segunda-feira, 15 de maio de 2017

Crítica - Rei Arthur: A Lenda da Espada

Análise Rei Arthur: A Lenda da Espada


Review Rei Arthur: A Lenda da Espada
Há uma máxima da escrita de roteiro que diz "mostre, não conte". O público não precisa meramente ser informado do que acontece, mas ver as coisas acontecendo, quer ver personagens se transformando, evoluindo amadurecendo, formando ou rompendo laços uns com outros. Este Rei Arthur: A Lenda da Espada parece ignorar isso ao se apoiar em longas seções de narrações expositivas que falam e informam, mas não deixa espaço para as coisas serem vistas.

A trama segue Arthur (Charlie Hunnam) um órfão criado em um prostíbulo que vê sua vida mudar depois que tira a lendária Excalibur da pedra em que se encontrava e é reconhecido como real herdeiro do trono britânico. Obviamente o cruel rei Vortigern (Jude Law) não aceita muito bem a ideia de que seu sobrinho perdido reapareceu e tem condições de reclamar o trono.

É a típica "jornada de herói", com um sujeito aparentemente comum descobrindo um destino grandioso para si e seu percurso para se tornar esse herói que todos esperam e salvar o mundo (ou o reino, nesse caso). Isso por si só não é um problema, Star Wars por exemplo consegue remeter a esses moldes narrativos familiares e ainda assim criar um universo e personagens interessantes. A questão aqui é a maneira como o filme trabalha isso.

Boa parte do filme é contada através de longos diálogos nos quais os personagens relatam algo que aconteceu enquanto a montagem mostra alguns fragmentos de imagem. Esse excesso de explicação faz a narrativa soar morosa, já que muito é falado e pouco efetivamente acontece. Além disso, salta rapidamente por vários períodos de tempo e segmentos que seriam importantes para o desenvolvimento dos personagens. O segmento de Arthur nas terras sombrias seria um ótimo momento para nos mostrar o desenvolvimento do protagonista enquanto aventureiro, mas o filme apenas fala sobre isso e assim nos nega a evolução do personagem. Em dado momento o filme chega a encadear três dessas longas narrações seguidas e assim fica parecendo que estamos vendo um grande resumo de uma história maior, como se o filme condensasse a temporada de uma série, ao invés de algo propriamente pensado para ser um filme.

O diretor Guy Richie (de Snatch: Porcos e Diamantes e O Agente da UNCLE) traz os diálogos sarcásticos e bom humor que são bem característicos de sua obra e o ator Charlie Hunnam tem uma boa química com o resto do elenco, mas como a narrativa é muito resumida por narrações, a camaradagem entre eles acaba não envolvendo como deveria. A montagem ágil que também é comum ao diretor também aparece aqui e embora renda alguns bons momentos, como o segmento que mostra Arthur da infância até a idade adulta, na maioria das vezes é relegada a essa função de "fazer resumos" de muita coisa que é narrada e não mostrada.

As cenas de ação por vezes também são prejudicadas pelo excesso de cortes da montagem. A perseguição pelas ruas da cidade próximo ao fim que usa até câmeras no corpo dos atores poderia render algo tenso e enérgico, mas é tão picotada que soa bagunçada e não consegue criar um coesão espacial clara de quem está aonde e fazendo o quê. Os melhores momentos são aqueles em que Arthur consegue liberar o poder da Excalibur, revelando as capacidades sobrenaturais da espada e deixando claro porque ela desperta temor e cobiça pelo reino.

Charlie Hunnam faz um Arthur um pouco mais malandro, mas ainda dotado do seu senso de justiça e correção, bem como sua personalidade pouco afeita a confrontos, mas que se mostra implacável quando a luta é a única opção que resta. Jude Law, por sua vez, faz de Vortigern um sujeito inebriado pelo poder e disposto a qualquer coisa para obtê-lo. Não é exatamente um personagem rico e nas mão de alguém menos competente poderia descambar para um clichê risível, mas Law lhe confere uma aura de autoridade e instabilidade que o torna realmente ameaçador. Nesse sentido é uma pena que no clímax Law seja substituído por uma criatura digital genérica que parece uma arte conceitual rejeitada para chefão de Dark Souls ou God of War.

Rei Arthur: A Lenda da Espada peca por uma trama superficial e estrutura excessivamente fragmentada que tira boa parte do humor e da empolgação trazida pelo protagonista e algumas cenas de ação. Uma pena, o mito arturiano merecia algo melhor.


Nota: 4/10

Trailer

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