a desconfiar que aquela não foi uma
morte simples.
O filme consegue transitar entre
gêneros de maneira bem eficiente, começando como uma intrigante investigação
médica (pensem em algo nos moldes de House)
e aos poucos vai dando indicativos que há mais em jogo e vai se direcionando
para o reino do sobrenatural de maneira bastante orgânica. O texto é
inteligente ao deixar implícitas as explicações do que está acontecendo, sempre
mantendo uma camada de incerteza e desconhecimento em relação aos fenômenos que
os protagonistas presenciam, afinal o não conhecido e não visto é em geral mais
assustador do que algo que vemos e sabemos como age e o que quer.
As cenas da autópsia propriamente
são mostrados de maneira bem gráfica e detalhada (embora eu não possa atestar a
veracidade médica dos processos, já que sou um leigo na área) e rendem momentos
bem grotescos conforme eles encontram estranhos indícios no corpo da
desconhecida. Confesso que tenho estômago fraco para esse tipo de coisa e as
imagens dos cadáveres sendo abertos e órgãos sendo expostos já funcionaram para
despertar minha tensão e me deixar curioso em relação ao rumo que as coisas iam
tomar.
Ocasionalmente se rende a alguns
sustos gratuitos forçados, como o momento em que Tommy puxa o sino no pé de um
cadáver ou quando Austin ouve um barulho na ventilação apenas para descobrir
ser um gato, mas na maior parte do tempo é eficiente em evocar uma atmosfera de
tensão e incerteza. A câmera, constantemente próxima dos personagens, ajuda a
transmitir o aperto e a claustrofobia daqueles corredores subterrâneos
apertados. A iluminação investe em um contraste bem marcado entre claro e
escuro para dar a impressão de que qualquer coisa pode estar aguardando os
personagens nas sombras, enquanto que o som mistura os acordes sinuosos da
música (situada fora do universo do filme) com os efeitos sonoros da violenta
tempestade que ocorre fora do necrotério e os sons de coisas de movendo,
rangendo e batendo para transmitir a sensação de que algo além dos dois
personagens se move por aqueles corredores. Pode não sair da cartilha
tradicional de recursos usados em filmes de terror, mas é bem executado o
suficiente para funcionar.
A Autópsia é um terror eficiente que instiga pelos caminhos
inesperados que dá a sua trama e pelo modo como se vale do ambiente do
necrotério para criar uma atmosfera genuína de temor.
Nota: 6/10
Trailer
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