Há uma máxima da escrita de
roteiro que diz "mostre, não conte". O público não precisa meramente
ser informado do que acontece, mas ver as coisas acontecendo, quer ver
personagens se transformando, evoluindo amadurecendo, formando ou rompendo laços
uns com outros. Este Rei Arthur: A Lenda
da Espada parece ignorar isso ao se apoiar em longas seções de narrações
expositivas que falam e informam, mas não deixa espaço para as coisas serem
vistas.
A trama segue Arthur (Charlie
Hunnam) um órfão criado em um prostíbulo que vê sua vida mudar depois que tira
a lendária Excalibur da pedra em que se encontrava e é reconhecido como real
herdeiro do trono britânico. Obviamente o cruel rei Vortigern (Jude Law) não
aceita muito bem a ideia de que seu sobrinho perdido reapareceu e tem condições
de reclamar o trono.
É a típica "jornada de
herói", com um sujeito aparentemente comum descobrindo um destino
grandioso para si e seu percurso para se tornar esse herói que todos esperam e
salvar o mundo (ou o reino, nesse caso). Isso por si só não é um problema, Star Wars por exemplo consegue remeter a
esses moldes narrativos familiares e ainda assim criar um universo e
personagens interessantes. A questão aqui é a maneira como o filme trabalha
isso.
Boa parte do filme é contada através
de longos diálogos nos quais os personagens relatam algo que aconteceu enquanto
a montagem mostra alguns fragmentos de imagem. Esse excesso de explicação faz a
narrativa soar morosa, já que muito é falado e pouco efetivamente acontece.
Além disso, salta rapidamente por vários períodos de tempo e segmentos que seriam
importantes para o desenvolvimento dos personagens. O segmento de Arthur nas
terras sombrias seria um ótimo momento para nos mostrar o desenvolvimento do
protagonista enquanto aventureiro, mas o filme apenas fala sobre isso e assim nos
nega a evolução do personagem. Em dado momento o filme chega a encadear três
dessas longas narrações seguidas e assim fica parecendo que estamos vendo um
grande resumo de uma história maior, como se o filme condensasse a temporada de
uma série, ao invés de algo propriamente pensado para ser um filme.
O diretor Guy Richie (de Snatch: Porcos e Diamantes e O Agente da UNCLE) traz os diálogos
sarcásticos e bom humor que são bem característicos de sua obra e o ator
Charlie Hunnam tem uma boa química com o resto do elenco, mas como a narrativa
é muito resumida por narrações, a camaradagem entre eles acaba não envolvendo
como deveria. A montagem ágil que também é comum ao diretor também aparece aqui
e embora renda alguns bons momentos, como o segmento que mostra Arthur da
infância até a idade adulta, na maioria das vezes é relegada a essa função de
"fazer resumos" de muita coisa que é narrada e não mostrada.
As cenas de ação por vezes também
são prejudicadas pelo excesso de cortes da montagem. A perseguição pelas ruas da cidade
próximo ao fim que usa até câmeras no corpo dos atores poderia render algo
tenso e enérgico, mas é tão picotada que soa bagunçada e não consegue criar um
coesão espacial clara de quem está aonde e fazendo o quê. Os melhores momentos
são aqueles em que Arthur consegue liberar o poder da Excalibur, revelando as
capacidades sobrenaturais da espada e deixando claro porque ela desperta temor
e cobiça pelo reino.
Charlie Hunnam faz um Arthur um
pouco mais malandro, mas ainda dotado do seu senso de justiça e correção, bem
como sua personalidade pouco afeita a confrontos, mas que se mostra implacável
quando a luta é a única opção que resta. Jude Law, por sua vez, faz de
Vortigern um sujeito inebriado pelo poder e disposto a qualquer coisa para
obtê-lo. Não é exatamente um personagem rico e nas mão de alguém menos
competente poderia descambar para um clichê risível, mas Law lhe confere uma
aura de autoridade e instabilidade que o torna realmente ameaçador. Nesse
sentido é uma pena que no clímax Law seja substituído por uma criatura digital
genérica que parece uma arte conceitual rejeitada para chefão de Dark Souls ou God of War.
Rei Arthur: A Lenda da Espada peca por uma trama superficial e
estrutura excessivamente fragmentada que tira boa parte do humor e da
empolgação trazida pelo protagonista e algumas cenas de ação. Uma pena, o mito
arturiano merecia algo melhor.
Nota: 4/10
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