terça-feira, 2 de maio de 2017

Crítica - A Autópsia

Análise A Autópsia


Review A Autópsia
Um necrotério parece um ambiente propício para um filme de terror. É fechado, com poucas janelas e saídas, e é lotado de cadáveres que muitas vezes morreram de formas horríveis e ainda assim existem poucas produções do gênero que se confinam neste espaço. A Autópsia faz exatamente isso e nos lembra como um necrotério e cadáveres humanos podem ser assustadores.

A trama começa quando dois legistas, Tommy (Brian Cox) e seu filho Austin (Emile Hirsch), recebem a incumbência de determinarem a causa de morte de uma mulher desconhecida cujo corpo foi encontrado enterrado no porão de uma casa. Apesar de não possuir nenhuma marca externa, os legistas descobrem que seus órgãos internos foram queimados e dilacerados, o que seria virtualmente impossível. Conforme aprofundam seu exame do cadáver, começam a desconfiar que aquela não foi uma morte simples.

O filme consegue transitar entre gêneros de maneira bem eficiente, começando como uma intrigante investigação médica (pensem em algo nos moldes de House) e aos poucos vai dando indicativos que há mais em jogo e vai se direcionando para o reino do sobrenatural de maneira bastante orgânica. O texto é inteligente ao deixar implícitas as explicações do que está acontecendo, sempre mantendo uma camada de incerteza e desconhecimento em relação aos fenômenos que os protagonistas presenciam, afinal o não conhecido e não visto é em geral mais assustador do que algo que vemos e sabemos como age e o que quer.

As cenas da autópsia propriamente são mostrados de maneira bem gráfica e detalhada (embora eu não possa atestar a veracidade médica dos processos, já que sou um leigo na área) e rendem momentos bem grotescos conforme eles encontram estranhos indícios no corpo da desconhecida. Confesso que tenho estômago fraco para esse tipo de coisa e as imagens dos cadáveres sendo abertos e órgãos sendo expostos já funcionaram para despertar minha tensão e me deixar curioso em relação ao rumo que as coisas iam tomar.

Ocasionalmente se rende a alguns sustos gratuitos forçados, como o momento em que Tommy puxa o sino no pé de um cadáver ou quando Austin ouve um barulho na ventilação apenas para descobrir ser um gato, mas na maior parte do tempo é eficiente em evocar uma atmosfera de tensão e incerteza. A câmera, constantemente próxima dos personagens, ajuda a transmitir o aperto e a claustrofobia daqueles corredores subterrâneos apertados. A iluminação investe em um contraste bem marcado entre claro e escuro para dar a impressão de que qualquer coisa pode estar aguardando os personagens nas sombras, enquanto que o som mistura os acordes sinuosos da música (situada fora do universo do filme) com os efeitos sonoros da violenta tempestade que ocorre fora do necrotério e os sons de coisas de movendo, rangendo e batendo para transmitir a sensação de que algo além dos dois personagens se move por aqueles corredores. Pode não sair da cartilha tradicional de recursos usados em filmes de terror, mas é bem executado o suficiente para funcionar.

A Autópsia é um terror eficiente que instiga pelos caminhos inesperados que dá a sua trama e pelo modo como se vale do ambiente do necrotério para criar uma atmosfera genuína de temor.


Nota: 6/10

Trailer

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