A quarta temporada de House of Cards encerrava com Frank
(Kevin Spacey) e Claire (Robin Wright) anunciando que o país estava
oficialmente entrando em estado de guerra contra o terrorismo. Ficava claro que
eles estavam usando aquilo para usar o medo da população em seu favor e obter
ainda mais poder e controle. A nova temporada lida com as consequências dessa
decisão e também no modo como os desmandos e truculência de Frank desgastaram
seu capital político.
Depois dos eventos da temporada
anterior, Frank pede à Câmara uma declaração formal de guerra contra o grupo
terrorista que agiu dentro dos Estados Unidos e matou uma pessoa, mas seus
opositores percebem que a guerra é meramente uma manobra para tirar a atenção
das denúncias contra ele feitas pelo jornalista Tom Hammerschmidt (Boris
McGiver). Ao mesmo tempo, precisa lidar com a ascensão de seu oponente nas
eleições presidenciais, o jovem governador Will Conway (Joel Kinnaman).
A trama mostra como um governo
usa da máscara de combate ao terrorismo para estabelecer um estado de
vigilância constante que tem menos a ver com a proteção da população e mais com
criar brechas para se poder passar livremente por cima da constituição e manter
o poder. Uma vez que o medo é disseminado, o governo pode livremente fabricar
ameaças para manter a população sob controle e manipular qualquer evento a seu
favor, incluindo uma eleição, como Frank faz aqui.
Através de suas falas diretas ao
público Frank revela as fragilidades da democracia e como é fácil para alguém
sem escrúpulos moldá-la como bem entende, como fica evidente por sua decisão de
afundar o país no caos e na incerteza ao sabotar o processo eleitoral e levar
tudo para uma decisão indireta da Câmara e do Senado. Por mais que ele seja
moralmente desprezível e suas ações sejam assustadoramente próximas da política
do mundo real, é difícil não admirar a inteligência do personagem em manipular
o sistema.
Se na temporada anterior o
governador Conway se mostrou um oponente digno de Frank, aqui ele acaba
perdendo essa aura de ameaça conforme a trama aborda um estresse pós-traumático
que nunca tinha citado antes, fazendo-o ser facilmente derrotado. Por outro
lado, a série introduz dois novos operadores políticos, Mark Usher (Campbell
Scott) e Jane Davis (Patricia Clarkson), que se aproximam dos Underwoods sob a
promessa de ajudá-los, mas aos poucos vamos percebendo que eles tem suas
próprias agendas. Ambíguos e escorregadios, Mark e Jane soam como ameaças mais
críveis ao casal, já nunca nos dão a certeza se estão querendo ajudá-los ou
sabotá-los.
As tensões aumentam conforme a
trama se aproxima do fim e a delação de um ex-presidente deixa Frank
encurralado, obrigando-o a cuidar de qualquer maneira daqueles que o ameaçam,
incluindo um instante em que ele evoca a vilã Nazaré Tedesco para se dar cabo
de uma ministra que estava prestes a denunciá-lo. A revelação do plano dele e
de Doug (Michael Kelly) ao fim soa um pouco mirabolante demais, já que algumas
coisas e resultados não eram tão facilmente previsíveis, mas funciona ao deixar
um gancho para uma nova dinâmica entre Frank e Claire. A temporada anterior já
tinha demonstrado que ela estaria disposta a passar por cima do marido para
conseguir o que quer e o desfecho dessa temporada literalmente a coloca no
lugar de Frank ao encerrar com ela se dirigindo à câmera (e ao público) ao
invés do marido.
House of Cards continua com a mesma escrita afiada ao mostrar os
implacáveis bastidores da política, apresentando novos desafios a seus
personagens e sugerindo uma instigante mudança no equilíbrio de poder nas
temporadas vindouras. Os eventos políticos do mundo real em 2017 pareciam fazer uma concorrência desleal com a série, mas ela se mostrou à altura do desafio.
Nota: 7/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário