Certos filmes são tão universais em sua temática e conteúdo que você consegue se identificar com ele independente de onde ele esse passa e de onde você esteja. Esse foi o caso de Intocáveis (2011) filme francês que alcançou sucesso ao redor do mundo ao contar a amizade de um homem tetraplégico com seu cuidador, um imigrante argelino. Os temas de superação, amizade e enfrentamento de preconceitos eram elementos que qualquer um no globo, e não apenas os franceses, podiam se identificar e certamente essa capacidade de falar para tantas pessoas está relacionada com o sucesso que obteve. Assim sendo, a ideia de um remake não faz muito sentido, já que não só é um filme relativamente recente, como também é tão universal que não há muito a acrescentar simplesmente transpondo-a para outro país. Ainda assim, é o que este argentino Inseparáveis tenta fazer, sem mencionar que há também um remake hollywoodiano sendo feito a ser estrelado por Bryan Cranston.
A trama é a mesma do original
francês, mas se passando na Argentina. O milionário tetraplégico Felipe (Oscar
Martínez) precisa de um cuidador e acaba contratando o pouco experiente Tito
(Rodrigo De La Serna, de Diários de
Motocicleta) para a função. Obviamente os dois desenvolvem uma grande amizade,
aprendem muito um com outro tal qual o original e praticamente todos os outros
filmes já feitos sobre amizades improváveis.
Muitas cenas são praticamente
recriações das do original francês ao ponto em que o filme simplesmente pede o
sentido de existir, afinal se é para fazer a mesma coisa, para quê fazer um
novo filme? Nos pontos em que desvia simplesmente não funciona. Em parte porque
o filme nunca dá uma razão crível para Felipe ter escolhido contratar Tito no
lugar de todos os outros e o encontro entre os dois parece acontecer por pura
necessidade do roteiro.
A narrativa ainda segue uma
estrutura bem previsível de colocar uma situação em que Tito comete um erro ou
se desentende com o patrão e segui-la com outra na qual tudo se acerta entre
eles. Assim, qualquer conflito ou tensão é diluído porque sabemos que será
resolvido imediatamente depois de ter acontecido, sem sequer dar espaço para os
eventos repercutirem. Investe também em algumas situações clichê, como a cena
em que um sujeito cansa de esperar que seu interesse romântico apareça para o
encontro e vá embora achando que tomou bolo apenas para que ela chegue segundos
depois dele já ter ido embora, fazendo-a pensar que foi ele quem lhe deixou
esperando.
Apesar do filme querer fazer de
Tito um sujeito espontâneo e divertido, na maioria das vezes ele soa como um
sujeito desprezível e desagradável, em especial pelas tentativas de criar
humor, que na maioria das vezes se resumem a colocá-lo para falar palavrões ou
assediar as outras funcionárias da casa de Felipe. O cúmulo disso é a cena em
que ele beija à força a assistente do chefe e a joga em cima da cama contra a
vontade dela e tudo é enquadrado pelo filme como uma piada porque, claro,
assédio é realmente muito engraçado (só que não).
O pior de tudo é quando a trama
tenta explicar o motivo dela não querer nada com ele. Qualquer pessoa com o
mínimo de bom senso imaginaria que é pela maneira inconveniente com a qual ele
a aborda, mas não é isso que acontece. Ela o recusa apenas por ser lésbica e a
conduta de Tito não é posta em questão em momento algum. É apenas quando
descobre a sexualidade da colega de trabalho que ele cessa seus avanços, como
se essa fosse a única razão possível e plausível para recusá-lo e que ele
provavelmente não deixaria de tentar se impor para ela caso as razões fossem
outras. A única subtrama que rende alguns momentos engraçados são as incursões
entre Felipe e Tito pelo mundo da pintura, mas é muito pouco para fazer a
experiência valer a pena.
Inseparáveis acaba sendo uma recriação pálida do original francês,
preguiçosamente reciclando cenas e diálogos, mas esvaziado-os de carisma e
calor humano. Ao invés disso opta por um humor rasteiro e bastante questionável
que na maioria das vezes irrita mais do que faz rir.
Nota: 2/10
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