Confesso que fui pego de surpresa
com o anúncio de que a Netflix faria uma série animada baseada na famosa série
de games Castlevania e me aproximei
dessa primeira temporada sem saber o que esperar. O resultado me surpreendeu
positivamente pela construção de um universo implacável e por não economizar na
violência.
A trama se passa na Valáquia (uma
região que hoje faz parte da Romênia) do século XV. O conde Vlad Drácula Tepes
(voz de Graham McTavish) se apaixona por uma mulher humana e decide viver ao
lado dela como humano. Durante uma de suas viagens, sua esposa acaba capturada
pela Igreja e queimada como bruxa por acharem que seu conhecimento científico
era feitiçaria. Isso desperta a ira de Drácula, que decide convocar um exército
de demônios para eliminar a raça humana. O único que talvez possa impedi-lo é
Trevor Belmont (voz de Richard Armitage), o último de uma linhagem de caçadores
de monstros que agora vagueia a esmo pela Valáquia depois que sua família
perdeu tudo e foi considerada herege pela Igreja.
Apesar de aparecer pouco, a trama
consegue dar uma motivação convincente ao Drácula, fazendo do personagem uma
figura marcada pela tragédia e que inevitavelmente viu o pior da humanidade
apesar de suas tentativas de ver algo de positivo em nossa espécie. A jornada
do vilão de algum modo espelha a do herói, já que assim como o vampiro, Trevor
Belmont também perdeu tudo graças à intolerância e o ódio das pessoas.
O visual dos ambientes e dos
personagens remete com fidelidade ao estilo dos jogos que muitas vezes combinam
uma estética gótica medieval com visuais típicos de anime como os cabelos pouco
práticos e espetados dos personagens. A Valáquia da trama é apresentada como um
lugar hostil, com a população local literalmente entre a cruz e a espada, tendo
que lidar tanto com a opressão e repressão da Igreja quanto com os demônios,
criando um clima de ameaça constante.
A trama demora um pouco de
engrenar, com os dois primeiros episódios servindo como uma grande apresentação
de como aquele universo funciona e quem são aqueles personagens para só então
mover efetivamente a trama adiante de modo significativo. Quando a coisa pega
ritmo, embarca sem medo naquilo que os fãs do jogo estão acostumados, lutas
contra demônios e catacumbas cheias de armadilhas.
As cenas de ação remetem a
elementos dos jogos como o uso de água benta para eliminar os monstros e o fato
do chicote de Belmont fazer as criaturas explodirem (a narrativa explica isso),
rendendo alguns embates empolgantes, especialmente a luta entre Trevor e
Alucard (James Callis). Elas também não economizam na violência, não exibindo
nenhum pudor em mostrar sangue, desmembramentos e tripas voando para todos os
lados conforme os demônios dilaceram os seres humanos. Ocasionalmente, no
entanto, os movimentos dos personagens parecem um pouco truncados durante os
combates, como se faltassem alguns quadros de animação para fazerem sua
movimentação parecer devidamente fluida.
Outra questão é a inconstância
dos sotaques dos personagens. Como a trama se passa em uma única região e todos
são do mesmo lugar é um pouco esquisito que muitos falem em um claríssimo
sotaque britânico enquanto outros tenham um forte sotaque de leste europeu.
Apesar desse incômodo, o trabalho de voz tende a ser convincente, com destaque para a
composição de Richard Armitage como Trevor, adotando uma dicção levemente
arrastada e embolada para denotar o constante estado alcoólico do caçador de
vampiros.
Assim, a despeito de alguns
problemas, a primeira temporada de Castlevania
serve como um começo promissor para a saga de Trevor Belmont, estabelecendo o
universo e os personagens para os conflitos que estão por vir.
Nota: 7/10
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