quarta-feira, 24 de maio de 2017

Crítica - Flash: 3ª Temporada

Análise Flash Terceira Temporada


Review Flash Season 3
Chegando nessa terceira temporada de Flash, eu torcia para que a série não tivesse a mesma queda de qualidade que Arrow experimentou em seu terceiro ano. As duas primeiras temporadas tinham sido bem bacanas e seria uma pena deixar o nível cair, mas, infelizmente, foi isso que aconteceu. Não chegou a ser algo intragável como a terceira e quarta temporadas de Arrow, mas ainda assim ficou bem aquém do que se esperava da série, principalmente conforme ela se dirigia para abordar de algum modo o arco Ponto de Ignição (Flashpoint) dos quadrinhos. Avisamos que o texto a seguir contem SPOILERS.

A trama começa justamente com Barry (Grant Gustin) impedindo o assassinato da mãe e criando uma nova continuidade na qual ela está viva e ele nunca virou Flash ou conheceu a equipe do Star Labs. Aos poucos ele vai percebendo que cometeu um erro ao alterar o fluxo dos eventos e tenta consertar tudo, mas ao retornar as coisas ao seu devido lugar, percebe que nem tudo foi restaurado. Em seu novo presente ele e Iris nunca ficaram juntos, o irmão de Cisco (Carlos Valdes) está morto e um novo vilão chamado Alquimia está dando poderes àqueles que eram meta-humanos no universo alternativo criado por Barry. Além disso, Alquimia parece estar trabalhando para alguém ainda mais nefasto, o autoproclamado deus da velocidade Savitar.


Repetindo o que já foi feito


Se você esperava que a temporada inteira fosse girar ao redor do Ponto de Ignição, saiba que isso é resolvido praticamente já no primeiro episódio da temporada. Tudo bem que as consequências continuam ao longo dos demais episódios, mas ainda assim parece um grande desperdício de uma das mais memoráveis tramas do Flash nos quadrinhos. Do mesmo modo, ao trazer mais uma vez um vilão principal que é um poderoso velocista que odeia Barry e quer mostrar ao multiverso que é mais o mais rápido, a trama soa como uma reciclagem de tudo que já vimos nas duas temporadas anteriores. A corrida contra o tempo para salvar Iris (Candice Patton) mais uma vez coloca Barry para impedir um evento que pode mudar sua vida para sempre, apenas substituindo a alteração do passado (o assassinato da mãe) pela alteração do futuro, mas novamente soa como uma repetição de elementos familiares.

Os vilões


Não ajuda que o vilão Savitar não tenha conseguido soar interessante durante boa parte da temporada. O seu visual mais parecia um design rejeitado para um filme dos Trasformers e soava como algo que se esforçava demais para nos dizer "olhem pra mim! olhem como sou malvado e poderoso!". A narrativa também demorou demais para explicitar sua motivação, fazendo-o parecer um vilão sem personalidade que apenas queria derrotar o herói, e quando ela finalmente é revelada, uma trama de vingança bem tradicional, soa como algo muito simples que não valia tanto mistério. Alquimia acaba sendo uma oportunidade desperdiçada de trazer um vilão diferente, já que ele é rapidamente estabelecido como um mero servo de Savitar e o segredo sobre sua identidade acaba sendo relativamente óbvio uma vez que Julian (Tom Felton) era o único novo personagem na trama.

A transformação de Caitlin (Danielle Panabaker) na vilã Nevasca, por sua vez, acaba sendo súbita demais, com ela desenvolvendo uma espécie de personalidade alternativa maligna no instante em que recebe seus poderes. Ainda assim oferece conflitos mais interessantes que os de Savitar ao colocar a equipe Flash para enfrentar um dos seus e sem saber exatamente como fazer isso. O fato de estarem enfrentando alguém cuja amizade foi construída ao longo dos dois anos anteriores dava mais peso aos embates com ela, principalmente porque Barry e Cisco ainda hesitavam em usar toda sua força para enfrentá-la e ainda tentavam protegê-la, chegando a ocultar evidências da polícia, por reconhecerem que a amiga ainda estava ali em algum lugar. Inclusive, conforme a história foi chegando ao fim, a narrativa foi oferecendo pequenos vislumbres que a velha Caitlin ainda existia em Nevasca, ajudando a torná-la menos maniqueísta e lhe dando seus próprios dilemas para enfrentar. Chego a pensar que ela renderia uma "vilã de temporada" mais interessante que o genérico e repetitivo Savitar.

Os "vilões da semana" continuam sendo meros pedaços de carne para a Equipe Flash bater e a essa altura eu já devia ter aceitado que é assim que a série opera, mas não deixa de ser desapontador o tratamento raso dado antagonistas como o Mestre dos Espelhos e Abra Kadabra. Ocasionalmente, no entanto, a série consegue criar boas tramas com vilões recorrentes, como o retorno de Grodd e também uma nova aparição do Capitão Frio (Wentworth Miller). Miller sabe usar a medida certa de exagero e canastrice na sua composição de Leonard Snart e acaba fazendo do personagem um antagonista divertido, principalmente por demonstrar que ele nutre um certo respeito pelo Flash.

