quinta-feira, 1 de junho de 2017

Crítica - House of Cards: 5ª Temporada

Análise House of Cards: 5ª Temporada


Review House of Cards: 5ª Temporada
A quarta temporada de House of Cards encerrava com Frank (Kevin Spacey) e Claire (Robin Wright) anunciando que o país estava oficialmente entrando em estado de guerra contra o terrorismo. Ficava claro que eles estavam usando aquilo para usar o medo da população em seu favor e obter ainda mais poder e controle. A nova temporada lida com as consequências dessa decisão e também no modo como os desmandos e truculência de Frank desgastaram seu capital político.

Depois dos eventos da temporada anterior, Frank pede à Câmara uma declaração formal de guerra contra o grupo terrorista que agiu dentro dos Estados Unidos e matou uma pessoa, mas seus opositores percebem que a guerra é meramente uma manobra para tirar a atenção das denúncias contra ele feitas pelo jornalista Tom Hammerschmidt (Boris McGiver). Ao mesmo tempo, precisa lidar com a ascensão de seu oponente nas eleições presidenciais, o jovem governador Will Conway (Joel Kinnaman).

A trama mostra como um governo usa da máscara de combate ao terrorismo para estabelecer um estado de vigilância constante que tem menos a ver com a proteção da população e mais com criar brechas para se poder passar livremente por cima da constituição e manter o poder. Uma vez que o medo é disseminado, o governo pode livremente fabricar ameaças para manter a população sob controle e manipular qualquer evento a seu favor, incluindo uma eleição, como Frank faz aqui.

Através de suas falas diretas ao público Frank revela as fragilidades da democracia e como é fácil para alguém sem escrúpulos moldá-la como bem entende, como fica evidente por sua decisão de afundar o país no caos e na incerteza ao sabotar o processo eleitoral e levar tudo para uma decisão indireta da Câmara e do Senado. Por mais que ele seja moralmente desprezível e suas ações sejam assustadoramente próximas da política do mundo real, é difícil não admirar a inteligência do personagem em manipular o sistema.

Se na temporada anterior o governador Conway se mostrou um oponente digno de Frank, aqui ele acaba perdendo essa aura de ameaça conforme a trama aborda um estresse pós-traumático que nunca tinha citado antes, fazendo-o ser facilmente derrotado. Por outro lado, a série introduz dois novos operadores políticos, Mark Usher (Campbell Scott) e Jane Davis (Patricia Clarkson), que se aproximam dos Underwoods sob a promessa de ajudá-los, mas aos poucos vamos percebendo que eles tem suas próprias agendas. Ambíguos e escorregadios, Mark e Jane soam como ameaças mais críveis ao casal, já nunca nos dão a certeza se estão querendo ajudá-los ou sabotá-los.

As tensões aumentam conforme a trama se aproxima do fim e a delação de um ex-presidente deixa Frank encurralado, obrigando-o a cuidar de qualquer maneira daqueles que o ameaçam, incluindo um instante em que ele evoca a vilã Nazaré Tedesco para se dar cabo de uma ministra que estava prestes a denunciá-lo. A revelação do plano dele e de Doug (Michael Kelly) ao fim soa um pouco mirabolante demais, já que algumas coisas e resultados não eram tão facilmente previsíveis, mas funciona ao deixar um gancho para uma nova dinâmica entre Frank e Claire. A temporada anterior já tinha demonstrado que ela estaria disposta a passar por cima do marido para conseguir o que quer e o desfecho dessa temporada literalmente a coloca no lugar de Frank ao encerrar com ela se dirigindo à câmera (e ao público) ao invés do marido.

House of Cards continua com a mesma escrita afiada ao mostrar os implacáveis bastidores da política, apresentando novos desafios a seus personagens e sugerindo uma instigante mudança no equilíbrio de poder nas temporadas vindouras. Os eventos políticos do mundo real em 2017 pareciam fazer uma concorrência desleal com a série, mas ela se mostrou à altura do desafio.


Nota: 7/10

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