Os heróis


Grant Gustin é habitualmente carismático como Barry, mas aqui fica limitado por um texto que faz o personagem ficar sorumbático e sisudo durante boa parte da temporada. É compreensível que ele fique preocupado com o futuro dada a sua visão sobre Iris, mas ele se torna quase que outro personagem aqui. Felizmente a série percebe isso e aos poucos vai fazendo o personagem voltar ao otimismo e leveza de antes nos últimos episódios, em especial o episódio em que ele tem amnésia que serve para lembrar que é exatamente essa bondade e olhar positivo que tornam o personagem singular.

Gustin continua exibindo uma ótima química com o restante do elenco, em especial pela relação paternal afetuosa e sincera que tem com Joe (Jesse L. Martin) e sua amizade com Cisco, que é posta à prova quando ele revela que suas ações no Ponto de Ignição causaram a morte do irmão de Cisco. O ator tambpem teve a oportunidade de reviver seus dias na série Glee no divertido episódio musical que serviu de crossover com a Supergirl (Melissa Benoist, que também foi de Glee) na qual os dois heróis são jogados em uma realidade alternativa pelo vilão Music Meister (Darren Criss, igualmente oriundo de Glee).

Quem continua sendo o ponto alto da série é Tom Cavanagh e seus múltiplos personagens, adicionando mais um nesta temporada em H.R, outro Wells do multiverso. Diferente dos outros Wells (Wellses?), no entanto, H.R não é efetivamente um cientista, nem é exatamente um sujeito, mas acaba encontrando sua própria maneira de ajudar o time. Cavanagh é bem eficiente em criar sujeitos distintos, fazendo de H.R alguém mais expansivo e enérgico do que as versões mais sérias e compenetradas de Wells. O personagem acaba construindo uma relação com Cisco que opera no oposto das ele teve com os Wells anteriores. Se antes eram os Wells que tinham algo a ensinar para Cisco, agora é Cisco que precisa ensinar H.R a encontrar seu valor. O arco de H.R acaba sendo justamente esse, o de encontrar um lugar entre aquelas pessoas extraordinárias e se fazer útil para elas, algo que ele leva às últimas consequências no que deve ser um dos momentos mais emocionantes do final dessa temporada.

Iris, por outro lado, é mais uma vez reduzida a um mero objeto de afeto e uma donzela em perigo a ser resgatada, não tendo muito o que fazer ao longo da temporada. O fato de ser ela que dá o golpe de misericórdia no vilão acaba não sendo o suficiente para compensar o papel passivo que ela teve durante toda temporada. Igualmente mal aproveitado é Joe, que fica preso em uma subtrama romântica que pouco acrescenta à série e eventualmente cai no clichê dele tentar terminar com ela para protegê-la dos perigos de sua vida, o que acaba não durando muito. Wally (Keiynan Lonsdale) finalmente ganha seus poderes de Kid Flash, mas se inicialmente a trama aponta que ele será essencial para a derrota de Savitar, com o tempo o personagem acaba deixado de lado e acaba tendo pouco a fazer além do romance apressadamente desenvolvido com Jesse Quick (Violett Beane).

Enquanto isso Tom Felton se mostra uma boa adição ao grupo. Seu Julian inicialmente funciona um colega de trabalho que antagoniza Barry e se tem alguém que sabe interpretar o rival invejoso e amargurado de um herói é o eterno Draco Malfoy de Harry Potter (e como coincidência pouca é bobagem, Julian até se envolve uma busca pela Pedra Filosofal). Eventualmente ele se junta à equipe Flash, formando uma nova dinâmica no grupo pelos seus modos secos e falta de traquejo, além da proximidade crescente com Caitlin. A relação entre ele e Caitlin, por sinal, é bem mais orgânica e crível do que o romance entre a médica de Jay (Teddy Sears) na temporada anterior, já que o trauma de ambos em serem controlados por forças malignas acaba aproximando-os.

O final de temporada


Conforme a temporada foi se aproximando ao fim e as explicações sobre Savitar começaram a aparecer, a narrativa foi perdendo o controle de toda a sua construção sobre viagens no tempo e universos alternativos ao ponto que parecia que qualquer coisa estava valendo e "Força da Aceleração" virou uma muleta narrativa para resolver qualquer coisa de qualquer jeito. Isso inclui o episódio final quando Savitar é impedido de matar Iris e ainda assim não desaparece, tendo algum tempo extra, sabe-se lá porque, antes de ser apagado da existência.

O embate final com Savitar, por outro lado, acabou sendo mais satisfatório que o decepcionante confronto com Zoom na temporada anterior, com Barry, Wally e Jay Garrick (John Wesley Shipp) enfrentando Savitar enquanto Cisco e Cigana (Jessica Camacho) lutavam contra Nevasca. Ainda que ocasionalmente alguns "dublês digitais" soem um pouco artificiais, a série continua a apresentar efeitos especiais relativamente bons para uma produção televisiva, incluindo os personagens completamente computadorizados como Grodd e Tubarão Rei.

Com muita coisa parecendo uma repetição de temporadas anteriores, um vilão desinteressante e muitos personagens mal aproveitados, a terceira temporada de Flash só funciona pelo carisma dos protagonistas e o laço sincero de amizade que vai construindo entre eles. Só resta torcer para que a próxima temporada seja melhor.


Nota: 6/10

Trailer

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